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Ex-reitor acusa Campelo de chefiar equipe que o torturou
PAULO MOTA
da Agência Folha, em Imperatriz (MA)
O ex-reitor da Universidade Federal do Amapá João Renôr Ferreira de Carvalho, 54, disse ontem em
Imperatriz (MA) que o diretor-geral da Polícia Federal, João Batista
Campelo, chefiou a equipe que o
torturou em cela do 4º Exército,
em Recife, em 1972.
Carvalho, hoje professor de história da Universidade Federal do
Maranhão, ficou 12 dias preso. À
época, era militante da Ação Católica Rural em Pernambuco.
Agência Folha - O sr. disse que
estava assistindo TV nessa semana
e que reconheceu o novo diretor-geral da PF, João Batista Campelo,
da época em que foi preso político,
em Recife, na década de 70...
João Renôr Ferreira de Carvalho -
É verdade, eu estava assistindo a
TV Globo e reconheci a figura do
delegado João Batista Campelo como sendo uma das pessoas que me
interrogaram em 1972, quando fui
torturado numa cela do 4º Exército, em Recife.
Agência Folha - O delegado chegou a torturá-lo?
Carvalho - Não, o delegado Campelo não me torturou, mas estava
presente entre um grupo de pessoas que me torturou na época em
que fui preso, no início de 1972. Essa pessoa que eu reconheci na TV
era a mesma que me interrogou
nos últimos dias de prisão. Ele chefiava a equipe.
Agência Folha - Como foi o contato do sr. com o delegado Campelo na cela da prisão?
Carvalho - Depois que sofri uma
série de torturas de pessoas que eu
não conseguia identificar, eu me
lembro que um carcereiro chamado Valdeck me disse: olha, hoje você vai falar com o chefão, o doutor
Campelo. Ele apareceu com uma
voz mansa, meiga, pedindo desculpas pelos maus-tratos.
Agência Folha - E o que foi que o
delegado Campelo disse mais?
Carvalho - Ele veio me aconselhar. Disse que eu deveria sair do
grupo dos católicos comunistas.
Que eu deveria me associar ao governo e até me infiltrar no meio da
militância católica. Ele disse também que, se eu fizesse isso, eu ia
mudar de vida, deixar de ser pobre. Mas disse que, se eu não topasse, iria continuar sendo perseguido.
Agência Folha - E o sr. respondeu
o quê?
Carvalho - O que eu poderia responder naquelas condições. Eu
disse que ia pensar, enrolei e disse
qualquer coisa.
Agência Folha - Que tipos de torturas o senhor sofreu na prisão?
Carvalho - Eu fui torturado com
choques elétricos nos testículos,
levei chutes no estômago, fui pendurado no pau-de-arara, levei
pancadas nos rins e depois fui colocado numa cela alagada.
Agência Folha - O que eles perguntavam?
Carvalho - Eles queriam saber de
minhas ligações com o Partido Comunista. Eu não tinha ligações
com o partido porque eu era militante da Ação Católica Rural.
Agência Folha - O senhor acredita que o delegado Campelo assistia essas sessões de tortura?
Carvalho - Eu não tenho elementos para afirmar se ele assistia,
mas, quando eu fui interrogado
por ele, demonstrou que tinha conhecimento do que eu tinha falado
anteriormente. No mínimo, ele foi
conivente com a tortura.
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