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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LULA NA MIRA
Presidente da CNBB considera insuficiente pronunciamento de sexta-feira passada e diz que crise provoca "indignação ética"
D. Geraldo cobra novas explicações de Lula
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM INDAIATUBA
O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil) e arcebispo de Salvador
(BA), dom Geraldo Majella Agnelo, 71, disse ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda
tem "muita coisa" a explicar à nação sobre as denúncias de corrupção que envolvem o governo federal. Ele disse não saber "se atingimos o fundo do poço".
"Eu penso que ainda falta muita
coisa [a explicar]. Não sei se nós já
atingimos o fundo do poço ou se
estamos só na metade. Então é
importante que a gente saiba de
tudo o que aconteceu e que se ponha a claro", disse.
A declaração foi feita ontem no
encerramento da Assembléia Geral da CNBB, em Indaiatuba (SP).
Para d. Geraldo, o pronunciamento feito por Lula na sexta-feira passada foi insuficiente.
"Nós temos o desejo de que ele
[Lula] faça uma verdadeira apresentação da situação do país e
também sobre a crise política.
Que ele faça outras intervenções
diretas. O povo quer saber e ele,
como primeiro mandatário, deve
responder", afirmou.
A CNBB apresentou a declaração central que reúne os temas
debatidos pelos bispos durante os
oito dias da Assembléia Geral. Entre os temas estão o papel da Igreja Católica na inclusão social, o
posicionamento da CNBB diante
de questões de bioética e sobre a
conjuntura política do país.
O tema central da assembléia
deste ano foi "Evangelização e
Profetismo -Missão da Igreja
diante dos desafios atuais". O documento termina com uma mensagem de "esperança" à nação.
Na declaração oficial sobre a crise política no país, divulgada na
sexta-feira à noite, a CNBB afirma
que a situação atual "está levando
o povo ao descrédito da ação política" e provoca em todos uma "indignação ética".
Os bispos dizem ainda ser "urgente uma radical e profunda reforma do sistema político-eleitoral brasileiro".
Na abertura da assembléia, a
CNBB recebeu carta de Lula, na
qual ele afirmou ter "plena noção
da gravidade" da crise política.
Expulsão
O presidente da CNBB defendeu a expulsão partidária de
membros do PT e de outras siglas
envolvidos em denúncias de corrupção. "O PT não é o único [partido] que está sendo investigado."
D. Geraldo disse estar decepcionado com a ação de alguns petistas. "Nós temos uma decepção,
sobretudo, com aqueles que estavam falando e agindo desastrosamente em nome do partido. Mas
sabemos que existem deputados,
senadores e gente de bem que trabalham para o bem do país."
O arcebispo afirmou que a
CNBB apoia o governo, mas cobrou ampla investigação das denúncias e pediu a devolução do
dinheiro desviado. "Não basta
prisão, tem de devolver", disse.
Para d. Geraldo, um eventual
impeachment do presidente traria mais problemas ao país.
"É importante que a população
não queira apelar para nenhuma
reação extrema", disse. Mas disse
que "está faltando participação e
organização do nosso povo, não
só para sair às ruas e fazer manifestações públicas mas se organizar em vários níveis para manifestar o que pensa."
Questionado se ele acha que Lula sabia de esquemas de corrupção no governo o arcebispo respondeu: "Se ele não tem conhecimento, que ele obtenha o conhecimento necessário".
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