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Programa atende 15% de libertados de condição análoga à escravidão
Bolsa Família é concedido só a 1.453 trabalhadores, apesar de promessa feita pelo governo em 2005
Acordo entre ministérios
determina que libertado
ganhe preferência e passe à
frente de outros cidadãos
que reivindicam o benefício
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Um ano e nove meses depois
de o governo federal ter assumido o compromisso público
de incluir no Bolsa Família os
trabalhadores encontrados em
condições análogas à escravidão, 85% dos libertados ainda
não receberam a ajuda. Um termo de cooperação foi firmado
em dezembro de 2005 entre os
ministérios do Trabalho e do
Desenvolvimento Social.
Dos 9.338 trabalhadores resgatados cujos dados foram cadastrados pelo governo, apenas
1.453 (15%) foram incluídos no
programa -outros 317 não se
enquadraram nos critérios e
não ganharam o benefício.
O anúncio do compromisso
aconteceu no lançamento da
campanha "Erradicação do
Trabalho Escravo", com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília.
Assinaram o acordo os ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Luiz Marinho (então no Trabalho, hoje
na Previdência Social).
A idéia era possibilitar que,
uma vez liberto, o trabalhador
tivesse uma renda mínima para
poder procurar um emprego.
Quando sua renda mensal ultrapassasse os R$ 120, ele deixaria de ganhar o benefício.
Para Patricia Audi, coordenadora do projeto de combate
ao trabalho forçado da OIT
(Organização Internacional do
Trabalho) no Brasil, o valor dado impede que os trabalhadores aceitem emprego que possa
levar a situação degradante.
"O Bolsa Família é uma das
principais armas para evitar o
aliciamento." Ela diz que não
esperava que a promessa não
fosse cumprida a curto prazo.
Até setembro passado -quase um ano após o anúncio- os
resultados eram piores. Nenhum libertado havia sido incluído no programa.
Naquele mês, foi feita uma
"instrução operacional" entre
os ministérios. O documento
especificava o que deveria ser
feito para colocar em prática o
acordo de dezembro de 2005.
Só então a proposta deixou de
ser uma promessa.
Segundo a lei que rege o Bolsa Família, cada município tem
um limite de moradores que
podem participar do programa.
Normalmente, o número de famílias que se enquadram como
possíveis beneficiárias ultrapassa esse limite. O acordo de
2005 já previa que os libertados
ganhassem preferência. Eles
podem "passar à frente" de outros que reivindicam o benefício. Assim, não correm o risco
de, tendo o direito de receber o
dinheiro, acabarem barrados.
Além disso, o ministério faz
uma busca para encontrá-los
-diferentemente dos outros
cidadãos, que têm de buscar o
governo para se inscrever.
Hoje, o cadastro dos resgatados começa no momento da libertação. São os fiscais do Trabalho que recolhem os dados e
os enviam ao Desenvolvimento
Social, que os repassa aos municípios. Os valores a serem recebidos vão de R$ 15 a R$ 95
mensais por mês e variam de
acordo com a renda da família e
com o número de crianças.
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