São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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PERSONALIDADE

Líder indígena morreu de diabetes crônica

Juruna, único deputado federal índio, morre aos 58 anos no DF

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO BANCO DE DADOS

O líder xavante Mário Juruna, 58, morreu ontem no hospital Santa Lúcia, em Brasília, devido a complicações resultantes de uma diabetes crônica. Juruna foi o primeiro e único deputado federal índio do país. Elegeu-se pelo PDT do Rio, em 1982, com 31.904 votos. Em 1986, porém, conseguiu apenas 10.747 votos e não conseguiu a reeleição.
Natural de Couto de Magalhães (MT), onde nasceu em 1943, viveu até os 17 anos na floresta, sem contato com a civilização. Tornou-se então cacique da aldeia xavante Namurunjá, em Barra do Garça (MT).
Em 1977, tentou falar com o presidente Ernesto Geisel para pedir agasalhos e sapatos para sua comunidade. Não teve êxito, mas passou a perambular por Brasília, tentando falar com qualquer autoridade que pudesse dar assistência aos índios. Logo se convenceu que os "homens brancos" eram mentirosos e passou a usar um gravador para registrar promessas dos políticos. A experiência lhe serviu de base para publicar um livro, "O Gravador de Juruna".
Em 1980, o governo tentou impedir que ele fosse ao 4º Tribunal Bertrand Russel, em Roterdã, na Holanda, como representante dos índios brasileiros. Recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) e obteve permissão para viajar. Recebido em triunfo, foi escolhido para presidir o tribunal. Voltou ao país fazendo críticas ao regime militar.
Ingressou no PDT em 1981 e, no ano seguinte, foi eleito deputado. Estreou na tribuna da Câmara no Dia do Índio, 19 de abril, pedindo a renúncia do presidente João Baptista Figueiredo e de todo o ministério. Sugeriu o retorno dos militares aos quartéis e pediu que a Funai fosse administrada por índios. Em setembro, chamou vários ministros de corruptos e ladrões.
Em 25 de abril de 1984 votou a favor da emenda das diretas e, em outubro, acusou o empresário Calim Eid de tentar suborná-lo para que não votasse em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1985. No dia 26 daquele mês, depositou no Banco do Brasil, em favor de Eid, os Cr$ 30 milhões que teria recebido da campanha de Paulo Maluf: "Agora estou com a consciência aliviada e vou votar no Tancredo". Maluf negou o suborno.
Deixou o PDT após sua derrota. Tornou-se assessor do Congresso. Tentaria voltar à Câmara em 1990 e 1994, sem êxito.
Em 2000, já bastante enfermo, desabafou: "Todos me procuravam, diziam que eu falava bem. Muita gente subiu no meu ombro. Muito homem branco se levantou assim. Depois de meu mandato, fui abandonado".



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