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FESTA E PODER
Segundo empresário cujo nome está na lista de telefones de Jeany Mary Corner, havia clientes "figurões da República"
"O preço depende do bolso de quem solicita e da menina"
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O parlamentar atende ao celular e responde em voz alta: "É o
senador Valmir Amaral". Do outro lado da linha, a reportagem
se apresenta, dizendo que o número do senador está entre os
acionados por Jeany Mary Corner, suposta agenciadora de meninas de programa para festas
com políticos pagas pelo caixa de
Marcos Valério de Souza.
Amaral (PP-DF) soa desconcertado e diz que é apenas "amigo" de Jeany. Questionado sobre
se costuma utilizar os serviços da
agenciadora, diz que não responderá mais nada. E desliga.
Conhecido pelas festas de arromba que promove em sua casa
no Lago Sul, o senador ouviu reclamações quando recebeu para
comemorar a candidatura de
Renan Calheiros à presidência
do Senado, em fevereiro. Algumas mulheres de parlamentares
não gostaram de dividir o ambiente com garotas de programa.
"Ah, então são assim as festas
que você freqüenta em Brasília?", teria perguntado a mulher
de um senador.
A Folha teve acesso a uma lista
de 50 telefones acessados por
Jeany: muitos caíam em caixa
postal, outros em interlocutores
que se faziam de desentendidos e
desligavam, motoristas de táxi e
gente que se dizia surpresa.
Outros, como Rogério Buratti,
ex-secretário do hoje ministro
Antônio Palocci (Fazenda), em
sua primeira gestão como prefeito de Ribeirão Preto, assumiram
a "amizade" com Jeany. Buratti
conta que, por meio de uma
"amiga" chamada Patrícia, esteve "umas duas vezes" com Jeany.
A fama nacional da agenciadora veio tarde, aos 45 anos, completados em 25 de julho. Mas o
nome Jeany Mary Corner é, há
muito, conhecidíssimo em hotéis de Brasília e no Congresso.
Ela odeia a palavra "cafetina".
Chamada a depor no Conselho
de Ética da Câmara, a agenciadora dirá, em qualquer instância,
que "organiza festas" e oferece
"recepcionistas selecionadas".
Quem diz são amigos policiais.
Jeany não atende ao celular
nem a porta de seu escritório na
Asa Sul. Intermediários dizem
que ela só vai contar o que sabe
em troca de dinheiro. Seria uma
retaguarda, dizem, para garantir
o período em que, por causa das
revelações, ficaria sem trabalho.
Tratam do assunto com desenvoltura, chutando cifras altas:
"US$ 2 milhões, R$ 3 milhões".
Segundo eles, a "organizadora
de festas" toma remédio para
controlar a pressão e não permite que as meninas que trabalham
para ela bebam ou se droguem.
Segundo os festeiros, essas meninas fazem serviço completo.
Cobram de R$ 100 a R$ 10 mil
por programa, segundo conta
um empresário cujo número do
celular também está na lista dos
acionados por Jeany.
"O preço depende do bolso de
quem solicita e da menina. Ela
traz gente de todo o Brasil, capas
de revistas de mulheres nuas. E
entre os clientes estão figurões
da República", conta. Segundo
afirma, ele conheceu a "organizadora de festas" em um bar de
Brasília chamado Armazém do
Ferreira. "Nem sabia que ela lidava com isso. Fiquei sabendo
pelos jornais." E por que o telefone dele aparece tanto na lista?
"Com o tempo, nos tornamos
amigos de celular", ele ri.
Outro número que aparece na
lista de Jeany é o do filho mais velho dela, Paulo, 25: "Não perde o
seu tempo, véio", ele interrompe
o repórter, "adianto logo que
não vou falar nada sobre o assunto", diz, irredutível.
Um amigo de Paulo, também
com o número na lista, conta que
conheceu o rapaz em uma mesa
no Bar Bexiga, na 405 Sul. "Ele
faz educação física, é bombadinho, mal encarado; eu o conheci
em uma mesa de bar. Ultimamente, o que ouvia dos outros
caras é que ele estava muito envergonhado. Tinha até a brincadeira de que ele era um autêntico
"filho da p...'", conta o amigo.
Nas casas freqüentadas por garotas de programa em Brasília,
como Bonaparte, Gol e Apple, as
meninas dizem que o programa
está na faixa dos R$ 300. "Vai na
casa do Lago Sul, bobo, é lá onde
as coisas acontecem", ela diz, referindo-se à mansão onde supostamente se comemoravam os
rombos nos cofres públicos.
Ninguém atende à campainha
na casa. "Desiste", aconselha
uma freqüentadora da noite.
"Agora, não vai ter festa em Brasília tão cedo."
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