São Paulo, domingo, 18 de março de 2001

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BC recolhe documentos na delegacia de Belém

DO ENVIADO ESPECIAL A BELÉM

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

A direção do Banco Central mandou recolher todos os documentos, relatórios e processos sobre o Banpará (Banco Estadual do Pará), que há anos descansavam nos arquivos da delegacia do banco em Belém.
No Carnaval, o procurador-adjunto do BC Francisco José de Siqueira foi ao Pará retirar dos arquivos o relatório do inspetor Abrahão Patruni Júnior que descreveria a sistemática utilizada em 1984 para irrigar US$ 10 milhões do caixa do Banpará para contas do então governador, Jader Barbalho, e pessoas ligadas a ele.
Siqueira retirou o documento na Quarta-Feira de Cinzas, dia 28 de fevereiro, e voou rumo a Brasília para entregá-lo ao procurador José Coelho Ferreira e ao presidente do BC, Armínio Fraga.
Dias depois, seguiram para Brasília pelo malote os processos relativos à demissão do inspetor Hamilton Francisco de Assis Guedes, funcionário de carreira do BC que ocupou a diretoria de finanças do Banpará durante o governo Jader.
A centralização de documentos na sede do BC foi ordenada por Armínio Fraga para que não houvesse vazamento de informações sobre o caso. Fraga vem adiando a remessa do relatório de fiscalização para o senador Jader Barbalho e para o Ministério Público do Pará. Ambos pediram cópia do documento, mas ainda não obtiveram resposta.
O zelo demonstrado pelo BC acentua o comportamento atípico adotado pela autarquia desde o início do caso. O ex-presidente do BC Francisco Gros afirma ter enviado aos promotores tudo o que tinha sobre a investigação.
Em 1996, o então presidente do BC, Gustavo Loyola, chegou a enviar carta para Jader Barbalho informando que seu nome não era citado nos documentos. Na verdade, não era citado num ofício de Gros, com apenas três páginas, escrito em 1992.
O tratamento destoa da relação mantida entre o BC e o governo paraense durante as investigações. O então governador, Hélio Gueiros, chamava os funcionários do BC de "cachaceiros", "facciosos" e "indecentes" durante a intervenção e as investigações sobre desvios feitas durante sua gestão (1987 a 1990).
Por ironia, o inspetor responsável pela investigação é, até agora, quem tem maior chance de ser punido. Chamado a Brasília no dia 7 de março, Patruni Júnior foi ouvido por duas horas pelos diretores de Fiscalização, Tereza Grossi, e de Administração, Edson Bernardes.
No final da reunião, firmou um depoimento por escrito, o que vem preocupando os dirigentes do Sinal (sindicado dos funcionários do BC). "Não podemos deixar que façam isso com um funcionário corajoso e competente", diz o presidente do sindicato, David Falcão, que já providenciou a contratação de um advogado para defender o funcionário.
(WLADIMIR GRAMACHO, ARI CIPOLA e LUÍS INDRIUNAS)



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