São Paulo, domingo, 18 de março de 2001

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ACIDENTE EM ALTO-MAR

Presidente da Petrobras diz que há mais chances de a P-36 não submergir completamente

Plataforma passa a afundar mais devagar

CRISTIAN KLEIN
SABRINA PETRY


ENVIADOS ESPECIAIS A MACAÉ

Henri Philippe Reichstul, presidente da Petrobras, disse que a plataforma P-36, na Bacia de Campos, afundou mais meio metro da noite de anteontem até o início da manhã de ontem.
Segundo Reichstul, as perspectivas de que a plataforma não afunde completamente ficaram mais otimistas, uma vez que a P-36 havia submergido 1,5 metro no primeiro dia do acidente, na quinta-feira, e, anteontem, estava afundando num ritmo de 2 metros a cada seis horas. Anteriormente, a Petrobras só havia divulgado a submersão de 1,5 m.
A P-36, a maior plataforma de produção de petróleo em alto-mar do mundo sofreu três explosões na madrugada da quinta-feira. O gerente-executivo de Exploração e Produção da Região Sul-Sudeste da Petrobras, Carlos Tadeu da Costa Fraga, afirmou que 30 pessoas estão trabalhando na tentativa de salvar a plataforma.
Segundo ele, os técnicos vedaram buracos na coluna atingida pelas explosões para evitar mais entrada de água na plataforma. Ele também disse foram instaladas mangueiras na P-36 para permitir a injeção de nitrogênio na coluna inundada. O objetivo é que o gás expulse a água que está na coluna e, com isso, a plataforma recupere a sua estabilidade.
Reichstul afirmou que a prioridade é estabilizar a plataforma para resgatar os corpos dos 10 trabalhadores desaparecidos. A Petrobras não acredita mais que haja sobreviventes. "Eles pagaram com suas próprias vidas para defender a segurança da plataforma, dos nossos funcionários e dos nossos terceirizados", disse.
Reichstul afirmou que os dez trabalhadores pertenciam a duas brigadas de incêndio e tinham a obrigação de proteger os outros funcionários.
A família de Sérgio dos Santos Souza, uma das vítimas, no entanto, estava revoltada com o acidente e disse que os funcionários da brigada de incêndio não estavam preparados para a função.
"Meu irmão era mecânico. Essas brigadas são formadas por trabalhadores que têm outras funções na empresa. Tem eletricistas, operadores de tubulação. É um absurdo. Eles são submetidos a múltiplas funções e, num momento desse, de acidente, estão cansados e sem o preparo adequado", disse Sandra Maria dos Santos Souza, irmã da vítima.
O resgate dos dez trabalhadores é dificultado porque todos os corpos, segundo a Petrobras, estão confinados na coluna que explodiu e está inundada. Na noite de anteontem, um grupo de mergulhadores foi à plataforma por meio de um barco inflável.
"Nossa responsabilidade é reencontrar os corpos e entregá-los às famílias, evitar um problema ambiental", disse Reichstul.
O coordenador regional do Ibama, no Rio, Carlos Henrique Mendes, que também foi a Macaé, disse que as plataformas da Petrobras não têm plano de emergência contra vazamento de óleo em caso de colapso e afundamento. Segundo ele, a Petrobras tem condições de recolher um possível vazamento em três horas.
Ontem, a empresa aumentou a barreira de contenção de óleo de 1.200 m para 2.800 m. Se a mancha não for contida em 300 horas, ela pode chegar ao litoral de Cabo Frio e de Cabo de São Tomé.


Colaboraram Karine Rodrigues e Daniela Mendes, da Sucursal do Rio


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