|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÃO EM NÚMEROS
Voto obrigatório, abstenção e desilusão
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local
Se a Constituição não determinasse a obrigatoriedade do voto,
49% dos eleitores dizem que não
compareceriam às urnas em 4 de
outubro. O percentual é o mesmo
constatado pelo Datafolha em
1994 e um pouco superior ao de
1989 (44%), ano da primeira eleição presidencial direta desde
1960.
Até aí, nenhuma novidade.
Trata-se de uma taxa histórica e
semelhante à abstenção verificada na última eleição presidencial
norte-americana, em 1996, quando 51% dos eleitores não foram
votar.
O percentual dos que não votariam está também de acordo com
a opinião que os brasileiros têm
sobre o voto obrigatório: 50% são
contra.
O que chama a atenção, no caso, são as posições diferenciadas
em função das características do
eleitorado.
Os eleitores da região Sul são os
mais politizados do país -eles
têm uma preferência maior por
um partido ou político do que os
dos demais Estados.
Provavelmente por essa razão,
são também os sulistas que mais
dizem que iriam às urnas mesmo
que não fossem obrigados: 55%
no conjunto da região, e 58% no
caso específico do Rio Grande do
Sul.
É nessa região que o candidato
do PT à Presidência, Luiz Inácio
Lula da Silva, tem sua maior intenção de voto -30%, contra
26% na média do país.
Direito e dever
Logo, os eleitores do petista deveriam estar mais dispostos a votar, mesmo que isso fosse um direito e não um dever. Certo?
Errado: 47% dos que querem
eleger Lula dizem que não votariam se o voto fosse facultativo.
Mesmo entre os simpatizantes petistas o percentual é relativamente
alto, 42%.
Entre os eleitores de Fernando
Henrique Cardoso essa taxa é bem
menor, 39%. Para os simpatizantes tucanos e pefelistas (partidos
da coligação de FHC), ela cai ainda
mais: 34% e 37%, respectivamente.
Uma possível explicação para essa apatia petista é a desilusão após
duas derrotas seguidas em eleições
presidenciais e, agora, a dianteira
de Fernando Henrique nas pesquisas.
Essa hipótese é reforçada por
outros dados. Entre os eleitores de
Lula, um percentual maior acredita na vitória de FHC do que na de
seu próprio candidato.
Além disso, os que votam em
outros presidenciáveis apresentam uma intenção ainda maior de
se abster de votar: 50% entre os
eleitores de Ciro Gomes (PPS), e
64% entre os de Enéas Carneiro
(Prona).
Para quem acha o Plano Real
ruim ou péssimo, e para quem tem
a mesma opinião sobre o governo
de Fernando Henrique o percentual dos que não votariam se a
eleição fosse facultativa chega a
60%.
O aparente desinteresse eleitoral
dos oposicionistas não deve ser
visto com alegria nem pelos
pró-FHC. Democracia, para funcionar, demanda participação de
toda a sociedade. E, se as minorias
não encontram uma saída nas urnas, podem acabar procurando
outra alternativa à margem das
instituições, como saques, invasões...
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|