São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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Eleição no Brasil lembra França em 81

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

As pressões financeiras atuais sobre o Brasil por causa das eleições são parecidas às que a França sofreu em 1981 com a chegada do socialista François Mitterrand à Presidência. A comparação é do presidente do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas, Jean-Paul Fitoussi, um dos mais respeitados economistas do país.
A vitória de Mitterrand (1916-1996) representou um sopro de esperança para a esquerda na França. Promessas eleitorais previam grandes reformas econômicas, nacionalizações de empresas e ampliação da justiça social.
Mitterrand foi obrigado a fazer uma "adaptação" das promessas. "Depois que chegou ao poder, o presidente constatou que uma mudança radical não era possível." Para Fitoussi, 59, a perspectiva é a mesma no Brasil, mesmo no caso de vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva. "Não creio que vamos assistir a uma mudança radical na política econômica."
Fitoussi será recebido hoje pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em Brasília, junto a Claude Allègre, ex-ministro da Educação, Thierry de Montbrial, diretor-presidente do Instituto Francês de Relações Internacionais, e Philippe Méchet, diretor do instituto de pesquisas Sofres.
Professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, Fitoussi é autor de "Le Débat Interdit" (O Debate Interdito, ed. Arléa).
Leia a seguir a entrevista dele à Folha, antes de viajar ao Brasil.
 

Folha - Por que os investidores estão com medo do Brasil?
Jean-Paul Fitoussi -
A crise no Brasil se deve essencialmente à inquietação do mercado financeiro com respeito às eleições. Não me parece que ela tenha origem em fatos econômicos particulares. Os investidores têm sempre medo de mudança (política).

Folha - Os investidores europeus teriam uma visão diferente dos americanos quanto ao Brasil?
Fitoussi -
Há uma situação de expectativa geral com a crise nas Bolsas. Isso faz com que a situação a curto prazo não seja muito favorável. Mas, a longo prazo, é claro que é do interesse dos europeus investir no Brasil. É um país com condições potenciais econômicas muito boas. Vive num regime democrático, onde há segurança para investimentos.

Folha - Os investidores não teriam receio de que essa segurança terminasse com a vitória de um candidato de esquerda?
Fitoussi -
O que está acontecendo é um fenômeno do tipo que ocorreu na França em 1981, quando Mitterrand chegou ao poder. Não creio que vamos assistir a uma mudança radical na política econômica e não creio em moratória da dívida no Brasil.

Folha - O sr. poderia precisar melhor a comparação entre o Brasil de hoje e a França de 1981?
Fitoussi -
Na época, o candidato da esquerda (Mitterrand) propunha uma mudança radical. Depois que chegou ao poder, constatou que uma mudança radical não era possível e que seria preciso compor com o mercado.

Folha - O sr. não vê, então, motivo para a intranquilidade diante de uma possível vitória de Lula?
Fitoussi -
Evidentemente, eles prefeririam outro candidato. Mas eles não deveriam ter muito a temer com a chegada de um governo de esquerda no Brasil.

Folha - O investidor George Soros disse que, se Lula for eleito, um caos pode se instalar no Brasil.
Fitoussi -
Penso que não haveria um caos, embora possa haver problemas sérios no primeiro ano de governo. Eu não tenho a impressão de que o candidato socialista no Brasil esteja convencido de que uma mudança radical seja possível.



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