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ELEIÇÕES 2004/ENTREVISTA
Candidato do PDT diz que não tem obrigação de vencer a eleição e que já foi procurado por tucanos e petistas em busca de apoio
"Não estou à venda", afirma Paulinho
RICARDO BRANDT
DA REPORTAGEM LOCAL
Acusado pelos adversários de
ter firmado um acordo com o
PSDB para apoiar José Serra nestas eleições, o candidato a prefeito
de São Paulo pelo PDT, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, 47, assegura que "não está à venda". E
afirma que vai condicionar seu
apoio no segundo turno ao cumprimento de três compromissos.
Presidente licenciado da Força
Sindical -que representa 612 sindicatos no Brasil-, Paulinho disse que não usará a campanha como trampolim para ser candidato
a deputado em 2006 e que não
tem obrigação de vencer esta eleição. Em entrevista à Folha, concedida na última quinta-feira, Paulinho ainda atacou a economia do
governo Luiz Inácio Lula da Silva
e comparou o clima positivo do
cenário econômico ao período do
"boi no pasto", do governo José
Sarney, em 1986, quando houve
falta de carne no mercado devido
ao congelamento dos preços determinado pelo Plano Cruzado.
Na época, o então candidato do
PMDB ao governo do Estado de
São Paulo, Orestes Quércia, prometeu "laçar boi no pasto" para
combater o desabastecimento.
Leia trechos da entrevista:
Folha - O senhor começou com 3%
na primeira pesquisa de intenção
de voto do Datafolha, e agora está
com 1%. O senhor esperava esse
baixo desempenho?
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho - Tinha expectativa de fazer
uma boa campanha. Mas se você
pegar o Datafolha, minha rejeição
era de 33% e meu grau de conhecimento era 45%. Hoje, meu grau
de conhecimento é de 80% e a minha rejeição caiu para 9%. Eu sou
quase um fenômeno nessa área,
porque normalmente quando se
aumenta o grau de conhecimento, aumenta o grau de rejeição.
Então eu consegui ser mais conhecido e menos rejeitado. Não
estou preocupado em ganhar a
eleição agora. Não tenho obrigação de ganhar. E tenho dito para
os meus companheiros: não estou
à venda. Eles não querem que eu
fale isso, mas estou falando. Estou
tranqüilo. Estou fazendo a campanha numa boa, sem compromisso com ninguém desses que
estão aí. Quando eu apoiar alguém, vai aumentar o meu grau
de rejeição. Então, por que eu tenho que entrar nessa briga?
Folha - O que o senhor quer dizer
com "não estou à venda"?
Paulinho - Acho que tem muita
gente aí que já se bandeou.
Folha - Mas o senhor já foi procurado?
Paulinho - Procuram. Me ligam.
Eu trato bem todo mundo.
Folha - Mas quais partidos?
Paulinho - Quando me perguntam, a primeira coisa que eu falo é
que não estou à venda. Aí eles
nem fazem proposta.
Folha - O senhor nunca ocupou
cargo eletivo. O que te levou, na segunda tentativa, a sair candidato a
prefeito de São Paulo?
Paulinho - Eu não tenho vontade
de ser deputado. Porque eu acho
que deputado, embora faça um
trabalho importante, faz algo hoje
para acontecer daqui a dez anos.
Eu sou muito de fazer para acontecer agora.
Folha - Mas, passada esta eleição,
o senhor considera estar capacitado para concorrer como deputado
em 2006?
Paulinho - Não, deputado eu não
vou ser. Não saí para ser candidato a deputado. Saí para ser prefeito de São Paulo. Se não ganhar
agora, ganho depois. Não sou
obrigado a ganhar a eleição agora.
Quem é obrigado é a Marta e o
Serra. A Marta, dizem que, se não
ganhar, já estão arrumando emprego para ela na França. O Serra,
se não ganhar, vai fazer o quê?
Eles têm a obrigação de ganhar,
eu não tenho. Eu tenho 47 anos,
posso perder três eleições.
Folha - Então o senhor garante
que não vai ser candidato a deputado em 2006?
Paulinho - Não, não vou sair.
Vou até me reunir com o Medeiros [Luiz Antônio de, ex-presidente da Força Sindical e deputado federal pelo PL] para dar essa
garantia para ele.
Folha - Caso Serra e Marta sejam
eleitos para o segundo o turno,
existe possibilidade de o senhor
apoiar o PT?
Paulinho - Bom, em primeiro eu
posso ficar neutro e não apoiar
ninguém. Ou eu posso apoiar o
Serra ou a Marta. Mas para apoiar
um ou outro, como eu não estou à
venda, eu apoio sobre proposta.
Eu não estou à venda e não preciso de dinheiro porque eu ganho
dinheiro na Força Sindical. Meu
salário vem de lá. Se alguém vier
para mim e disser: eu monto o
Centro de Solidariedade nas subprefeituras, eu dou o bilhete único
para os desempregados e dou a
escritura definitiva para as pessoas que vivem em áreas irregulares, já vai ser meio caminho andado para ter meu apoio. Mas tem
de assumir isso publicamente.
Folha - Mas no caso do PT, mesmo
com esse compromisso firmado,
existe viabilidade para um acordo?
Paulinho - Mas tem muitas dificuldades tanto com o PT como
com o PSDB. As pessoas estão
bravas com os dois. Porque eles
falaram muito e não fizeram. Eu
fui coordenador na reeleição do
[ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso, mas fiquei desiludido. Apoiamos o Lula no segundo
turno e ele também não cumpriu
nada do que falou até agora. Então, se ficarem os dois, vai ser
mais fácil eu ficar neutro.
Folha - Mas se os dois partidos assumirem esse compromisso de
cumprir as três exigências?
Paulinho - Aí eu vou reunir o
partido, e as pessoas da Força Sindical para eles decidirem com
quem vamos.
Folha - O senhor foca sua campanha, desde o início, na questão do
desemprego. Os resultados divulgado pelo governo federal de uma
recuperação da economia não tornam o assunto desgastado?
Paulinho - Mas tem 10 milhões
de pessoas desempregadas. Não
desgasta nada. O desemprego não
acabou nada. É conversa do Lula.
O desemprego é muito maior do
que se imagina.
Folha - O senhor não vê motivos
então para esse otimismo do presidente Lula em relação à economia
do país?
Paulinho - Eu acho que a economia melhorou um pouco, mas
não tem saída. Não estou falando
mal, mas acho que depois das
eleições a situação muda bastante.
Folha - Você acha então que esse
é um cenário produzido?
Paulinho - É o boi do Lula. Lembra do boi no pasto do Quércia? É
a mesma coisa. Criou uma onda,
baixou os juros, criou uma expectativa... Criaram um clima, mas a
situação é deplorável. Então, essa
questão do emprego, talvez não
me dê voto agora, mas as pessoas
vão ver que estão sendo enganadas de novo depois das eleições.
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