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QUESTÃO AGRÁRIA
Governador e secretário, ambos testemunhas, não ficaram incomunicáveis, como determina a lei
Defesa diz que pode pedir anulação
LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Belém
LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém
Uma concessão feita pelo Tribunal de Justiça do Pará no julgamento do massacre de Eldorado
do Carajás poderá ser usada pela
defesa para tentar anular uma
possível condenação dos três
principais oficiais da Polícia Militar que comandaram a operação.
Duas das testemunhas da defesa
-o governador Almir Gabriel
(PSDB-PA) e o secretário da Segurança, Paulo Sette Câmara-
não ficaram incomunicáveis depois de iniciado o julgamento, na
segunda-feira passada.
De acordo com o Código de
Processo Penal, de 1941, as testemunhas devem ficar incomunicáveis. Ou seja, não podem conversar com ninguém, inclusive entre
elas. Também não podem ter
acesso a jornais, revistas, rádio,
telefone ou TV.
O resultado do julgamento do
coronel Mário Colares Pantoja,
do major José Maria Oliveira e do
capitão Raimundo José Almendra Lameira -os três principais
oficiais envolvidos na operação
que resultou na morte de 19 sem-terra, em 1996- deve sair entre a
madrugada e a tarde de hoje.
Depois desse resultado, ainda
serão julgados, em blocos, outros
147 policiais militares que participaram da desobstrução de uma
estrada -a PA-150. O megajulgamento deve acabar no início de
dezembro.
Desde o início do julgamento,
sete testemunhas da defesa e da
acusação estão isoladas, tendo de
dormir e fazer suas refeições no
auditório da Universidade da
Amazônia, onde acontece o julgamento.
O governador e o secretário da
Segurança, contudo, não tiveram
de se sujeitar às mesmas regras
que as outras testemunhas, por
decisão do Tribunal de Justiça.
Gabriel e Câmara foram ouvidos ontem na residência oficial do
governador. Puderam escolher o
local do depoimento porque têm
foro privilegiado.
Segundo o advogado do governador, Pedro Bentes, desde que
começou o julgamento, Gabriel
não leu jornais, não ouviu rádio
nem assistiu televisão.
Na manhã de ontem, todos os
jurados, o juiz Ronaldo Valle e
membros da defesa e da acusação
foram, em um ônibus fretado, até
a residência oficial do governador
ouvir Gabriel e Sette Câmara.
Um dia antes, porém, Gabriel
despachou com o secretário especial de Governo, Manoel Santino,
e depois teria ficado esperando,
acompanhado da mulher e dos
seus quatro filhos, o momento do
depoimento, que acabou sendo
adiado por quase 18 horas.
O advogado de defesa, Américo
Leal, disse que irá pedir a anulação do julgamento caso a sentença seja contrária aos oficiais. Segundo ele, a falta de isolamento
compromete o processo.
A acusação protestou. "Isso é
um estrambote (esquisitice). As
partes só podem invocar a nulidade do julgamento quando houve
prejuízo, o que não é o caso", disse um dos advogados assistentes
da acusação, o ex-governador do
Rio de Janeiro Nilo Batista.
Para a advogada de defesa dos
soldados e cabos, Eloísa Segtowick Sovano, o depoimento de
Sette Câmara ajuda na defesa dos
seus clientes.
Segundo o advogado do governador, Gabriel voltou afirmar que
não ordenou a desobstrução da
rodovia PA-150, quando 19 sem-terra morreram e mais de 60 ficaram feridos.
Segundo Gabriel, o secretário
da Segurança teria ordenado a desobstrução ao comandante-geral
da Polícia Militar à época, Fabiano Lopes, e, depois, comunicado
o fato ao governador.
O governador afirmou que todas as operações da PM no sul do
Pará -a região rural mais violenta do país- são orientadas para
serem feitas sem violência.
Foi armado um esquema para
que o governador Almir Gabriel
não entrasse em contato com a
imprensa ou com possíveis manifestantes durante e após o seu testemunho.
Além disso, a PM fechou as ruas
que dão acesso à residência oficial, em Ananindeua, cidade vizinha a Belém.
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