São Paulo, terça, 18 de agosto de 1998

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JANIO DE FREITAS
Tudo em ordem


As disparidades no tratamento dado aos candidatos pelos meios de comunicação desmoralizam as eleições e, com isso, denunciam o próprio regime dito democrático. Mas nem assim é o caso de se esperarem providências reparadoras por parte da Justiça Eleitoral.
Ciro Gomes está sendo vítima de boicote mesmo. Não por discriminação propriamente, já que também os demais candidatos tidos como oposicionistas são discriminados, na repartição do espaço, do tempo e das atenções da mídia.
O que diferencia Ciro Gomes dos demais é a convicção, no meio jornalístico e no meio empresarial, de ser ele o candidato capaz de causar mais prejuízos à candidatura de Fernando Henrique Cardoso. Ninguém duvida de que o espaço e o tempo que lhe fossem concedidos seriam utilizados por argumentação bem articulada, dados convincentes, informação até dos bastidores governamentais e impetuosidade.
Esse armamento, sem dispositivo partidário e, alternativamente, sem apoio dos meios de comunicação, com certeza seria insuficiente para elevar a candidatura de Ciro Gomes às alturas. Mas daria muito bem para fazer na candidatura Fernando Henrique um estrago que, mesmo não se convertendo em votos para Lula, o beneficiaria ao afugentar parcelas do eleitorado fernandista -ainda que para o voto nulo ou branco.
A reclamação de Lula ao Tribunal Superior Eleitoral, pelo favorecimento a Fernando Henrique em comparação com sua candidatura, prescinde de acréscimo aos motivos que todos conhecem e ao que todos vêem, todos os dias. Os dados são gritantes, mas valem só como curiosidade.
Em uma só rede, por exemplo, o tempo dedicado a Fernando Henrique em uma só semana equivaleu a um jornal das oito inteiro só para sua candidatura. Os outros candidatos, somados, tiveram dez minutos. E daí? Haveria alguém que não soubesse que seria assim? A lei reeleitoral não foi montada pelos governistas e aprovada por eles próprios senão para permitir o que está acontecendo. A Justiça Eleitoral não é desprovida dos modos e meios de fazer justiça senão para que seja inerte diante do que está acontecendo.
E acontecendo não só na (re)eleição presidencial. Passa-se o mesmo em todos os Estados e prefeituras cujos governadores e prefeitos não foram trapalhões demais, na montagem da própria reeleição ou na candidatura do pretenso sucessor.
Até agora, a (re)eleição segue à risca o previsto, sem exceção.



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