São Paulo, segunda-feira, 18 de junho de 2007

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PSOL, PV e PPS ameaçam pedir nova ação contra Renan

Partidos querem investigar vendas de gado que o senador diz ter feito em Alagoas

Cláudio Gontijo, lobista da Mendes Júnior que pagava pensão a Mônica, com quem Renan tem uma filha, depõe hoje no Conselho de Ética

GABRIELA GUERREIRO
DA FOLHA ONLINE, EM BRASÍLIA

ANDREZA MATAIS
RANIER BRAGON

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Três partidos de oposição, PSOL, PV e PPS, se articulam para ingressar com nova representação contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), caso o Conselho de Ética da Casa decida amanhã arquivar o processo instaurado para apurar a denúncia de que ele teria recebido dinheiro de uma empreiteira para pagar pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha.
O PSOL é o autor do pedido de abertura do processo por quebra do decoro parlamentar que deve ir a voto amanhã no Conselho. Aliados do presidente do Senado, incluindo o relator do processo, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), defendem o arquivamento sob o argumento de que o senador teria provado possuir recursos suficientes para fazer os pagamentos mensais a Mônica; logo, não precisaria usar dinheiro de uma empreiteira.
O senador alegou ter vendido cabeças de gado, o que lhe daria renda suficiente para arcar com a pensão a Mônica.
Já os três partidos dizem que não podem ser ignoradas as suspeitas que recaem sobre os documentos que Renan apresentou para tentar provar ganho de R$ 1,9 milhão nos quatro últimos anos com a venda de gado em Alagoas. Entre os recibos do senador, há o de empresas cujos proprietários afirmam não ter feito negócios com Renan. A Polícia Federal faz perícia nos documentos.
"Se o relator não mudar o seu texto, cabe outra representação. O que não pode é se arquivar a denúncia", afirmou o presidente do PPS, Roberto Freire, acrescentando: "O Renan não deve pensar que vai resolver isso na base do tapetão".
Cafeteira e os aliados de Renan já disseram que vão defender o arquivamento da denúncia independentemente do resultado da perícia que a PF está fazendo na documentação apresentada pelo senador.
"Se houver arquivamento da representação, vamos questionar a legitimidade da perícia. Acho que seria necessário partir para um processo de cassação do mandato. Se aprovarem a absolvição com uma perícia falsa, vamos entrar na Justiça", disse o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).
PV e PSOL afirmaram que podem entrar com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal e com representação na Procuradoria Geral da República caso o Conselho arquive a denúncia.
"Não vamos aceitar que a "operação epitáfio [trocadilho com o nome do relator, Epitácio]" tenha êxito", afirmou o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ).
O Conselho de Ética do Senado toma hoje o depoimento de Cláudio Gontijo, lobista da empreiteira Mendes Júnior, que teria sido o responsável em fazer parte dos pagamentos a Mônica Veloso. Ontem, ele reafirmou que o dinheiro era de Renan e informou que não tem informações sobre a venda do gado do senador. O advogado da jornalista, Pedro Calmon, também foi convidado a depor, mas não confirmou presença.
Se o Conselho decidir continuar o processo, a punição máxima é a cassação do mandato. Até o final da semana passada, Renan tinha apoio da maioria dos 15 integrantes do Conselho, embora seus aliados considerem "pequena" a margem.
"O governo tem maioria, e com maioria se faz o que quer, se enfrenta até a lei. Politicamente, eles também têm maioria, mas, juridicamente e eticamente, tem que se investigar", disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
"Essa coisa deve ser examinada até o fim. Os fatos novos tem que ser analisados. Não precisa de apelos piegas de que "o presidente está sangrando" para que o caso seja encerrado. Quem está sangrando é o Senado", afirmou o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).
Renan Calheiros passou o final de semana em Brasília, reunido com assessores. Seu advogado, Eduardo Ferrão, defendeu o arquivamento do processo sob o argumento de a suspeita de uso de dinheiro de uma empreiteira não se confirmou.


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