São Paulo, quinta-feira, 18 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LULA NA MIRA

Presidente da CNBB considera insuficiente pronunciamento de sexta-feira passada e diz que crise provoca "indignação ética"

D. Geraldo cobra novas explicações de Lula

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM INDAIATUBA

O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e arcebispo de Salvador (BA), dom Geraldo Majella Agnelo, 71, disse ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda tem "muita coisa" a explicar à nação sobre as denúncias de corrupção que envolvem o governo federal. Ele disse não saber "se atingimos o fundo do poço".
"Eu penso que ainda falta muita coisa [a explicar]. Não sei se nós já atingimos o fundo do poço ou se estamos só na metade. Então é importante que a gente saiba de tudo o que aconteceu e que se ponha a claro", disse.
A declaração foi feita ontem no encerramento da Assembléia Geral da CNBB, em Indaiatuba (SP). Para d. Geraldo, o pronunciamento feito por Lula na sexta-feira passada foi insuficiente.
"Nós temos o desejo de que ele [Lula] faça uma verdadeira apresentação da situação do país e também sobre a crise política. Que ele faça outras intervenções diretas. O povo quer saber e ele, como primeiro mandatário, deve responder", afirmou.
A CNBB apresentou a declaração central que reúne os temas debatidos pelos bispos durante os oito dias da Assembléia Geral. Entre os temas estão o papel da Igreja Católica na inclusão social, o posicionamento da CNBB diante de questões de bioética e sobre a conjuntura política do país.
O tema central da assembléia deste ano foi "Evangelização e Profetismo -Missão da Igreja diante dos desafios atuais". O documento termina com uma mensagem de "esperança" à nação.
Na declaração oficial sobre a crise política no país, divulgada na sexta-feira à noite, a CNBB afirma que a situação atual "está levando o povo ao descrédito da ação política" e provoca em todos uma "indignação ética".
Os bispos dizem ainda ser "urgente uma radical e profunda reforma do sistema político-eleitoral brasileiro".
Na abertura da assembléia, a CNBB recebeu carta de Lula, na qual ele afirmou ter "plena noção da gravidade" da crise política.

Expulsão
O presidente da CNBB defendeu a expulsão partidária de membros do PT e de outras siglas envolvidos em denúncias de corrupção. "O PT não é o único [partido] que está sendo investigado."
D. Geraldo disse estar decepcionado com a ação de alguns petistas. "Nós temos uma decepção, sobretudo, com aqueles que estavam falando e agindo desastrosamente em nome do partido. Mas sabemos que existem deputados, senadores e gente de bem que trabalham para o bem do país."
O arcebispo afirmou que a CNBB apoia o governo, mas cobrou ampla investigação das denúncias e pediu a devolução do dinheiro desviado. "Não basta prisão, tem de devolver", disse.
Para d. Geraldo, um eventual impeachment do presidente traria mais problemas ao país.
"É importante que a população não queira apelar para nenhuma reação extrema", disse. Mas disse que "está faltando participação e organização do nosso povo, não só para sair às ruas e fazer manifestações públicas mas se organizar em vários níveis para manifestar o que pensa."
Questionado se ele acha que Lula sabia de esquemas de corrupção no governo o arcebispo respondeu: "Se ele não tem conhecimento, que ele obtenha o conhecimento necessário".


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