São Paulo, Sexta-feira, 18 de Junho de 1999
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Ex-reitor acusa Campelo de chefiar equipe que o torturou

PAULO MOTA
da Agência Folha, em Imperatriz (MA)

O ex-reitor da Universidade Federal do Amapá João Renôr Ferreira de Carvalho, 54, disse ontem em Imperatriz (MA) que o diretor-geral da Polícia Federal, João Batista Campelo, chefiou a equipe que o torturou em cela do 4º Exército, em Recife, em 1972.
Carvalho, hoje professor de história da Universidade Federal do Maranhão, ficou 12 dias preso. À época, era militante da Ação Católica Rural em Pernambuco.

Agência Folha - O sr. disse que estava assistindo TV nessa semana e que reconheceu o novo diretor-geral da PF, João Batista Campelo, da época em que foi preso político, em Recife, na década de 70...
João Renôr Ferreira de Carvalho -
É verdade, eu estava assistindo a TV Globo e reconheci a figura do delegado João Batista Campelo como sendo uma das pessoas que me interrogaram em 1972, quando fui torturado numa cela do 4º Exército, em Recife.

Agência Folha - O delegado chegou a torturá-lo?
Carvalho -
Não, o delegado Campelo não me torturou, mas estava presente entre um grupo de pessoas que me torturou na época em que fui preso, no início de 1972. Essa pessoa que eu reconheci na TV era a mesma que me interrogou nos últimos dias de prisão. Ele chefiava a equipe.

Agência Folha - Como foi o contato do sr. com o delegado Campelo na cela da prisão?
Carvalho -
Depois que sofri uma série de torturas de pessoas que eu não conseguia identificar, eu me lembro que um carcereiro chamado Valdeck me disse: olha, hoje você vai falar com o chefão, o doutor Campelo. Ele apareceu com uma voz mansa, meiga, pedindo desculpas pelos maus-tratos.

Agência Folha - E o que foi que o delegado Campelo disse mais?
Carvalho -
Ele veio me aconselhar. Disse que eu deveria sair do grupo dos católicos comunistas. Que eu deveria me associar ao governo e até me infiltrar no meio da militância católica. Ele disse também que, se eu fizesse isso, eu ia mudar de vida, deixar de ser pobre. Mas disse que, se eu não topasse, iria continuar sendo perseguido.

Agência Folha - E o sr. respondeu o quê?
Carvalho -
O que eu poderia responder naquelas condições. Eu disse que ia pensar, enrolei e disse qualquer coisa.

Agência Folha - Que tipos de torturas o senhor sofreu na prisão?
Carvalho -
Eu fui torturado com choques elétricos nos testículos, levei chutes no estômago, fui pendurado no pau-de-arara, levei pancadas nos rins e depois fui colocado numa cela alagada.

Agência Folha - O que eles perguntavam?
Carvalho -
Eles queriam saber de minhas ligações com o Partido Comunista. Eu não tinha ligações com o partido porque eu era militante da Ação Católica Rural.

Agência Folha - O senhor acredita que o delegado Campelo assistia essas sessões de tortura?
Carvalho -
Eu não tenho elementos para afirmar se ele assistia, mas, quando eu fui interrogado por ele, demonstrou que tinha conhecimento do que eu tinha falado anteriormente. No mínimo, ele foi conivente com a tortura.


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