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JANIO DE FREITAS
A limpeza virá, virá
Mesmo sem a necessária CPI
e ainda que as poucas investigações mais encenem do
que investiguem, bastou o primeiro mês de acusações e suspeitas de corrupção, originárias da
disputa pela presidência do Senado, para se obter um saldo
bem interessante. Sobretudo
quanto à melhor das consequências em casos assim, que é, a meu
ver, a contribuição à consciência
pública do que é a realidade na
condução do país.
Onde mexeu, na tentativa de
aplacar acusações, o governo se
viu forçado a reconhecer assaltos
vorazes aos cofres públicos. Na
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, "pelo
que foi visto até agora, estima-se
que um terço dos processos (de
benefícios financeiros) tenha irregularidades", nas palavras do
ministro Fernando Bezerra.
Das 33 empresas que o senador
Antonio Carlos Magalhães vinha denunciando, a propósito
de benefícios irregulares para o
grupo do senador Jader Barbalho, apenas quatro foram isentadas de falcatruas associadas a
dirigentes da Sudam. A solução
determinada por Fernando
Henrique Cardoso é fechar a Sudam e substituí-la por uma
agência. Onde tudo continuará
igual, claro, porque o problema
não está no nome nem na forma
da entidade, mas na maneira
como todo esse organismo é usado com fins político-financeiros.
No DNER, aquele velho território das quadrilhas especializadas em obras públicas, a intervenção foi explicada por um porta-voz velado do governo como
decorrência, não das acusações
recentes de corrupção, mas de
investigações que se realizavam
desde antes. Mentira.
As intervenções nos casos da
Sudam e do DNER foram anunciadas na mesma ocasião por
Fernando Henrique, logo em seguida ao discurso acusatório de
Antonio Carlos e como vã tentativa de aparentar que o governo
age. Comprovação óbvia do motivo das duas medidas, foram
exonerados os dois ministros feitos por Antonio Carlos, aliás sem
reflexo no padrão do governo.
Se não houvesse outros acréscimos ao conhecimento da opinião pública, o surgimento ostensivo da figura de Ricardo Sérgio de Oliveira, por si só, compensaria a crise política. Personagem de inúmeras das histórias sobre arrecadação a pretexto das campanhas de peessedebistas de São Paulo, mesmo que
já passada a eleição; figura fundamental nos esquemas das privatizações mais valiosas e mais
manobradas pelo governo, Ricardo Sérgio reapareceu no bolo
das denúncias como "suspeito"
de cobrar comissão de R$ 90 milhões, ainda que não fosse só em
seu nome, para assegurar o resultado no leilão de telefônicas.
Com isso, será reaberto, na Procuradoria da República, o inquérito sobre a privatização do
sistema Telebrás.
De quebra, ressurge a conta de
Cayman, aquela do dossiê e de
US$ 368 milhões. No ressurgimento, todas as partes anteriores
e algumas novas, na investigação, ficam muito mal. A Procuradoria Geral da República, por
seu chefe Geraldo Brindeiro e pelo procurador Luiz Augusto Santos Lima, emerge como responsável pela sustação das investigações da Polícia Federal, quando foram encontradas evidências de que a empresa CH,J & T,
ditada no dossiê como detentora
da fortuna, existia e tinha Sérgio
Motta como responsável.
Agora, Fernando Henrique,
com intermediação do ministro
José Gregori, força outra vez o
subterfúgio de investigar só os
acusados de falsificar o dossiê.
Mas o que abrange todo o caso, e
o faz com rapidez, é pedir às autoridades americanas para ouvir
o advogado que se dispôs, nos
Estados Unidos, a dar as informações que desvendam a firma
de Sérgio Motta, respectiva finalidade no paraíso fiscal das Bahamas e, ainda, quem poderia
conhecê-la, para falsificar dossiês.
Também por outro modo o governo e a opinião pública se contrapõem. O país avança na consciência que está carcomido, cada
vez mais, pela corrupção. Fernando Henrique e seus intermediários governamentais e parlamentares refugiam-se na ilusão
de que podem burlar a consciência pública. Mais cedo ou mais
tarde, tudo o que está encoberto
virá à superfície. Não porque seja assim sempre e fatalmente,
mas porque a fossa alcançou o
nível de transbordamento. Em
alguma altura, será imposta certa limpeza.
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