São Paulo, quinta-feira, 18 de junho de 2009

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Governo indenizará moradores do Araguaia

Camponeses dizem que foram obrigados a guiar militares na busca por guerrilheiros durante a ditadura

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A MARABÁ (PA)

O governo Lula pedirá hoje a 91 moradores da região do Araguaia, no Pará, perdão por crimes cometidos contra eles há três décadas pelos militares que combatiam na selva amazônica a guerrilha organizada pelo então clandestino PC do B. Cada um receberá até R$ 100 mil de indenização.
O pedido de desculpas será apresentado em praça pública, na cidade de São Domingos do Araguaia (540 km ao sul de Belém), pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, e pelo presidente da Comissão de Anistia do governo, Paulo Abrão Júnior.
Os 91 -a maioria com idade entre 70 e 80 anos- foram selecionados em um grupo de 287 moradores da região do Araguaia, que inclui o sudeste do Pará, o sul do Maranhão e o norte de Tocantins. Eles foram interrogados pela Comissão de Anistia em 2007 e 2008. Será a primeira vez que camponeses sem ligação com movimentos sociais ou partidos receberão esse tipo de indenização.
Nos depoimentos, eles disseram ter sofrido tortura para confessar que apoiavam os guerrilheiros e apontar esconderijos. Muitos relataram que foram presos ilegalmente, além de obrigados a servir de guia dos militares na floresta.
A comissão decidiu que a indenização será em "prestação única", com teto de R$ 100 mil.
O episódio histórico conhecido como guerrilha do Araguaia aconteceu na segunda metade dos anos 60 e na primeira dos 70. Adepto da luta armada contra o regime militar, o PC do B enviou para o Araguaia cerca de 70 militantes, a maioria jovens.
Eles tinham a incumbência de iniciar um movimento, inspirado na revolução ocorrida na China nas décadas de 20, 30 e 40, que resultaria, na concepção dos dirigentes comunistas, na queda do governo militar.
Tropas do Exército, da Marinha e da Aeronáutica enviadas à floresta dizimaram os guerrilheiros. Até hoje não se sabe o paradeiro dos corpos de cerca de 60 militantes do PC do B.
Amanhã, outras supostas vítimas vão depor à comissão.


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