São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2004

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ELEIÇÕES 2004/ENTREVISTA

Candidato do PDT diz que não tem obrigação de vencer a eleição e que já foi procurado por tucanos e petistas em busca de apoio

"Não estou à venda", afirma Paulinho

RICARDO BRANDT
DA REPORTAGEM LOCAL

Acusado pelos adversários de ter firmado um acordo com o PSDB para apoiar José Serra nestas eleições, o candidato a prefeito de São Paulo pelo PDT, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, 47, assegura que "não está à venda". E afirma que vai condicionar seu apoio no segundo turno ao cumprimento de três compromissos.
Presidente licenciado da Força Sindical -que representa 612 sindicatos no Brasil-, Paulinho disse que não usará a campanha como trampolim para ser candidato a deputado em 2006 e que não tem obrigação de vencer esta eleição. Em entrevista à Folha, concedida na última quinta-feira, Paulinho ainda atacou a economia do governo Luiz Inácio Lula da Silva e comparou o clima positivo do cenário econômico ao período do "boi no pasto", do governo José Sarney, em 1986, quando houve falta de carne no mercado devido ao congelamento dos preços determinado pelo Plano Cruzado. Na época, o então candidato do PMDB ao governo do Estado de São Paulo, Orestes Quércia, prometeu "laçar boi no pasto" para combater o desabastecimento. Leia trechos da entrevista:
 

Folha - O senhor começou com 3% na primeira pesquisa de intenção de voto do Datafolha, e agora está com 1%. O senhor esperava esse baixo desempenho?
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho -
Tinha expectativa de fazer uma boa campanha. Mas se você pegar o Datafolha, minha rejeição era de 33% e meu grau de conhecimento era 45%. Hoje, meu grau de conhecimento é de 80% e a minha rejeição caiu para 9%. Eu sou quase um fenômeno nessa área, porque normalmente quando se aumenta o grau de conhecimento, aumenta o grau de rejeição. Então eu consegui ser mais conhecido e menos rejeitado. Não estou preocupado em ganhar a eleição agora. Não tenho obrigação de ganhar. E tenho dito para os meus companheiros: não estou à venda. Eles não querem que eu fale isso, mas estou falando. Estou tranqüilo. Estou fazendo a campanha numa boa, sem compromisso com ninguém desses que estão aí. Quando eu apoiar alguém, vai aumentar o meu grau de rejeição. Então, por que eu tenho que entrar nessa briga?

Folha - O que o senhor quer dizer com "não estou à venda"?
Paulinho -
Acho que tem muita gente aí que já se bandeou.

Folha - Mas o senhor já foi procurado?
Paulinho -
Procuram. Me ligam. Eu trato bem todo mundo.

Folha - Mas quais partidos?
Paulinho -
Quando me perguntam, a primeira coisa que eu falo é que não estou à venda. Aí eles nem fazem proposta.

Folha - O senhor nunca ocupou cargo eletivo. O que te levou, na segunda tentativa, a sair candidato a prefeito de São Paulo?
Paulinho -
Eu não tenho vontade de ser deputado. Porque eu acho que deputado, embora faça um trabalho importante, faz algo hoje para acontecer daqui a dez anos. Eu sou muito de fazer para acontecer agora.

Folha - Mas, passada esta eleição, o senhor considera estar capacitado para concorrer como deputado em 2006?
Paulinho -
Não, deputado eu não vou ser. Não saí para ser candidato a deputado. Saí para ser prefeito de São Paulo. Se não ganhar agora, ganho depois. Não sou obrigado a ganhar a eleição agora. Quem é obrigado é a Marta e o Serra. A Marta, dizem que, se não ganhar, já estão arrumando emprego para ela na França. O Serra, se não ganhar, vai fazer o quê? Eles têm a obrigação de ganhar, eu não tenho. Eu tenho 47 anos, posso perder três eleições.

Folha - Então o senhor garante que não vai ser candidato a deputado em 2006?
Paulinho -
Não, não vou sair. Vou até me reunir com o Medeiros [Luiz Antônio de, ex-presidente da Força Sindical e deputado federal pelo PL] para dar essa garantia para ele.

Folha - Caso Serra e Marta sejam eleitos para o segundo o turno, existe possibilidade de o senhor apoiar o PT?
Paulinho -
Bom, em primeiro eu posso ficar neutro e não apoiar ninguém. Ou eu posso apoiar o Serra ou a Marta. Mas para apoiar um ou outro, como eu não estou à venda, eu apoio sobre proposta. Eu não estou à venda e não preciso de dinheiro porque eu ganho dinheiro na Força Sindical. Meu salário vem de lá. Se alguém vier para mim e disser: eu monto o Centro de Solidariedade nas subprefeituras, eu dou o bilhete único para os desempregados e dou a escritura definitiva para as pessoas que vivem em áreas irregulares, já vai ser meio caminho andado para ter meu apoio. Mas tem de assumir isso publicamente.

Folha - Mas no caso do PT, mesmo com esse compromisso firmado, existe viabilidade para um acordo?
Paulinho -
Mas tem muitas dificuldades tanto com o PT como com o PSDB. As pessoas estão bravas com os dois. Porque eles falaram muito e não fizeram. Eu fui coordenador na reeleição do [ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso, mas fiquei desiludido. Apoiamos o Lula no segundo turno e ele também não cumpriu nada do que falou até agora. Então, se ficarem os dois, vai ser mais fácil eu ficar neutro.

Folha - Mas se os dois partidos assumirem esse compromisso de cumprir as três exigências?
Paulinho -
Aí eu vou reunir o partido, e as pessoas da Força Sindical para eles decidirem com quem vamos.

Folha - O senhor foca sua campanha, desde o início, na questão do desemprego. Os resultados divulgado pelo governo federal de uma recuperação da economia não tornam o assunto desgastado?
Paulinho -
Mas tem 10 milhões de pessoas desempregadas. Não desgasta nada. O desemprego não acabou nada. É conversa do Lula. O desemprego é muito maior do que se imagina.

Folha - O senhor não vê motivos então para esse otimismo do presidente Lula em relação à economia do país?
Paulinho -
Eu acho que a economia melhorou um pouco, mas não tem saída. Não estou falando mal, mas acho que depois das eleições a situação muda bastante.

Folha - Você acha então que esse é um cenário produzido?
Paulinho -
É o boi do Lula. Lembra do boi no pasto do Quércia? É a mesma coisa. Criou uma onda, baixou os juros, criou uma expectativa... Criaram um clima, mas a situação é deplorável. Então, essa questão do emprego, talvez não me dê voto agora, mas as pessoas vão ver que estão sendo enganadas de novo depois das eleições.


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