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COMUNICAÇÃO
Fernando Xavier Ferreira admite problemas
Para Telefônica, CPI é
chance para explicar
PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local
No comando
de uma empresa
que tem colecionado queixas
dos consumidores paulistas,
Fernando Xavier Ferreira, 50,
presidente da holding Telefônica
no Brasil, admite que a companhia
está "em dívida" com São Paulo.
Ele reconhece que houve deterioração dos serviços depois da privatização da telefonia fixa, que ocorreu em julho de 1998, mas diz que
essa fase vai passar.
"É lamentável que, durante esse
período, o esforço de investimento
ocorra junto com a degradação de
qualidade do serviço", diz Ferreira,
que foi presidente da Telebrás até a
véspera da privatização do setor.
Sobre a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Telefônica, instalada na Assembléia Legislativa do Estado, Ferreira diz que
será uma oportunidade para explicar as dificuldades da empresa.
A seguir, trechos da entrevista
concedida à Folha:
Folha - A Telefônica foi a campeã
de queixas no Procon em 98, foi
multada duas vezes pela Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações), recebeu punição do Ministério da Justiça e é alvo de uma CPI
na Assembléia de São Paulo. Qual
o motivo de tantos transtornos?
Fernando Xavier Ferreira - A causa central de estarmos passando
por um período difícil, com a degradação da qualidade dos serviços, é a busca do cumprimento dos
compromissos da entrega dos planos de expansão vencidos. Já era
uma situação existente na empresa, que exigiu ações agressivas e rápidas para podermos cumprir o
que determinava a Anatel, ou seja,
entregar as linhas até maio. Para
instalarmos esses telefones, imprimimos um ritmo de atividade mais
veloz. Enquanto a Telesp instalava
40 mil linhas por mês, nós chegamos a instalar em março 160 mil. A
meta é entregar até o final deste
ano 2 milhões de linhas. Tivemos
que fazer obras de grande extensão
e complexidade porque a infra-estrutura de telecomunicações da
Grande São Paulo estava saturada.
Folha - Uma das críticas à Telefônica é que a empresa está fazendo
a reforma na rede com mão-de-obra não qualificada. É verdade?
Ferreira - A gente está, de fato,
tendo problema com mão-de-obra. Isso porque o volume de
obras que está sendo feito num período tão concentrado está fazendo com que se vá ao mercado de
trabalho buscar pessoas numa
quantidade tal que se acaba chegando perto de um esgotamento
da mão-de-obra qualificada.
Folha - Mas há denúncias de que
a Telefônica demitiu funcionários
qualificados, trouxe gerentes da
Espanha que não conheciam a realidade brasileira e contratou empreiteiras não preparadas.
Ferreira - A mão-de-obra das empreiteiras é de responsabilidade
das empreiteiras. Nos casos de irregularidades, o que a Telefônica
faz é romper os contratos. Mas os
funcionários que foram desligados
eram uma mão-de-obra interna da
companhia. A saída desses gerentes não foi um fator importante no
processo. Alguns saíram, outros
foram mantidos. Quanto aos espanhóis, eles estão na empresa em
número reduzido. Acho importante a presença deles. A privatização
foi feita para que conhecimentos
de outras operadoras do mundo
viessem para o Brasil. Por mais que
o país tenha feito obras grandiosas
para montar o sistema de telecomunicações, ele estava num ponto
de esgotamento.
Folha - Mas, para o consumidor,
os benefícios da privatização ainda
não chegaram.
Ferreira - Uma parcela de benefícios já chegou. Um deles é a disposição de investir. Instalar 2 milhões
de linhas em um ano em São Paulo
significa um crescimento de 1/3 da
planta num único ano. É lamentável que, durante esse período, o esforço de investimento ocorra junto
com a degradação de qualidade de
serviço, o que não é uma coisa aceitável. Mas esse esforço vai significar que, em pouco tempo, vamos
suprir a demanda. A parte aonde
estamos em dívida com a população paulista é relativa à qualidade.
Por mais que tenhamos todas essas
justificativas, a gente sabe que, para o consumidor, isso pouco importa. Com a entrega dos planos
vencidos, finalizada em abril, a
mão-de-obra que estava envolvida
na expansão da rede, vai poder se
dedicar aos consertos de defeitos.
Assumimos compromisso de, a
partir de maio, reparar todos os
defeitos em, no máximo, cinco
dias. Hoje, a gente sabe que houve
situações em que um defeito ficou
sem conserto por até 30 dias. A
partir de junho, em até três dias, o
defeito terá de ser reparado.
Folha - Mas a Telesp não atendia
em 24 horas?
Ferreira - Não é bem assim.
Usualmente, o que é dito é que até
90% dos casos devem ser resolvidos em 24 horas. Ao dizermos que
todos os casos estarão resolvidos
em até 3 dias, não significa que tudo vai durar três dias.
Folha - A empresa ganhou até um
site na Internet "Eu odeio a Telefônica". A campanha publicitária
agressiva da Telefônica vai conseguir reverter esse quadro?
Ferreira - Reconheço que a empresa está com problema sério de
imagem e isso aumenta a nossa
responsabilidade. Queremos ter
um caso de amor com os usuários.
Não temos medo de assumir um
compromisso firme com a população porque trata-se de um problema circunstancial com prazo para
acabar. A partir daí, se não conseguirmos recuperar a qualidade dos
serviços, não teremos desculpas.
Folha - Em quanto tempo vai melhorar? Quais são os prazos?
Ferreira - São os estipulados no
acordo com o Procon. Ao dizermos que, a partir de junho, atenderemos em até três dias os defeitos,
naturalmente isso significa que a
qualidade vai melhorar.
Folha - No ano passado, a Telefônica teve 1.906 reclamações no
Procon. Em 97, a antiga Telesp
contabilizou 393 queixas. Os consumidores devem estar com saudades da estatal...
Ferreira - Tenho certeza de que
nós vamos deixar os consumidores
sem saudades da Telesp em breve.
É lógico que esses números são
uma comprovação de que os serviços deterioraram. Mas, das 1.906
reclamações, a grande maioria foi
relativa aos planos de expansão
vencidos. E esse problema a empresa já resolveu.
Folha - Mas o Procon continua recebendo reclamações de usuários
que ainda não receberam suas linhas telefônicas.
Ferreira - Por isso estamos colocando anúncios nos jornais para
localizar os usuários. Num total de
460 mil planos, não ter localizado
cerca de 8 mil é razoável.
Folha - A impressão que se tem é
que a Telefônica chegou aqui no
Brasil com uma postura de arrogância achando, talvez, que seria
pouco cobrada e que poderia fazer
as intervenções na rede e ser compreendida pela população. O senhor concorda?
Xavier Ferreira - Olha, eu não associaria à arrogância. Mas cometemos a falha de não termos nos comunicado adequadamente. Agora,
de modo algum, os transtornos são
desleixo com os usuários. São consequência daquelas razões técnicas, como os problemas de mão-de-obra das empreiteiras.
Folha - O presidente Fernando
Henrique Cardoso, em entrevista à
rádio CBN, criticou a Telefônica. Citou denúncias de que a empresa
estaria importando equipamentos
em vez de comprar os fabricados
aqui. É verdade?
Ferreira - Não haveria lógica,
porque temos aqui uma Ericsson
do Brasil, uma Siemens do Brasil,
uma Alcatel do Brasil. Os produtos
que eles aqui fabricam são tecnologicamente iguais aos das matrizes.
Folha - Existem seis milhões de
pessoas na lista de espera por um
telefone em São Paulo. Se o consumidor quiser hoje comprar uma linha, quanto tempo terá de esperar
para tê-la instalada?
Ferreira - Ele terá que entrar nessa fila. Neste ano, instalaremos 2
milhões de linhas. A demora depende da área. Em certas cidades,
há linhas sobrando. A gente tem
uma expectativa de conseguir
atender a demanda em um ano e
meio, dois anos.
Folha - Qual a avaliação que o senhor faz da CPI da Telefônica, instalada na Assembléia Legislativa?
Ferreira - Acho que será uma CPI
técnica, que vai investigar as causas da queda na qualidade dos serviços. Para nós, não há problemas.
Será mais uma oportunidade para
explicarmos nossas dificuldades.
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