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São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

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Contra CPI, PMDB acerta com PT

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), teve ontem três encontros pessoais com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Disse que a bancada peemedebista é contra a instalação de uma CPI para apurar os grampos telefônicos ilegais na Bahia.
Temer saiu das reuniões com João Paulo certo de que a CPI não vai sair. O PT entendeu o recado. Sabe que uma investigação ampla sobre as escutas clandestinas não prejudicaria apenas o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), acusado de ser o mentor da operação. Também teriam de ser investigados, entre outros, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que fala sobre liberação de verbas em algumas supostas gravações de conversas cuja transcrição circula em Brasília.
Com 70 deputados, o PMDB tem sido apontado como um aliado essencial ao PT na votação de reformas constitucionais. Uma eventual CPI do grampo prejudicaria a aproximação dos peemedebistas com o governo, pois Geddel Vieira Lima é um dos principais dirigentes da sigla -mesmo que as conversas nada revelem, é sempre desgastante para um deputado ser apontado como acusado de algum ilícito.
O deputado federal Raul Jungmann (PMDB-PE) declarou no fim de semana que estaria coletando assinaturas para a instalação de uma CPI do grampo. Foi desautorizado ontem por Michel Temer. "Ele apenas me procurou para dizer. Mas eu não autorizei nada. Não acho que seja o melhor caminho", disse ontem Michel Temer ao sair da sessão de abertura do Congresso.

Discurso oficial
O discurso oficial dos governistas e do PMDB foi repetido ontem várias vezes pelo presidente nacional do PT, José Genoino.
"Uma CPI seria um caminho mais longo, desnecessário. Se houver uma prova da autoria do grampo, instala-se um processo na Comissão de Ética no Senado contra o autor", disse Genoino.
"Eu não tenho falado contra a CPI, mas acho que o argumento do Genoino é ponderado", diz Geddel Vieira Lima.
Genoino sempre faz uma ressalva a respeito de não ser contra, por princípio, a uma comissão parlamentar de inquérito. Só acha que no caso da eventual punição de ACM o caminho mais rápido é a Comissão de Ética -que terá de ocorrer, mesmo depois de uma CPI instalada.
"Estou aqui no Congresso há muito tempo. Não posso ser ingênuo. Uma CPI tornaria o processo mais complicado. A Polícia Federal está fazendo uma ótima investigação e logo será possível ter evidências sobre a autoria do grampo, que é um crime muito maior do que o conteúdo das conversas", afirma o presidente nacional do PT.
Se não houver uma CPI, será necessário que apareça alguma prova contundente sobre a autoria dos grampos. No Congresso, os suspeitos principais são ACM e o senador César Borges (PFL-BA), que foi governador da Bahia durante um período em que se deram as gravações ilegais.
Embora Genoino diga que a PF faz uma "ótima investigação", segundo a Folha apurou, dentro do governo ainda é considerado incerto o aparecimento de uma prova definitiva da participação de ACM ou de César Borges.
Nesse caso, um processo na Comissão de Ética no Senado poderia resultar inócuo.
Antônio Carlos Magalhães e César Borges não seriam punidos -exceto se houvesse uma decisão política para forçar uma punição. Também não haveria uma CPI e o conteúdo dos grampos ficaria sem explicação.
Em troca, o governo teria a gratidão do PMDB e do PFL carlista, pois todos estariam poupados.


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