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São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

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BAHIAGATE

A Sarney, Dirceu disse que governo não ajudaria a eleger senador para CCJ

Planalto desiste de apoiar ACM para evitar desgaste

Sergio Lima/Folha Imagem
O presidente do Senado, José Sarney, durante a sessão de abertura dos trabalhos no Congresso


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro José Dirceu (Casa Civil) reuniu-se ontem por volta do meio-dia com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para afirmar que o governo decidira lavar as mãos em relação ao destino do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e que isso incluía não ajudar a elegê-lo presidente da CCJ.
Sarney levou o recado a ACM, que, horas depois, renunciaria à candidatura para presidir uma das comissões mais poderosas do Senado. Dirceu, articulador político de Lula e a face dura do governo, deixou seu gabinete no Planalto e foi ao de Sarney, no Senado. A conversa durou só 15 minutos. Ambos quiseram que ela fosse pessoal para evitar o telefone.
Ironicamente, ACM está em apuros por ser o principal suspeito de planejar a escuta ilegal de adversários, amigos, juízes e jornalistas. ACM nega veementemente a acusação. O grampo foi feito pela Secretaria da Segurança Pública da Bahia, em 2002.
A Folha apurou que Dirceu disse a Sarney que o governo não se empenharia para honrar o acordo que previa a eleição de ACM para a CCJ devido ao desgaste de uma operação desse tipo. Sem esse aval, o pefelista baiano fatalmente perderia a postulação ao cargo. Cresce no Congresso um clima político desfavorável a ACM.
Mais: Dirceu disse a Sarney que o episódio do grampo tirava de ACM o direito de pedir a ajuda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem o pefelista apoiou na eleição de 2002. Dirceu foi claro ao falar que ACM agora estava por sua própria conta e sorte.
Dirceu disse a Sarney que Lula não trabalharia pela cassação de ACM nem por uma CPI. A CPI não interessa ao governo nem a ACM. No entanto, afirmou Dirceu, o governo também não interferiria para barrar eventual investigação do Conselho de Ética do Senado. Esse gesto simboliza o grau de isolamento do senador.
Foi Dirceu, na campanha, quem fez a ponte com ACM. Além de trocar telefonemas reservados, os dois tiveram encontros secretos em um hotel paulistano. No primeiro turno, ACM apoiou Ciro Gomes (PPS). Mas, ainda na primeira fase, quando a candidatura do pepessista entrou em crise, cultivou laços com o PT nacional. No segundo turno, ACM apoiou abertamente Lula.
No fim da tarde, pefelistas difundiram a versão de que Lula fizera acordo para salvar ACM. O pefelista deixaria de pleitear a CCJ, adotaria atitudes discretas, e o governo e o PT não permitiriam sua eventual cassação.
Ledo engano. Para o Planalto, a situação de ACM ganhou dinâmica própria. E tem mais: livrar-se dele pode facilitar bastante as articulações do governo no Congresso. A exemplo do que fez no governo FHC, ACM é um aliado que cobra caro por seu apoio.


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