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INCENTIVOS FISCAIS
Embaixada envia documento ao Itamaraty
Argentina exige mudanças em lei que possibilita Ford na BA
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
A Argentina exige mudanças
significativas na lei que tornou
possível a ida da Ford para a Bahia, pois, do contrário, não considerará os seus carros como produto do Mercosul.
"Sua produção (da Ford na Bahia) em nenhuma hipótese poderia ser considerada originária do
Mercosul", diz documento de dez
parágrafos da Embaixada da Argentina, expressando "grave
preocupação" diante das facilidades fiscais para a Ford. O texto, ao
qual a Folha teve acesso, foi enviado ao Itamaraty.
Segundo o embaixador Jorge
Hugo Herrera Vegas, o aviso é para valer: "Se ela (a Ford) vier a ser
montada nessas condições, seus
veículos serão tratados na Argentina como se viessem de um terceiro país", tem dito.
O documento argentino também adverte que a implantação
da fábrica da Ford na Bahia com
incentivos excepcionais "motivará necessariamente a revisão do
período de transição acordado
para a vigência da Política Automotora Comum".
O que a Argentina não aceita é a
ampliação do prazo, aprovada
pelo Congresso, para a habilitação de montadoras que queiram
se instalar no Norte, Nordeste e
Centro-Oeste, com isenções e reduções fiscais excepcionais.
Exemplos: isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) na compra de maquinaria
e equipamentos; redução de 45%
desse imposto sobre a compra de
matérias-primas; e isenção de
IOF (Imposto sobre Operações
Financeiras) nas transações de
câmbio para a importação. Além
de bônus de importação proporcionais à produção interna.
O documento argentino critica,
ainda, dois outros resultados paralelos da ampliação do prazo do
setor automotivo especial só para
garantir a ida da Ford para a Bahia: a possibilidade de extensão
de benefícios para outras empresas e para o setor de autopeças na
região. Trechos:
1) "O artigo 11 da Lei 9.440 (que
beneficia a empresa) faculta ao
presidente da República estender
os benefícios deste regime de promoção regional e nesse caso (...)
as condições de concorrência no
Mercosul se verão seriamente distorcidas";
2) "Não se pode esquecer a relação entre a modificação legal e a
decisão de uma multinacional do
setor automotor de investir no Estado da Bahia, para implantar
uma fábrica final e seus respectivos provedores de autopeças, os
quais poderão receber os mesmos
incentivos, gerando uma distorção de concorrência também nesse setor".
Segundo o embaixador, a Ford
na Bahia pretende produzir sozinha 250 mil veículos por ano, enquanto toda a produção anual da
Argentina chega a 350 mil.
"A nova montadora distorceria
a competição e criaria um desequilíbrio na composição atual, em
que o Brasil é responsável por
dois terços da produção de automóveis no Mercosul, e a Argentina, por um terço."
Herrera Vegas, porém, nega categoricamente que as cotas anunciadas pelo seu país na quarta-feira para os têxteis brasileiros tenham sido uma retaliação.
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