|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BAHIAGATE
Senador tenta evitar que Congresso investigue grampos telefônicos
Sob pressão, ACM renuncia à presidência de comissão
Lula Marques/Folha Imagem
|
ACM na reabertura do Congresso, atrás de Roseana Sarney (PFL) e ao lado de César Borges (PFL) |
RAQUEL ULHÔA
MÁRCIO PACELLI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) renunciou à
candidatura a presidente da CCJ
(Comissão de Constituição e Justiça) do Senado numa tentativa de
reduzir as pressões no Congresso
por uma investigação política dos
grampos telefônicos da Bahia.
Acuado por acusações de ser
mandante da escuta ilegal de adversários políticos e pessoas ligadas a ele, ACM disse que abriria
mão da CCJ para não constranger
seu partido e o Senado.
A decisão foi tomada após líderes do PT se comprometerem a
barrar iniciativas de congressistas
do partido pela criação de uma
CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) ou por uma representação ao Conselho de Ética do Senado com o objetivo de apurar o
suposto envolvimento de ACM
com o grampo.
O Palácio do Planalto também
agiu para tentar abafar o escândalo. O ministro José Dirceu (Casa
Civil) esteve com o presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Deixou clara a preocupação do
governo com a possibilidade de
uma investigação no Congresso
atrapalhar o andamento das reformas constitucionais.
O discurso dos aliados de ACM
é que a investigação deve ficar por
conta do Ministério Público e da
Polícia Federal. E, apenas se surgirem indícios que levem ao senador baiano, o caso deve ser levado
Congresso.
"Tudo o que diz respeito à parte
criminal é do STF (Supremo Tribunal Federal). Não podemos nos
antecipar. A competência não é
nossa", disse Sarney.
O conselho de Sarney para que
ACM renunciasse pesou na decisão, assim como as ponderações
do líder do PFL, José Agripino
(RN), que teve conversas com os
líderes do governo no Senado,
Aloizio Mercadante (PT-SP), e do
PT na Casa, Tião Viana (AC).
Também consultou pefelistas de
peso, como os senadores Jorge
Bornhausen (SC), presidente do
partido, e Marco Maciel (PE).
ACM não escondeu o abatimento. Anunciou sua renúncia à
CCJ com um pronunciamento rápido e não quis responder a perguntas. "Eu não quero criar constrangimentos a ninguém. A apuração de tudo isso vai demonstrar
que eu sou uma vítima e não um
réu", afirmou ACM. Seguindo sugestão de Agripino, mostrou especial preocupação com os traumas vividos pelo Senado nos últimos anos. "Eu não desejo que o
Senado se diminua por isso."
O senador baiano renunciou ao
mandato anterior em 2001 para
escapar de um processo por quebra de decoro, que poderia levar à
sua cassação. A acusação era o envolvimento com a violação do
painel eletrônico da Casa na sessão que resultou na cassação do
ex-senador Luiz Estevão (ex-PMDB-DF).
Coube ao próprio ACM escolher e anunciar o senador Edison
Lobão (MA) como seu substituto
na presidência da CCJ, atribuição
reservada ao líder. De acordo com
Agripino, foi uma demonstração
de que o senador baiano está
prestigiado pelo PFL.
Lobão saiu em defesa de ACM.
"Não há como levar o caso para o
Conselho de Ética e muito menos
para uma CPI, se tem uma investigação policial em curso. Seria
um prejulgamento", disse. O
baiano não assume a presidência,
mas será integrante da CCJ.
Antes da renúncia de ACM, tucanos e peemedebistas estavam
cautelosos com o assunto. Os líderes do PMDB, Renan Calheiros
(AL), e do PSDB, Arthur Virgílio
(AM), se manifestaram contra
uma investigação do Senado e
não contestaram a indicação de
ACM para a CCJ.
A voz dissonante veio exatamente da base governista: os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP)
e Jefferson Péres (PDT-AM) disseram, que ele não deveria assumir enquanto durassem as investigações policiais.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Contra CPI, PMDB acerta com PT Índice
|