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Contra CPI, PMDB acerta com PT
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente nacional do
PMDB, deputado Michel Temer
(SP), teve ontem três encontros
pessoais com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).
Disse que a bancada peemedebista é contra a instalação de uma
CPI para apurar os grampos telefônicos ilegais na Bahia.
Temer saiu das reuniões com
João Paulo certo de que a CPI não
vai sair. O PT entendeu o recado.
Sabe que uma investigação ampla
sobre as escutas clandestinas não
prejudicaria apenas o senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), acusado de ser o mentor da
operação. Também teriam de ser
investigados, entre outros, o deputado Geddel Vieira Lima
(PMDB-BA), que fala sobre liberação de verbas em algumas supostas gravações de conversas cuja transcrição circula em Brasília.
Com 70 deputados, o PMDB
tem sido apontado como um aliado essencial ao PT na votação de
reformas constitucionais. Uma
eventual CPI do grampo prejudicaria a aproximação dos peemedebistas com o governo, pois
Geddel Vieira Lima é um dos
principais dirigentes da sigla
-mesmo que as conversas nada
revelem, é sempre desgastante para um deputado ser apontado como acusado de algum ilícito.
O deputado federal Raul Jungmann (PMDB-PE) declarou no
fim de semana que estaria coletando assinaturas para a instalação de uma CPI do grampo. Foi
desautorizado ontem por Michel
Temer. "Ele apenas me procurou
para dizer. Mas eu não autorizei
nada. Não acho que seja o melhor
caminho", disse ontem Michel
Temer ao sair da sessão de abertura do Congresso.
Discurso oficial
O discurso oficial dos governistas e do PMDB foi repetido ontem
várias vezes pelo presidente nacional do PT, José Genoino.
"Uma CPI seria um caminho
mais longo, desnecessário. Se
houver uma prova da autoria do
grampo, instala-se um processo
na Comissão de Ética no Senado
contra o autor", disse Genoino.
"Eu não tenho falado contra a
CPI, mas acho que o argumento
do Genoino é ponderado", diz
Geddel Vieira Lima.
Genoino sempre faz uma ressalva a respeito de não ser contra,
por princípio, a uma comissão
parlamentar de inquérito. Só acha
que no caso da eventual punição
de ACM o caminho mais rápido é
a Comissão de Ética -que terá de
ocorrer, mesmo depois de uma
CPI instalada.
"Estou aqui no Congresso há
muito tempo. Não posso ser ingênuo. Uma CPI tornaria o processo
mais complicado. A Polícia Federal está fazendo uma ótima investigação e logo será possível ter evidências sobre a autoria do grampo, que é um crime muito maior
do que o conteúdo das conversas", afirma o presidente nacional
do PT.
Se não houver uma CPI, será necessário que apareça alguma prova contundente sobre a autoria
dos grampos. No Congresso, os
suspeitos principais são ACM e o
senador César Borges (PFL-BA),
que foi governador da Bahia durante um período em que se deram as gravações ilegais.
Embora Genoino diga que a PF
faz uma "ótima investigação", segundo a Folha apurou, dentro do
governo ainda é considerado incerto o aparecimento de uma prova definitiva da participação de
ACM ou de César Borges.
Nesse caso, um processo na Comissão de Ética no Senado poderia resultar inócuo.
Antônio Carlos Magalhães e César Borges não seriam punidos
-exceto se houvesse uma decisão política para forçar uma punição. Também não haveria uma
CPI e o conteúdo dos grampos ficaria sem explicação.
Em troca, o governo teria a gratidão do PMDB e do PFL carlista,
pois todos estariam poupados.
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