São Paulo, terça, 18 de agosto de 1998

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ELEIÇÃO EM NÚMEROS
Voto obrigatório, abstenção e desilusão

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

Se a Constituição não determinasse a obrigatoriedade do voto, 49% dos eleitores dizem que não compareceriam às urnas em 4 de outubro. O percentual é o mesmo constatado pelo Datafolha em 1994 e um pouco superior ao de 1989 (44%), ano da primeira eleição presidencial direta desde 1960.
Até aí, nenhuma novidade. Trata-se de uma taxa histórica e semelhante à abstenção verificada na última eleição presidencial norte-americana, em 1996, quando 51% dos eleitores não foram votar.
O percentual dos que não votariam está também de acordo com a opinião que os brasileiros têm sobre o voto obrigatório: 50% são contra.
O que chama a atenção, no caso, são as posições diferenciadas em função das características do eleitorado.
Os eleitores da região Sul são os mais politizados do país -eles têm uma preferência maior por um partido ou político do que os dos demais Estados.
Provavelmente por essa razão, são também os sulistas que mais dizem que iriam às urnas mesmo que não fossem obrigados: 55% no conjunto da região, e 58% no caso específico do Rio Grande do Sul.
É nessa região que o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, tem sua maior intenção de voto -30%, contra 26% na média do país.

Direito e dever
Logo, os eleitores do petista deveriam estar mais dispostos a votar, mesmo que isso fosse um direito e não um dever. Certo?
Errado: 47% dos que querem eleger Lula dizem que não votariam se o voto fosse facultativo. Mesmo entre os simpatizantes petistas o percentual é relativamente alto, 42%.
Entre os eleitores de Fernando Henrique Cardoso essa taxa é bem menor, 39%. Para os simpatizantes tucanos e pefelistas (partidos da coligação de FHC), ela cai ainda mais: 34% e 37%, respectivamente.
Uma possível explicação para essa apatia petista é a desilusão após duas derrotas seguidas em eleições presidenciais e, agora, a dianteira de Fernando Henrique nas pesquisas.
Essa hipótese é reforçada por outros dados. Entre os eleitores de Lula, um percentual maior acredita na vitória de FHC do que na de seu próprio candidato.
Além disso, os que votam em outros presidenciáveis apresentam uma intenção ainda maior de se abster de votar: 50% entre os eleitores de Ciro Gomes (PPS), e 64% entre os de Enéas Carneiro (Prona).
Para quem acha o Plano Real ruim ou péssimo, e para quem tem a mesma opinião sobre o governo de Fernando Henrique o percentual dos que não votariam se a eleição fosse facultativa chega a 60%.
O aparente desinteresse eleitoral dos oposicionistas não deve ser visto com alegria nem pelos pró-FHC. Democracia, para funcionar, demanda participação de toda a sociedade. E, se as minorias não encontram uma saída nas urnas, podem acabar procurando outra alternativa à margem das instituições, como saques, invasões...



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