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REFORMA SOB PRESSÃO
Falta de acordo pode levar governo a perder arrecadação
Negociação da tributária já ameaça cobrança da CPMF
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo já teme perder pelo
menos alguns dias de arrecadação
da CPMF (imposto do cheque)
em decorrência da complicada
negociação da reforma tributária.
Para a contribuição ser cobrada
a partir de janeiro de 2004 com a
alíquota de 0,38%, a proposta de
emenda constitucional tem de ser
aprovada em dois turnos de votação na Câmara dos Deputados e
no Senado até o final de setembro.
Ou seja, faltam menos de seis semanas entre a votação na comissão especial da Câmara, prevista
para esta quinta-feira, e o prazo limite para a promulgação da mudança constitucional. Cada mês
de atraso na votação representa
cerca de R$ 2 bilhões a menos nos
cofres públicos -quase metade
de tudo o que o governo pretende
investir neste ano, por exemplo.
Só há uma hipótese de o governo evitar perda na arrecadação:
um amplo e surpreendente acordo entre deputados e senadores
sobre a reforma nos tributos, que
garanta pelo menos 308 votos na
Câmara e mais 49 no Senado.
"Temos maioria para aprovar a
reforma", arrisca o líder do governo na Câmara, Aldo Rebelo (PC
do B-SP). "Se acontecer uma perda de alguns dias, não será um
grande problema. O grave é atrasar 30, 60 dias", pondera o deputado Paulo Bernardo (PT-PR), especialista em orçamento.
A proposta de Orçamento da
União para 2004, que o governo
envia ao Congresso até o fim da
próxima semana, já conta integralmente com a arrecadação da
CPMF. "Sem a alíquota de 0,38%
[sobre movimentações financeiras] da CPMF e sem a DRU [Desvinculação de Receitas da União,
mecanismo que dá mais liberdade de gastos ao governo], o Orçamento não fecha", diz Bernardo.
O maior obstáculo político para
a renovação da CPMF -que perderia finalmente o caráter de tributo temporário após quase dez
anos- é a pressão de governadores e prefeitos para ficar com uma
parte da arrecadação.
Depois de concordar em dividir
com os Estados a quarta parte da
arrecadação da Cide (tributo cobrado na venda de combustíveis),
o governo insiste em não ceder
mais aos governadores e prefeitos, cujo lobby ganhou o apoio
nas últimas semanas das bancadas do PFL e do PSDB, além da
solidariedade dos senadores do
PMDB e até da bancada do PL,
aliado de primeira hora de Lula.
Na comissão especial da Câmara, onde a reforma tributária enfrentará seu primeiro teste nesta
semana, esses partidos detêm metade dos 38 membros.
Governadores e prefeitos alegam que Estados e municípios
perderam arrecadação. Para os
interlocutores de Lula no Congresso, dividir a CPMF significaria "dinamitar" o Orçamento federal. Um dos argumentos dos
petistas para tentar convencer a
oposição é que o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso governou oito anos com a contribuição. O tributo foi criado em 1993,
ainda no governo Itamar Franco.
A alternativa de aumentar a alíquota da CPMF e fazer o contribuinte pagar uma conta maior está descartada por ora. O deputado
Virgílio Guimarães (PT-MG) disse ontem que manterá, em seu relatório, a alíquota máxima de
0,38% cobrada atualmente sem
rateio com os Estados. Pelas regras atuais, no próximo ano a
CPMF continuaria existindo, mas
com uma alíquota de 0,08%.
O texto será submetido hoje cedo aos líderes partidários, com
um pequeno atraso em relação ao
acordo feito na semana passada.
A apresentação do texto está prevista para a noite, na comissão.
Segundo o relator, faltavam ajustes sobre como vai funcionar o
fundo de compensação para os
Estados que perderem com a nova fórmula de cobrança do ICMS.
Colaborou SÍLVIA MUGNATTO
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