São Paulo, Domingo, 18 de Julho de 1999
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DOMINGUEIRA
Presente de Greca

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo

É mero preconceito enviesado o fato de a querela criada em torno da encomenda de um "hino" dos 500 anos a Chitãozinho e Xororó estar se voltando contra os artistas -sob a forma de juízos em torno da qualidade da música produzida pela dupla. Não é, obviamente, o caso. Não é o gosto que está em questão, tampouco a "autenticidade" dos compositores, mesmo porque o duo sertanejo ou neo-sertanejo ou seja lá o que for está claramente relacionado a um universo cultural que se estende pelo interior do país e alcança até mesmo a faixa litorânea.
Pode-se discutir se esse universo e sua trilha sonora representam mais ou menos o Brasil do que a axé music, o pagode, a bossa-nova, o Chico Buarque, o Tiririca, o Paulo Ricardo ou a Xuxa. Mas novamente não é esse o ponto.
A questão é saber o que se pretende fazer das comemorações dos 500 anos do Descobrimento: um picadeiro para que o ministro Greca e outros cidadãos do gênero exibam suas habilidades cívico-circenses ou uma oportunidade para recolocar em cena o país e estimular o interesse por sua história, por suas utopias, suas possibilidades e seu caráter.
O ministro Greca é um tipo divertido, um bom frasista, um sujeito daqueles que estão sempre despertando atenção. Um pratinho para a mídia, uma espécie de Serjão miniaturizado e café com leite.
É uma pena que seja ele -pelo que tem demonstrado- o homem que vai assumindo no governo o comando das comemorações. A opereta bufa, pelo visto, ainda mal começou.

Morreu Franco Montoro, que passará à história como um dos melhores governadores de São Paulo. Eram diferentes os tucanos naqueles tempos -ou será uma ilusão criada pela distância?
Não há muito o que acrescentar às críticas já feitas à lei paulistana que obriga o fechamento de bares à 1h. É espantosa a capacidade do Brasil de desmoralizar as leis, de transformá-las, já no nascedouro, em algo pouco crível, para a seguir tornarem-se burláveis e, finalmente, esquecidas e inoperantes.
É assim que não se constrói uma democracia.


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