São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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SÃO PAULO

Pesquisa mostra que há municípios em que o acúmulo de riqueza não se reflete em avanço em indicadores sociais

Estudo revela as cidades "injustas" de SP

SANDRA BRASIL
THOMAS TRAUMANN

DA REPORTAGEM LOCAL

Estudo inédito da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) identificou, pela primeira vez, as cidades paulistas socialmente "injustas". Elas são ricas, mas isso não converte em melhoria das condições de educação e saúde da população.
Comparando dados entre 1992 e 97, o trabalho revela que 50 municípios que estão entre os mais ricos do Estado têm índices de escolaridade e expectativa de vida medianos ou abaixo da média regional. Aproximadamente 4,8 milhões de habitantes moram nesses municípios.
A pesquisa encontrou três tipos de municípios em que a riqueza de seus moradores ou de suas indústrias não é traduzida em investimento social.
No primeiro grupo estão as cidades onde se localizam os condomínios fechados de alta renda, como Barueri e Cotia. No segundo, pólos turísticos como Guarujá e Campos do Jordão. No terceiro caso estão os municípios industriais como Cubatão, Guarulhos e Diadema.
A pesquisa do Seade foi encomendada pela Assembléia Legislativa e levou um ano e meio para ser produzida. O indicador foi transformado em lei estadual que será sancionada em solenidade amanhã com o nome de IPRS (Índice Paulista de Responsabilidade Social). As prefeituras serão obrigadas a enviar dados ao Seade para a elaboração do IPRS a cada dois anos.
"Além de fazer um raio X da situação econômica e social dos municípios, o índice poderá ser usado para avaliar a atuação dos novos prefeitos", afirmou o presidente da Assembléia Legislativa, Vanderlei Macris (PSDB).
O IPRS é inspirado no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), formulado pela Organização das Nações Unidas e, no Brasil, de responsabilidade do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão do governo federal).

"Saudáveis"
Os técnicos do Seade compararam 26 indicadores dos anos 90 dos 645 municípios paulistas. Ao final, classificaram as cidades em cinco grandes agrupamentos, combinando indicadores de riqueza, educação e expectativa de vida (veja quadro).
Em oposição aos municípios "injustos", os técnicos descobriram cidades pobres, mas com estatísticas médias ou acima da média de escolaridade e longevidade. Foram batizadas de cidades "saudáveis". São 254 municípios onde moram 3,8 milhões de pessoas, a maior parte na região oeste.
Ainda há discussões sobre os motivos da concentração geográfica do grupo dos municípios "saudáveis".
"Uma das hipóteses que levantamos é o fato de que, na região oeste, há um histórico de escolaridade das mães ser acima da média estadual. Isso influencia na baixa mortalidade infantil e nos bons índices de escolaridade", argumentou a diretora-adjunta de Análise Sociecônomica do Seade, Felícia Reicher Madeira.

Divisão do bolo
Em Santa Bárbara do Oeste, por exemplo, o indicador de riqueza está abaixo da média estadual. Em compensação, as variantes de expectativa de vida são superiores às de São Paulo e Ribeirão Preto. O dado de escolaridade de Santa Bárbara é igual ao de Limeira.
"Esse grupo de municípios saudáveis contraria a velha tese de que é preciso esperar o bolo da riqueza crescer para só depois distribuir a renda. É possível fazer políticas sociais em municípios pobres", analisou o consultor do Seade Haroldo da Gama Torres.
Um dos exemplos dessa avaliação é a comparação entre Ribeira e Ribeirão Branco, ambas no sudoeste do Estado. A primeira é mais pobre, mas tem índices educacionais superiores à segunda.
Em compensação, a pesquisa descobriu que Campos do Jordão e Praia Grande, que ficaram entre as 23 cidades que mais enriqueceram desde 1992 no Estado de São Paulo, mantêm indicadores de educação e saúde sofríveis.

Topo e base
No topo do trabalho do Seade estão 84 municípios onde há altos índices de desenvolvimento econômico e social. Concentram pouco mais de 60% da população (21 milhão de habitantes) por englobar as principais cidades do Estado, como São Paulo, Campinas, São José dos Campos, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto.
Na faixa intermediária estão três grupos: os "injustos", os "saudáveis" e um último, que reúne 163 municípios com um total de 2,9 milhões de moradores.
São cidades como São Vicente, pouco desenvolvidas mas com alguns indicadores sociais médios.
Na base, onde há pobreza e baixas escolaridade e longevidade, estão 94 municípios (1,7 milhão de habitantes). No geral, são cidades pequenas concentradas no Vale do Ribeira (sul do Estado).

Ranking
O estudo do Seade também permitiu a criação de um ranking estadual de desempenho. Santana de Parnaíba é a cidade com melhor índice de riqueza, seguida de São Sebastião e Barueri.
Floreal é a campeã de longevidade, à frente de Mesópolis e São João do Pau d'Alho. Águas de São Pedro foi a que teve melhor resultado em escolaridade, seguida de São Caetano do Sul e Santos.


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