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CELSO PINTO
Os juros podem cair
A pressão recente sobre a taxa
de câmbio, que amainou nos últimos dias, mas pode voltar, recolocou a discussão sobre até onde irá
a disposição do Banco Central em
continuar reduzindo as taxas de
juros.
O presidente do BC, Armínio
Fraga, tem sustentado, com firmeza, que, enquanto a inflação
continuar sob controle, os juros
continuarão a cair. Ele admite
que, se ocorrer a rodada de alta
nos juros americanos, ela poderá
afetar o fluxo de dólares para os
países emergentes, inclusive o
Brasil.
Se ficar mais difícil captar dólares, a pressão sobre o câmbio pode
aumentar. Ainda que esse cenário
se confirme, contudo, Armínio insiste que, enquanto o câmbio não
exercer alguma pressão inflacionária, não haverá razões para subir os juros internos.
Para sair do sufoco que acompanhou os primeiros meses da livre
flutuação cambial, o BC não hesitou em atrair capitais de curto
prazo, oferecendo vantagens fiscais temporárias. A entrada desse
capital ajudou muito a aliviar a
cotação do real frente ao dólar e
acelerou a restauração de alguma
credibilidade externa.
Se a situação complicar, o BC
poderia voltar a recorrer a esses
capitais? Armínio reafirma que o
país não deve depender de capitais de curto prazo e o incentivo
fiscal a essas aplicações acaba no
início de julho.
Existe uma boa razão para a firmeza do BC nessa questão. A livre
flutuação é uma recém-nascida
no Brasil e é natural que haja dúvidas no mercado em relação à
postura do BC.
Em tese, a política do BC deve
ser clara. Com o câmbio livre, a
política monetária, ou seja, as taxas de juros, deve ser guiada pelos
objetivos internos e não externos,
como acontecia com o regime de
câmbio controlado anterior.
Antes, os juros iam para o espaço para tentar atrair dólares para
sustentar a taxa de câmbio. Agora, os juros devem seguir a lógica
da economia: se o quadro é de recessão e baixíssima pressão inflacionária, como o atual, então os
juros devem cair. É o que está dizendo Armínio.
O problema é que a reação da
balança comercial, até agora, está
longe de conseguir equilibrar as
contas externas. O Brasil continua precisando da entrada de capitais para zerar suas contas, caso
contrário, o dólar vai subir.
A pressão cambial deste mês já
era esperada, dado o alto volume
de vencimentos externos. Essa
pressão não acabou. Dos US$ 2,8
bilhões em amortizações previstas, ainda vencerá US$ 1,2 bilhão
até o fim do mês. A emissão de eurobônus por empresas brasileiras
está virtualmente parada, com as
incertezas em relação aos juros
americanos.
Além disso, a saída de capitais
especulativos de curto prazo neste
mês deve ser expressiva. O estoque
dessas aplicações estava em US$
2,6 bilhões no dia 7 de junho. Não
vai cair a zero: mesmo no pior da
crise cambial, o estoque não caiu
abaixo de US$ 1,3 bilhão. De todo
modo, deve sair mais de US$ 1,5
bilhão no mês.
Julho não será muito melhor.
Estão previstas amortizações de
US$ 3,9 bilhões, e as colocações de
papéis devem continuar difíceis.
O BC ainda tem uma margem
razoável de intervenção no mercado dentro do acordo com o FMI
(US$ 1,9 bilhão neste mês), mas
tem evitado, até agora, entrar pesado. Provavelmente só vai fazê-lo se algum fator, externo ou interno, levar a uma oscilação claramente exagerada.
Tudo indica, portanto, que o BC
vai anunciar um novo corte dos
juros na reunião do Conselho de
Política Monetária (Copom) na
quarta-feira que vem, talvez para
20% ou 21%. Como a pressão de
vencimentos externos será muito
menor a partir de agosto, existe
uma chance razoável de a pressão
sobre o câmbio não fugir de controle.
Se a economia começar a se recuperar de forma mais significativa no segundo semestre, contudo,
o quadro pode complicar. Com
menos capacidade ociosa, subidas
mais fortes no câmbio poderão refletir alguma pressão inflacionária e abortar o movimento desejado de trazer os juros reais (acima
da inflação) para 10% no fim do
ano.
Existem duas maneiras de evitar isso. Uma seria aumentar a
entrada de recursos mais estáveis,
o que depende de um cenário externo razoável e de credibilidade
interna crescente (algo que a
aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal e/ou da reforma tributária poderia assegurar). Outra seria contar com um salto nas
exportações que cobrisse o buraco
externo, algo virtualmente impossível neste ano.
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