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DOMINGUEIRA
Presente de Greca
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo
É mero preconceito enviesado o fato de a querela criada em
torno da encomenda de um "hino" dos 500 anos a Chitãozinho
e Xororó estar se voltando contra os artistas -sob a forma de
juízos em torno da qualidade
da música produzida pela dupla. Não é, obviamente, o caso.
Não é o gosto que está em questão, tampouco a "autenticidade" dos compositores, mesmo
porque o duo sertanejo ou neo-sertanejo ou seja lá o que for está claramente relacionado a um
universo cultural que se estende
pelo interior do país e alcança
até mesmo a faixa litorânea.
Pode-se discutir se esse universo e sua trilha sonora representam mais ou menos o Brasil
do que a axé music, o pagode, a
bossa-nova, o Chico Buarque, o
Tiririca, o Paulo Ricardo ou a
Xuxa. Mas novamente não é esse o ponto.
A questão é saber o que se pretende fazer das comemorações
dos 500 anos do Descobrimento:
um picadeiro para que o ministro Greca e outros cidadãos do
gênero exibam suas habilidades
cívico-circenses ou uma oportunidade para recolocar em cena
o país e estimular o interesse por
sua história, por suas utopias,
suas possibilidades e seu caráter.
O ministro Greca é um tipo divertido, um bom frasista, um
sujeito daqueles que estão sempre despertando atenção. Um
pratinho para a mídia, uma espécie de Serjão miniaturizado e
café com leite.
É uma pena que seja ele -pelo que tem demonstrado- o
homem que vai assumindo no
governo o comando das comemorações. A opereta bufa, pelo
visto, ainda mal começou.
Morreu Franco Montoro, que
passará à história como um dos
melhores governadores de São
Paulo. Eram diferentes os tucanos naqueles tempos -ou será
uma ilusão criada pela distância?
Não há muito o que acrescentar
às críticas já feitas à lei paulistana que obriga o fechamento de
bares à 1h. É espantosa a capacidade do Brasil de desmoralizar as leis, de transformá-las, já
no nascedouro, em algo pouco
crível, para a seguir tornarem-se burláveis e, finalmente, esquecidas e inoperantes.
É assim que não se constrói
uma democracia.
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