São Paulo, domingo, 18 de março de 2001

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RUMO A 2002

Partido adota opção Alckmin-Roseana para embaralhar sucessão

PFL lança "casal 20" para abalar aliança Serra-PMDB

FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL

THOMAS TRAUMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

No comando do Estado de São Paulo em caráter definitivo desde a morte de Mário Covas, no último dia 6, Geraldo Alckmin se transformou em menos de duas semanas numa espécie de curinga no baralho da sucessão presidencial. À sua revelia, o novo governador começa a ser lembrado por setores da aliança governista como uma carta na manga capaz de alterar o jogo de 2002.
Por razões diversas, o objetivo dos aliados de Fernando Henrique Cardoso que passaram a fazer circular a alternativa Alckmin à Presidência é um só, ao menos por ora: fragilizar a candidatura do ministro José Serra (Saúde), que vem assumindo a dianteira da disputa tendo como parceiro preferencial o PMDB.
A "opção Alckmin" foi ventilada discretamente dentro do Palácio do Planalto dias após a morte de Covas e ecoou a seguir entre tucanos ligados ao governador do Ceará, Tasso Jereissati.
A última novidade, porém, tem origem no "PFL do B", a ala governista do partido, sob o comando de seu presidente nacional, o senador Jorge Bornhausen (SC). Sem fazer alarde, Bornhausen e seus aliados começam a espalhar no meio político que Geraldo Alckmin e a governadora Roseana Sarney (PFL-MA) formariam um par ideal para desfilar no altar da sucessão de FHC.
O herdeiro natural do espólio político de Covas, que morreu como símbolo da ética na vida pública, e a "musa" do PFL fariam frente à chapa que hoje desponta como favorita na aliança governista -José Serra tendo como vice o governador de pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB).
Alckmin e Roseana já receberam até apelido no mundo do poder: "casal 20". Como Serra e Vasconcelos, a dupla formaria uma chapa com um nome da região Sudeste e outro da Norte/Nordeste, como fez FHC em 94 e 98 com Marco Maciel (PFL-PE) e, em tese, convém às candidaturas presidenciais num país tão grande e desequilibrado regionalmente.
Alckmin, evidentemente, foge do assunto. De olho na sua própria sucessão, disse em entrevista recente que não dá "passo maior que a perna". Lança dúvidas, porém, sobre sua suposta modéstia, ao afirmar também em entrevistas que os tucanos precisam "amassar mais barro". A declaração sugere que o governador, à frente do principal Estado da Federação, começa a se sentir à vontade para enviar recados políticos ao alto tucanato.
Há outro dado importante. A possibilidade de Alckmin se candidatar ao governo paulista ainda depende de decisão da Justiça. A emenda constitucional que permitiu a recondução de FHC à Presidência é ambígua em relação a casos como o de Alckmin e vem dividindo o meio jurídico.
No quadro atual, a um ano e meio da sucessão, é certo que o "casal 20" não passa de um balão de ensaio. Hoje visa sobretudo desestabilizar o vôo precoce de Serra. Outros balões decerto surgirão no caminho de 2002, mas esse tem, pelo menos aos olhos do PFL de Bornhausen, fôlego para alçar vôo e seguir viagem.

Cardápio para FHC
O presidente do PFL falou da dobradinha Alckmin-Roseana pela primeira vez com FHC durante um jantar em Brasília, na última semana. Defendeu que Alckmin, além de herdeiro de Covas, poderia ser uma alternativa de consenso a Serra e Tasso no PSDB. Disse ainda que teria o apoio do PFL, incluindo a ala do senador Antonio Carlos Magalhães (BA), que se desgarrou da base governista e passou a ser o maior incômodo para o Planalto.
Pelo lado de Roseana, Bornhausen destacou as vantagens de se ter uma mulher na chapa presidencial e lembrou seus índices de popularidade nas pesquisas de opinião sobre 2002. Em junho do ano passado, a governadora atingiu 9% das preferências do eleitorado em sondagem do Datafolha.
Serra, pelo contrário, lembram Bornhausen e seus comandados, jamais ultrapassou os 6% nas pesquisas, apesar de sua hiperexposição na mídia e das medidas de impacto que vem adotando à frente do Ministério da Saúde (remédios genéricos, cruzada antitabagista e, mais recentemente, papel de destaque no pacote de programas sociais do governo, entre outras).
FHC teria ouvido as colocações de Bornhausen sem fazer comentários conclusivos. Por um lado, interessa ao presidente adiar ou esfriar ao máximo o debate sucessório para que seu mandato não morra prematuramente.
FHC deixou isso claro ao reunir a cúpula do PSDB na última quarta-feira e recomendar uma trégua entre Serra e Tasso para ajudar a contornar a crise política em que está mergulhado seu governo. Ao mesmo tempo, sinalizou pela primeira vez depois da morte de Covas que está disposto a assumir o comando pleno de sua sucessão.
Por outro lado -e contraditoriamente-, há evidências de que, hoje, o nome preferido de FHC para sucedê-lo é o de Serra. A última delas é o fato de ter levado o ministro a tiracolo anteontem a Aracaju (SE) e Recife (PE) para assinar os primeiros convênios do Projeto Alvorada, maior plano de ação social de seu governo.
Recebido como candidato em Pernambuco, Serra elogiou e foi elogiado por Jarbas Vasconcelos. Estão jogando casados. Remanescente do chamado grupo histórico do PMDB, ligado a Ulysses Guimarães, Jarbas não tem a imagem desgastada por denúncias de corrupção, como é o caso do presidente do Senado, Jader Barbalho (PA), do seu líder na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), e do ministro dos Transportes, Eliseu Padilha (RS) -trinca que, ao lado de Michel Temer (SP), forma hoje a cúpula do partido.
O quarteto-de-ferro peemedebista vê na chapa Serra-Jarbas sua maior chance de chegar ao poder em situação privilegiada em 2002. Mas, ao mesmo tempo, mantém Itamar Franco (MG) como seu exército de reserva.
Recém-filiado de volta ao PMDB, o governador mineiro funciona tanto como trunfo do partido para negociar em melhores condições com o Planalto contra as pretensões do PFL de fazer o vice, como pode, em última instância, ser lançado como candidato de oposição a FHC caso o PMDB se veja alijado da condição de noiva no altar governista em 2002.
É com essa última hipótese que o PFL de Bornhausen trabalha. Sua aposta é a de que o PMDB não se sustenta como parceiro preferencial dos tucanos porque a situação de Jader Barbalho, em particular, enroscado no escândalo do Banpará, é extremamente vulnerável.

Pedras no caminho
Uma eventual candidatura Alckmin teria obstáculos óbvios para se viabilizar. O maior deles chama-se José Serra. Com a morte de Covas e o rompimento de ACM com FHC, Tasso, que era apoiado pelo governador e é o nome preferido do senador baiano, sofreu um revés que muitos julgam difícil de contornar. A pista de 2002 se abriu para Serra, que ainda impôs mais uma derrota ao cearense com a eleição de Jader à presidência do Congresso.
Uma geração mais jovem e liderança que desponta ainda apenas regionalmente, Alckmin viria atropelar o nome "natural" do partido, que há anos trabalha obstinadamente para ocupar a cadeira de FHC. Além disso, o governador tem hoje na segurança pública um problema mal-resolvido que pode comprometer a imagem de seu curto mandato.
Antes mesmo que o PFL começasse a enviar sinais na direção de Alckmin ou que o grupo de Tasso passasse a colocar seu nome no baralho da sucessão, Serra já vinha costurando uma aliança com o governador. Tê-lo como parceiro na condição de candidato ao governo do Estado é algo que convém a Serra e Alckmin. O problema do ministro talvez seja o fato de que tenha ocupado o centro do palco cedo demais.



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