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Governo indenizará moradores do Araguaia
Camponeses dizem que foram obrigados a guiar militares na busca por guerrilheiros durante a ditadura
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A MARABÁ (PA)
O governo Lula pedirá hoje a
91 moradores da região do Araguaia, no Pará, perdão por crimes cometidos contra eles há
três décadas pelos militares
que combatiam na selva amazônica a guerrilha organizada
pelo então clandestino PC do B.
Cada um receberá até R$ 100
mil de indenização.
O pedido de desculpas será
apresentado em praça pública,
na cidade de São Domingos do
Araguaia (540 km ao sul de Belém), pelo ministro da Justiça,
Tarso Genro, e pelo presidente
da Comissão de Anistia do governo, Paulo Abrão Júnior.
Os 91 -a maioria com idade
entre 70 e 80 anos- foram selecionados em um grupo de 287
moradores da região do Araguaia, que inclui o sudeste do
Pará, o sul do Maranhão e o
norte de Tocantins. Eles foram
interrogados pela Comissão de
Anistia em 2007 e 2008. Será a
primeira vez que camponeses
sem ligação com movimentos
sociais ou partidos receberão
esse tipo de indenização.
Nos depoimentos, eles disseram ter sofrido tortura para
confessar que apoiavam os
guerrilheiros e apontar esconderijos. Muitos relataram que
foram presos ilegalmente, além
de obrigados a servir de guia
dos militares na floresta.
A comissão decidiu que a indenização será em "prestação
única", com teto de R$ 100 mil.
O episódio histórico conhecido como guerrilha do Araguaia
aconteceu na segunda metade
dos anos 60 e na primeira dos
70. Adepto da luta armada contra o regime militar, o PC do B
enviou para o Araguaia cerca de
70 militantes, a maioria jovens.
Eles tinham a incumbência
de iniciar um movimento, inspirado na revolução ocorrida
na China nas décadas de 20, 30
e 40, que resultaria, na concepção dos dirigentes comunistas,
na queda do governo militar.
Tropas do Exército, da Marinha e da Aeronáutica enviadas
à floresta dizimaram os guerrilheiros. Até hoje não se sabe o
paradeiro dos corpos de cerca
de 60 militantes do PC do B.
Amanhã, outras supostas vítimas vão depor à comissão.
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