São Paulo, Domingo, 18 de Julho de 1999
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JANIO DE FREITAS
Dá no mesmo

Foi a mais original operação política destes tempos de modernidade neoliberal.
Toda a pressão desfechada por uma reforma no ministério tinha o propósito particular de diminuir a estatura de Antonio Carlos Magalhães, para retirar a sombra que lança sobre a Presidência, e a finalidade geral de retirar do PFL e do PMDB os principais instrumentos de governo que os fortalecem política e eleitoralmente. Objetivo claro, plano simples. Simplório até.
Conveniências pessoais disputavam certos aspectos do plano, mas o essencial era apenas o óbvio. Antonio Carlos seria atingido pela perda de ao menos um dos seus dois ministérios e por embaraços na questão da Ford. PMDB e PFL trocariam ministérios fortes por outros e o PSDB, beneficiado pelas perdas alheias, afinal entraria até no Planalto, pelo Gabinete Civil.
Ao transformar o plano peessedebista em operação política, Renato Aragão alcançou uma das grandes exibições do seu talento. Na barafunda aflita e perplexa que criou, acabou substituindo apenas quatro ministros e, dos quatro, um era do inexpressivo PPB, só um do PMDB e dois, fantástico, do PSDB (respectivamente Turra, Renan, Lafer e Bresser).
Já no desespero porque não conseguia preencher os buracos, e passados três dias e cinco adiamentos de inconclusões da mexida, Renato Aragão fez ao peemedebista Fernando Bezerra, para aceitar um novo ministério, concessões tão excessivas, que o ministro da Fazenda as repelira em nota oficial -devidamente deglutida, um dia depois. Na troca do Ministério da Justiça por esse novo, o PMDB saiu ganhando política e eleitoralmente. O PFL e Antonio Carlos Magalhães nada perderam e ainda ganharam um interlocutor, senão um simpatizante, no Gabinete Civil, Pedro Parente. Criador da "reforma ministerial", o PSDB nem está onde já estava, porque Renato Aragão não lhe manteve a Ciência e Tecnologia.
Ganho administrativo e ganho partidário, o governo não teve. Se Renato Aragão considerar o que foi escrito e dito a seu respeito nos meios de comunicação, durante a semana, pela maneira como se enredou em uma operação desnecessariamente precipitada e conduzida com amadorismo grotesco, concluirá que a mexida foi, de fato, em seu prestígio. Ou melhor, no que sobrava dele.
Renato Aragão? Bom, dá no mesmo.

Só aumentos
Aí vem o sexto aumento dos combustíveis nesse ano. Chegam já, no índice dos percentuais divulgados pelo governo, a 50%. Para o consumidor, dependendo do fornecedor, podem chegar a 70% e mais. Caso certo da gasolina.
Diz-se, nos jornais, que ANP é a Agência Nacional de Petróleo criada pelo governo para administrar o setor petrolífero. Não, o N e P querem dizer outra coisa: Agência Negociadora de Preços.

Lembrança
Franco Montoro: não se sabe de um só gesto, na longa vida pública, em que lhe faltasse lealdade; aos adversários tratou como democratas verdadeiros, sem jamais menosprezar ou insultar; aos cidadãos dedicou suas atenções sem discriminação, mas com olhos especiais para os carentes de todos os tipos; ao país dedicou contribuições muito importantes, nas lutas políticas por instituições dignas e, na luta parlamentar, com o trabalho orientado pela visão de estadista.
Franco Montoro: suave e forte exemplo.


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