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DEBATE
Adoção de novo modelo eleitoral é defendida por senador e deputado do PSDB e rechaçada por cientista político
Voto distrital é ponto polêmico de reforma
da Reportagem Local
A polêmica em
torno da adoção
do voto distrital
misto no Brasil
marcou o debate
sobre a reforma
política promovido pela Folha
na segunda-feira à noite.
Participaram da discussão o senador Sérgio Machado (PSDB-CE), relator do projeto que propõe
mudanças no sistema eleitoral, o
cientista político Leôncio Martins
Rodrigues, e o deputado federal
Emerson Kapaz (PSDB-SP).
Leôncio é contra a instituição do
voto distrital misto (veja quadro
ao lado), e os dois tucanos defendem a tese. Atualmente, vigora no
país o sistema proporcional, pelo
qual os eleitos são definidos a partir da soma da votação de cada legenda, respeitando-se a ordem dos
mais bem votados.
Pela proposta de Machado, o
Brasil escolheria seus parlamentares por um sistema misto. O eleitor
teria direito a dois votos. Primeiro,
elegeria o candidato de seu distrito, área do Estado que seria delimitada pela Justiça Eleitoral.
O outro voto seria destinado à escolha de uma entre várias listas
partidárias -cujos integrantes seriam eleitos pelas agremiações políticas em convenção. O projeto
não prevê obrigatoriedade de os
dois votos serem destinados à
mesma legenda.
Pela idéia do senador tucano, os
Estados seriam divididos em regiões (distritos eleitorais) de acordo com o número de vagas que têm
na Câmara dos Deputados. Metade dos deputados sairia dos distritos, e a outra parte, da lista dos partidos. São Paulo, por exemplo, tem
70 cadeiras. Assim, 35 vagas seriam definidas nos distritos, e a outra metade, na lista partidária.
De acordo com o projeto que está
em discussão no Senado, a ordem
nas listas será definida conforme a
votação dos candidatos nas convenções partidárias. Se um partido, por exemplo, obtiver votação
suficiente para eleger três candidatos da lista, assumirão o mandato
os três primeiros colocados.
"Hoje, a política brasileira é extremamente personalista. A disputa ocorre entre os candidatos do
mesmo partido e isso não favorece
o fortalecimento das legendas", argumentou o senador cearense.
O perigo de perpetuar a distorção já existente na representação
dos Estados foi um dos defeitos do
projeto apontados por Leôncio
Martins Rodrigues. O cientista político comparou a proposta de reforma política em discussão ao
modelo boliviano. "Parece que o
Brasil está copiando, não o sistema
da Alemanha, e sim o da Bolívia.
No sistema alemão, a delimitação
de distritos é calculada a partir do
eleitorado nacional. Aqui, será calculada a partir do eleitorado do Estado, tal como na Bolívia", disse
Leôncio.
Ele completou o raciocínio dizendo que a opção brasileira foi tomada devido às dificuldades políticas para corrigir a desproporção
que existe na representação. São
Paulo, se fosse seguido o critério de
vagas proporcionais ao eleitorado
nacional, deveria ter cerca de 110
deputados federais em vez de 70.
Por temer resistências no Congresso, Machado não abordou esse
problema em seu projeto.
Favorável ao voto distrital misto,
Kapaz citou seu exemplo na eleição de 98 para defender a mudança. "Tive que fazer campanha no
Estado inteiro, mas 51% dos meus
votos vieram da cidade de São Paulo", argumentou.
Machado citou como exemplo da
inconveniência do modelo atual a
dificuldade de negociação com os
congressistas.
"Atualmente, a discussão não se
dá com os partidos, mas com os
parlamentares", afirmou. Ele acredita que o sistema distrital misto
fortalece os partidos, o que facilitaria a governabilidade.
Leôncio concordou com a proposta de valorização dos partidos,
mas criticou pontos do projeto de
Machado. "É uma ilusão achar que
o voto distrital misto não vai provocar uma briga de foice dentro
dos próprios partidos. A disputa
interna será violentíssima", rebateu o cientista político.
Kapaz discordou de Leôncio. Para ele, "o jogo de interesses" que
acompanharia a montagem da lista partidária já existe na luta por
uma vaga na legenda. O deputado
entende que hoje o maior adversário de um candidato é seu companheiro de partido.
Um dos argumentos mais fortes
utilizados por Leôncio para rechaçar a tese do voto distrital misto foi
o de que os distritos seriam criados
de maneira "artificial" (leia texto
abaixo).
Machado e Kapaz defenderam a
existência de algum tipo de restrição à divulgação de pesquisas eleitorais.
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