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SOMBRA NO PLANALTO
À PF, ex-presidente da empresa afirma que ex-assessor condicionou contratação de Buratti à renovação do contrato com a Caixa
Waldomiro confirmou indicação, diz GTech
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-presidente da GTech Antonio Carlos Lino da Rocha disse
à Polícia Federal ter ouvido de
Waldomiro Diniz a confirmação
de que Rogério Buratti seria o nome a ser contratado pela empresa.
Em troca da contratação, a multinacional teria renovado o contrato de R$ 650 milhões com a Caixa
Econômica Federal para operar o
sistema de loterias do país.
Buratti foi secretário do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) em seu primeiro mandato como prefeito em Ribeirão Preto.
Em depoimento à PF na última
sexta-feira, Rocha contou que a
confirmação de Waldomiro se
deu depois que a GTech havia fechado a renovação de seu contrato com a Caixa. Rocha teria telefonado para Waldomiro com dois
objetivos: 1) informá-lo de que
"havia de fato sido procurado por
uma pessoa de nome Rogério Buratti"; 2) "[...] ter clareza de que a
pessoa a que Waldomiro se referira fora Rogério Buratti, como efetivamente ficou confirmado, vez
que, ao ser informado do veto,
Waldomiro lhe propôs a substituição por outra [pessoa]".
Em 31 de março de 2003, num
café da manhã em Brasília, Rocha,
conforme seu depoimento à PF,
fora informado por Waldomiro
de que "uma pessoa influente no
processo de renovação do contrato iria procurá-lo, com o objetivo
de ser contratada para permitir a
concretização do negócio".
Waldomiro foi exonerado da
Subchefia de Assuntos Parlamentares da Presidência em fevereiro,
após aparecer em vídeo pedindo
propina e contribuição de campanha a um empresário de jogos.
Também em depoimento à PF
na última sexta, o diretor de marketing da GTech, Marcelo Rovai,
afirmou que teve duas reuniões
com Buratti para tratar de sua suposta participação no contrato.
Em ambos os encontros, conforme Rovai, o consultor teria afirmado que trabalhou e ajudou no
processo de negociação com a
Caixa, sem, porém, precisar qual
teria sido seu papel nem seus contatos na condução do processo.
Rovai conta ainda mais detalhes
sobre a suposta participação de
Buratti nessas duas reuniões. Diz
que o consultor "solicitou o pagamento de R$ 15 milhões a R$ 20
milhões de honorários". A proposta foi tratada no encontro como um "absurdo".
Segundo a depor à PF, Rocha
disse que Buratti, por solicitação
da GTech, enviou à empresa a documentação necessária para que
sua contratação, como é de praxe
na multinacional, fosse analisada.
E acabou vetada. Em entrevista
após a divulgação de seu nome,
Buratti nega ter interferido na negociação do contrato.
Buratti deixou o cargo de secretário de Palocci em Ribeirão depois que se tornou pública a gravação de uma conversa na qual
discute com um empreiteiro a
distribuição de obras públicas.
Hoje é vice-presidente da empreiteira Leão Leão, que mantém contratos com prefeituras petistas.
Ontem, a Folha revelou que Buratti foi sócio em uma empresa do
atual chefe-de-gabinete de Palocci, Juscelino Dourado.
Rocha e Rovai repetiram ontem, na sindicância interna do Palácio do Planalto, o mesmo que
disseram à PF: Waldomiro sugeriu a contratação de Buratti. O nome do ministro José Dirceu (Casa
Civil), chefe de Waldomiro, não
foi citado nenhuma vez durante
os depoimentos dos executivos da
GTech à sindicância.
O enfoque da comissão, que deve concluir os trabalhos na próxima semana, é apurar eventuais irregularidades cometidas por
Waldomiro enquanto foi subchefe de Assuntos Parlamentares.
Bretas
Nos depoimentos de Rovai e
Rocha está consignado que foi do
vice-presidente de Logística da
Caixa, Paulo Bretas, o primeiro
alerta de que havia uma pendência para a assinatura do contrato,
indicando que o problema seria
de conhecimento de Enrico Gianelli, advogado da multinacional.
Conforme os relatos à PF, é Gianelli quem revela a contratação de
Buratti como condicionante para
o bom termo dos acertos entre
Caixa e GTech.
Bretas disse que só manteve
dois contatos com Buratti, ambos
em setembro do ano passado e
com o propósito de discutir um
projeto ambiental da Leão Leão.
O negócio não foi aprovado pela
Caixa, segundo Bretas.
Colaborou IURI DANTAS, da Sucursal de
Brasília
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