São Paulo, terça, 18 de agosto de 1998

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ESTADOS
Amigos e parentes de governador são beneficiados
Grupo concentra publicidade no MT

LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília

O governo do Mato Grosso montou um esquema de distribuição da publicidade oficial que privilegia o principal grupo de comunicação local, o grupo Gazeta, e envolve empresas que têm a participação de ex-assessores de confiança e familiares do governador Dante de Oliveira (PSDB).
Uma única agência de publicidade, a DMD, concentra toda a verba do governo e decide como fazer os investimentos. Um dos sócios da DMD é também proprietário da TV e do jornal "A Gazeta".
A coligação Unidade Democrática, liderada pelos senadores Júlio Campos (PFL) e Carlos Bezerra (PMDB), candidatos ao governo do Estado e ao Senado, respectivamente, pediu ao TRE a suspensão das verbas para as empresas do grupo Gazeta.
Dante de Oliveira é candidato à reeleição. Um dos candidatos ao Senado pela coligação de Dante é Antero de Barros, seu ex-chefe da Casa Civil e ex-Secretário de Comunicação Social.
Antero é um dos elos de ligação do esquema de distribuição de verbas oficiais pelo grupo Gazeta, que apóia o governador tucano.
Antero é sócio, com a mulher do próprio governador Dante de Oliveira, Thelma de Oliveira, na empresa Multimídia Assessoria e Comunicação. Participa também da Infor Vídeo Produções com Márcia Campos e José e João Doríleo Leal.
Márcia, José e João Doríleo são os proprietários da agência de publicidade DMD (iniciais dos três nomes da sociedade).
O favorecimento das empresas do grupo Gazeta ocorre desde o início do governo e está expresso nos números apurados pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado).
Auditoria das contas de 1995 feita pelo TCE apontou gastos de R$ 11,9 milhões com publicidade. Todas as despesas foram realizadas sem licitação. Apesar disso, as contas foram aprovadas.
Da verba de televisão naquele ano (R$ 4,5 milhões), R$ 1,9 milhão foi para a TV Gazeta. A TV Centro América ficou com R$ 1,4 milhão.
No julgamento das contas de 1996, o conselheiro Djalma Metello Caldas ressalta: "Constatamos que as despesas com publicidade não foram realizadas com processos licitatórios. Vale salientar que essa irregularidade fora cometida pela Secom em exercícios anteriores, nos quais a mesma teve as advertências cabíveis desta Corte".
Metello citou exemplos de despesas com publicidade realizadas na dotação "outros serviços de terceiros". Num total de R$ 1,99 milhão, as emissoras do grupo ficaram com R$ 1,2 milhão. A TV Centro América levou R$ 250 mil.
Em 96, a Secretaria de Comunicação Social realizou concorrência para contratar uma agência de publicidade. Venceu a DMD. A representação da Unidade Democrática diz que, "na verdade, privatizaram o dinheiro, licitaram a conta, licitaram uma Secretaria de Estado, criando uma Secom privada. Licitaram o próprio Tesouro Estadual".
Em resposta ao TCE, o ex-secretário de Comunicação no período de 96, Mauro Camargo, diz que "a ausência do certame licitatório para despesas com publicidade vinha sendo prática adotada desde o governo anterior, sem impugnação dessa Corte".
Mas Mauro Camargo reconhece o erro: "É forçoso reconhecer que incorremos em lamentável falha". Camargo é hoje diretor de jornalismo do jornal "A Gazeta".



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