São Paulo, quinta-feira, 18 de agosto de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Monitoramento

O presidente da CNBB surgiu na web dizendo que a Igreja Católica "não faz coro aos que defendem a proscrição do presidente da República". No enunciado, "CNBB é contra o afastamento de Lula".
Não faltaram as cobranças de investigação e as referências ao "péssimo uso" do dinheiro do povo, mas era o bastante para dar algum ânimo ao petista.
Ele próprio surgiu na escalada de telejornais, canais de notícias, rádios, em nova inauguração. No "Jornal da Record", por exemplo, "Lula diz que muita gente quer jogar corrupção para dentro do Palácio, mas garante ter a consciência limpa".

 

Mas a oposição não desiste tão fácil. Para o Sítio do Sergio Leo, blog do jornalista do "Valor", o PFL e o PSDB vão buscar "até novembro de 2006 uma espécie de monitoramento de Lula".
Até então, "não interessa à oposição dar condições a ele de apresentar grandes realizações" -e, mais, interessa "acuar o presidente" nas cordas.
Segundo o Blog do Noblat, foi exatamente para "para não dar sossego ao governo" que PFL e PSDB entraram com o pedido que virou manchete na Folha Online e outros, à noite:
- Oposição pede reabertura das contas de 2002 de Lula.
 

A manchete durou uns poucos minutos na maioria dos sites, trocada logo pelo enunciado "Oposição perde e Câmara aprova o mínimo de R$ 300".
Para o Globo Online, "alguns parlamentares da oposição" protestaram no plenário, com direito a palavrões. Mas o jogo de cena não perdurou, diante dos esforços até de Fernando Gabeira contra o aumento maior, segundo Sergio Leo.
 

Registre-se, de todo modo, que nem toda a oposição tucano-pefelista abriu mão de buscar o impeachment do petista.
O Blog do Cesar Maia chegou a dar a mensagem "Extrato de documento preparado por um marqueteiro da oposição". Do texto do tal marqueteiro:
- A diferença entre Collor e Lula é que, no primeiro caso, as denúncias evidenciaram que as irregularidades beneficiaram os envolvidos individualmente. Até agora, [só] o carro de Silvio Pereira e a empresa do filho de Lula. Isso faz a corrupção ser vista de uma forma diferente no inconsciente coletivo.
Daí a estratégia proposta:
- Para se dar a mesma idéia de corrupção do caso Collor, há que se investir na descobertura e divulgação de benefício pessoal de membros do PT e parentes presidenciais (viagens luxuosas, carros e roupas sofisticados). Há que se eliminar a idéia de que os desvios de conduta aconteciam apenas em nome da política.
E tem gente que enxerga na crise o fim dos marqueteiros. Eles estão em plena ação.

NAS RUAS
"SBT Brasil"/Reprodução
O boneco de Lula é queimado no protesto

No relato sempre desconfiado da Globo, ainda à tarde:
- Mais um dia de protesto em Brasília. Seis mil, segundo a PM, se concentram na Esplanada dos Ministérios. Desta vez, contra a corrupção e o governo Lula.
O site Globo Online naquele mesmo momento dava manchete, "PT pede desculpas e antigos aliados gritam Fora Lula" -e falava em 15 mil, segundo a PM. No "JN", depois, 12 mil, segundo a PM.
Com cobertura desconfiada nas Globos, o protesto "de partidos de esquerda" foi destaque no site Carta Maior e outros de esquerda. Apesar do "Fora Lula" nos bordões e dos bonecos, Heloísa Helena, a líder do protesto, evitou falar em impeachment, no "SBT Brasil".
Também hoje em SP, no protesto da Força Sindical e da Social Democracia Sindical, nada de impeachment. No enunciado do Globo Online, "Centrais protestarão contra contaminação da economia pela crise".
 

E agora até o PT vai às ruas. Em meio a entrevistas de Aloizio Mercadante à Globo News, falando em expulsar Delúbio Soares, e Tarso Genro à Record, com o "pedido de desculpas", o PT pediu atos "em defesa do partido".

Bandido
Um dia depois das manchetes do doleiro no "Jornal Nacional", tucanos e petistas recuaram. Eduardo Paes, na Globo News:
- Estamos lidando com um presidiário, condenado a 25 anos de cadeia. As informações devem ser vistas sob esta ótica. Não é tudo o que um bandido diz que se tem que acreditar.
Delcídio Amaral, presidente da CPI, no próprio "JN":
- Nós temos que entender a própria situação do doleiro para não começarmos a promover espetáculos que não levarão a nada e que, pelo contrário, vão atingir pessoas de bem.

Algemas
Mas o escândalo já apresentou novo espetáculo, ontem, com manchetes e imagens abrindo a escalada do "JN" explorando as algemas de um ex-assessor do ministro da Fazenda:
- Preso pela polícia de São Paulo o homem investigado pela CPI dos Bingos por tentativa de extorsão. Promotores dizem que Rogério Buratti mandou destruir provas de lavagem.
O "Jornal da Band", na sétima manchete, deu logo o nome que levou à escalada de ontem:
- Ex-assessor do ministro Palocci é preso em SP acusado de formação de quadrilha.


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