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Envolvidos consideram cessão de fiança normal
da Sucursal do Rio
Num documento enviado à Justiça Federal no Rio, o Banco do Brasil alega que a concessão de fianças
para os consórcios ligados ao banco Opportunity seguiu "rigorosamente o fluxo processual normal
do banco".
O BB afirma que todas as fianças,
inclusive os R$ 874 milhões concedidos à Solpart Participações, foram aprovadas pela diretoria do
banco e pelo Conselho de Administração.
O conselho era presidido pelo
hoje ministro Pedro Parente (Orçamento e Gestão). O presidente
do BB, Paulo César Ximenes, ocupava a vice-presidência do conselho. Também integrava o conselho
o atual diretor da ANP (Agência
Nacional de Petróleo), David
Zylbersztajn.
Uma anotação a mão escrita no
final do relatório do comitê de crédito e datada de 27 de julho de 1998
(antevéspera do leilão) revela que
os conselheiros foram ouvidos pelo telefone para sancionar a concessão das fianças.
O conselho só se reuniu no dia 3
de agosto, depois do leilão das empresas que compunham Telebrás,
e apenas referendou a concessão
das fianças aos consórcios de disputa.
O BB alega também que, na análise de pedidos de fianças, é preciso
considerar não só as contragarantias, mas também a credibilidade e
a reputação do grupo solicitante,
assim como seu relacionamento
com o BB e o potencial de negócios
futuros.
No caso específico da fiança concedida à Solpart, o BB enumera os
investidores que davam sustentação à empresa (fundos de pensão
brasileiros, fundos de investimento administrados pelo Opportunity, fundo off-shore administrado pelo Opportunity e a Stet Internacional Netherlands, braço internacional da Telecom Italia). Alega
que todos tinham "inquestionável
saúde financeira".
"Em condições semelhantes foram concedidas, nos últimos 12
meses, várias cartas de fiança para
diferentes grupos nacionais e estrangeiros, não tendo o Banco do
Brasil registrado qualquer caso em
que os favorecidos não tenham honrado pontualmente os compromissos assumidos", diz o documento.
Outro argumento citado é que o
BB tinha sido convidado para participar do lançamento de títulos da
Solpart no valor de R$ 2 bilhões, no
qual lhe caberia uma fatia de R$
800 milhões. A operação acabou
não acontecendo.
As fianças concedidas aos consórcios para o leilão da Telebrás,
alega ainda o BB, lhe renderam R$
804,3 mil em comissões, uma vez
que não foram executadas.
A Folha procurou a assessoria do
Banco do Brasil, que informou que
o BB não comentaria dados sobre
fianças, avais e contragarantias,
porque eles são sigilosos.
Seis integrantes do comitê de
crédito do Banco do Brasil no Rio
ouvidos pelo Ministério Público
Federal em março deste ano justificaram a ausência de contragarantia na concessão de fianças com
os mesmos argumentos: a presença da Previ no negócio parecia um
aval suficiente, e a fiança foi analisada -e aprovada- por uma instância superior.
O gerente de expedientes Luiz
Carlos Lira e Silva, por exemplo,
disse que, embora não constasse
do documento a exigência de garantias para os consórcios Solpart,
Telpart e Longdis, "sabia que por
trás do negócio havia a Previ, o que
é uma excelente garantia, pois se
trata de um fundo de pensão conhecido no banco".
O gerente de negócios Maélcio
Maurício Soares disse ter conhecimento das normas específicas do
BB sobre exigência de contragarantia, mas afirmou que, como se
tratava de "um bom negócio", deu
parecer favorável à concessão da
fiança.
Disse ainda que a presença da
Previ na operação foi o único indicativo para que a fiança fosse autorizada pelo banco.
O superintendente estadual do
Banco do Brasil no Rio de Janeiro,
Jaime Luiz Kalsing, também depôs. Disse que a operação citada
-a concessão de fianças aos interessados no leilão- não se adequava ao LIC (Livro de Instruções
Circulares ou Codificadas do BB),
onde constam as normas sobre
fianças e garantias.
Nesses casos, segundo Kalsing, o
próprio LIC prevê que as operações sejam submetidas a uma instância superior -o que acabou
acontecendo.
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