São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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LAVOURA ARCAICA

Prefeitos dizem que não há trabalho escravo

Prefeituras contestam ministério

DA ENVIADA ESPECIAL AO SUL DO PARÁ

Prefeitos de quatro municípios que estão entre as áreas de maior incidência de trabalho escravo -Sorriso (MT), Eduardo Magalhães (BA), Redenção e Curionópolis (PA)- contestam diagnóstico do Ministério do Trabalho.
Redenção, no sul do Pará, aparece nos processos de fiscalização do ministério como centro de aliciamento de trabalhadores rurais que acabam em situação análoga à de escravos. Há informações de que haveria de 60 a 70 empreiteiros dessa mão-de-obra na cidade.
O prefeito de Redenção, Mário Moreira (PSDB), sustenta que não há trabalhadores escravos em Redenção. ""Os problemas estão nos municípios vizinhos", afirma. Segundo ele, como Redenção é uma cidade pólo, as fazendas têm seus escritórios lá.
O prefeito de Curionópolis, Sebastião Curió de Moura, sustenta também que não há trabalhador rural em condição de escravo no município. ""Minha relação com os proprietários rurais é muito boa, nem podia ser diferente, porque há 300 mil cabeças de gado no município. O que existe são trabalhadores sem carteira de trabalho, mas todos são livres", afirma.
O prefeito de Sorriso, José Domingos Fraga Filho (PMDB), fala com orgulho que as fazendas do município possuem tecnologia de ponta e que quase não usam mão-de-obra bruta braçal. São cerca de 5.000 tratores em atividade, para uma população de 52 mil pessoas.
Segundo Fraga Filho, Sorriso é o município com o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de Mato Grosso, e tem renda per capita mensal de R$ 500.
Ao ser informado de que três produtores de soja da cidade foram autuados em 2003, ele disse que iria averiguar o problema.
O prefeito do município de Luiz Eduardo Magalhães (BA), Oziel Oliveira (PP), diz que o governo deveria se preocupar em construir obras de infra-estrutura no campo, em vez de ficar ""produzindo estatísticas". Foi na região oeste da Bahia que ocorreram as operações de fiscalização de maior vulto em 2003, com o resgate de mais de mil trabalhadores.
Na avaliação de Oliveira, não se poderia falar em trabalho escravo na região. ""Os trabalhadores podem sair na hora que quiserem, até porque não há cerca nas fazendas." Ele diz que a divulgação dada às autuações do Ministério do Trabalho prejudicou a região -que tem 3 milhões de hectares de cerrado passíveis de uso para plantio- e que muitos investidores teriam perdido o interesse.
(ELVIRA LOBATO)

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