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INVESTIGAÇÃO
Ministério da Justiça suíço encaminha extratos bancários a autoridades brasileira; Maluf nega ter contas naquele país
Suíça envia documentos de Maluf ao Brasil
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério da Justiça e Polícia
da Suíça encaminhou ontem à
embaixada brasileira em Berna os
extratos bancários referentes a
movimentações financeiras do
ex-prefeito Paulo Maluf (PP) naquele país. Os documentos são
aguardados por autoridades brasileiras há quase dois anos e meio.
Em fevereiro, uma decisão da
Justiça da Suíça abriu caminho
para o envio dos documentos
bancários. O Tribunal Federal da
Suíça rejeitou o pedido de advogados de Maluf para que os extratos não fossem repassados ao Brasil e informou que o ex-prefeito e
seus familiares foram beneficiários ou titulares de 12 contas em
Genebra, todas sob investigação.
Em nota assinada pelo assessor
de imprensa Adilson Laranjeira, o
ex-prefeito afirmou que nunca teve conta na Suíça. Citou um trecho da sentença do Tribunal Federal da Suíça, segundo a qual
Maluf não configura como titular
de contas.
Na sentença, os suíços informam terem identificado duas
contas no Citibank de Genebra
nas quais Maluf não aparece como titular, mas como o "detentor
de direitos" -o que, juridicamente, dá ao beneficiado o poder
sobre o valor depositado.
Uma das contas, aberta em julho de 1985 e encerrada em junho
de 1997, tem como titular a empresa Red Ruby, "offshore" no
paraíso fiscal das Ilhas Cayman.
Outra conta, que funcionou entre
dezembro de 1990 e outubro de
1998, foi aberta em nome de uma
fundação.
Segundo autoridades brasileiras, os valores que estavam depositados em Genebra foram transferidos para a ilha de Jersey, paraíso fiscal no canal da Mancha. Em
junho de 2001, a Folha publicou
que autoridades de Jersey haviam
bloqueado cerca de US$ 200 milhões pertencentes ao ex-prefeito.
Ainda na sentença judicial, o
Tribunal Federal da Suíça informou a existência de outras dez
contas bancárias abertas pelos filhos de Maluf, Flávio e Lígia. Nem
todas as contas, segundo o documento, teriam sido encerradas.
Os procuradores da República
Pedro Barbosa e Denise Abade
(área criminal) e os promotores
Silvio Marques e Sérgio Turra
(área cível) esperam que, por
meio dos documentos enviados
pela Suíça, possam ter acesso a
detalhes das movimentações financeiras, como data da abertura
da conta, nome do depositante e
últimos depósitos.
De acordo com eles, as contas
no exterior ligadas a Maluf e seus
familiares foram alimentadas por
um suposto esquema de superfaturamento de obras públicas durante a gestão dele como prefeito
de São Paulo, entre 1993 e 1996.
Acusação
Parte do dinheiro enviado a Genebra, segundo os procuradores e
promotores, teria sido desviado
das obras da avenida Água Espraiada e do túnel Ayrton Senna
-não existe, entretanto, nenhum
processo transitado em julgado
(concluído) na Justiça brasileira
por desvio de dinheiro contra o
ex-prefeito -o que dificultou o
envio dos documentos para as autoridades no Brasil.
Assim que os documentos chegarem ao Brasil, Maluf deverá ser
notificado a comparecer ao Ministério Público Estadual para
prestar esclarecimentos. Não há
data definida para ele ser ouvido.
Antes disso, a embaixada brasileira em Berna irá repassar os documentos para o Itamaraty, que,
por sua vez, enviará à secretária
Nacional de Justiça, Cláudia Chagas. O original dos extratos será
remetido à Justiça Federal e uma
cópia à Justiça estadual. Todo o
material deverá ser submetido
ainda a um tradutor oficial.
Na área cível, Maluf é investigado por suspeita de improbidade
administrativa (mau uso do dinheiro público). Na esfera penal,
apura-se suposto crime de evasão
de divisas e sonegação fiscal.
A legislação brasileira prevê
prazo prescricional de 12 anos para os crimes imputados a Maluf.
Como ele tem mais de 70 (tem
72), conta com outro benefício legal: o prazo de prescrição cai pela
metade. Ele só poderá ser acusado
criminalmente se ficar comprovado que movimentou dinheiro no
exterior há menos de seis anos.
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