São Paulo, Domingo, 18 de Abril de 1999
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MINAS
Energética rendeu no ano passado R$ 120 mi em dividendos, mais da metade do valor bloqueado pela União
Cemig é fonte fundamental de receita

Washington alves - 14.abr.99/Light Press
O governador Itamar Franco (PMDB), que afirmou que resistirá à privatização da energética mineira


PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

O governador mineiro, Itamar Franco (PMDB), vem descartando totalmente a privatização da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais). Chegou até a dizer que só privatizaria "se o governo federal usasse tropas federais".
Há um motivo para tanto apego à estatal -na difícil situação política e econômica de Minas, a Cemig tornou-se uma fonte fundamental de receita para o Estado e é também um importante instrumento de políticas de governo, especialmente na área social.
Itamar enfrenta uma forte crise de caixa, agravada com os bloqueios dos repasses feitos pelo governo federal em razão da moratória com a União.
A Cemig lhe permite algum fôlego, pois, com o lucro de R$ 482,7 milhões gerado em 98, rendeu a Minas cerca de R$ 120 milhões em dividendos (embora cerca de R$ 90 milhões já tenham sido antecipados em 98), valor que corresponde a mais da metade dos recursos bloqueados pelo governo federal desde janeiro (R$ 206 milhões).
Há também as nomeações políticas. Itamar nomeou para a presidência da empresa Djalma Morais, que foi seu ministro quando ele era presidente da República (92-94), e para a diretoria de Distribuição o ex-deputado Aloísio Vasconcelos. Como membro efetivo do Conselho de Administração, nomeou seu amigo José Aparecido de Oliveira.
Essa defesa da Cemig vem sendo feita desde a campanha eleitoral de 98, quando Itamar prometeu investigar a venda de 33% das ações ordinárias (com direito a voto) da empresa. Ele conseguiu instalar a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Cemig na Assembléia.
A defesa se intensificou recentemente quando Itamar tomou conhecimento de que, ao assinar o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o governo federal se comprometeu a privatizar as empresas estaduais de energia ainda em 1999.
A principal argumentação de Itamar é a de que a empresa privada não se interessa pelos projetos sociais. Consta do acordo de acionistas da Cemig -o qual ele contesta- cláusula de que 5% do lucro líquido seja investido em programas sociais. Mas os investimentos, na prática, vão muito além.
A Cemig planeja iniciar, ainda este ano, a construção da usina deIrapé, no Vale do Jequitinhonha, a região mais pobre de Minas, no valor de R$ 400 milhões.
Também no Jequitinhonha e no norte do Estado, outra área pobre, a Cemig desenvolve programas de geração de energia para povoados e escolas, que atinge cerca de 2.000 pessoas em 12 municípios, ao custo de R$ 1,5 milhão.
Em 98, a Cemig investiu e agregou mais 60 mil novos consumidores, a maior parte de baixa renda, que muitas vezes pagam o valor mínimo de consumo: R$ 1,62 -dos 4,5 milhões de consumidores, 440 mil pagam esse mínimo.
Além disso, a empresa tem como meta na gestão Itamar levar energia a 100% das propriedades rurais do Estado. Essa cobertura está atualmente em 80%.
No ano passado, a empresa doou R$ 9 milhões, de acordo com o balanço social da Cemig, sendo R$ 6,5 milhões com subsídios totais ou parciais para entidades filantrópicas e R$ 2,5 milhões na área cultural, sendo quase a totalidade para a reconstrução do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, que havia incendiado.


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