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FOGO CRUZADO
Senador disse que projeto trará "promiscuidade entre governo e empreiteiras", mas que maioria não é corrupta
PPP é convite à corrupção, reafirma Tasso
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de comparar o projeto
das PPPs (Parcerias Público-Privadas), do governo Lula, a "um
convite à corrupção e à maior
promiscuidade da história deste
país", o senador Tasso Jereissati
(PSDB-CE) admitiu ontem que
seu partido errou ao permitir privatizações com até 100% de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e de fundos de
pensão estatais no governo FHC.
A autocrítica do senador tucano
aconteceu durante seminário
promovido pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do
Rio de Janeiro) para discutir as
parcerias público-privadas. Ele
criticou a falta de limites para
aplicação de recursos públicos no
projeto e propôs que a participação do BNDES e de fundos de
pensão de estatais seja restrita ao
máximo de 50% nas PPPs. Sem limite, disse, as PPPs podem virar
"parcerias público-público".
O relator do projeto, senador
Valdir Raupp (PMDB-RO), que
participava do seminário, retrucou, dizendo que as privatizações
no governo de Fernando Henrique Cardoso tiveram até 100% de
financiamento do BNDES e dos
fundos de pensão e que se as PPPs
ficassem no mesmo nível "estaria
de bom tamanho para o país, desde que o governo tivesse garantia
de recebimento".
"Acho que muita coisa na privatização deveria ser consertada e
que aconteceram alguns abusos
no financiamento. Tanta coisa
bem feita (do governo anterior)
está sendo imitada, por que copiar o que foi mal feito?", indagou. O grupo La Fonte, da família
de Jereissati, adquiriu a Telemar
na privatização, em 1998, em parceria com fundos de pensão e
com o BNDES.
Corrupção
O senador Jereissati provocou
aplausos e tensão entre os empresários presentes ao seminário ao
declarar que o projeto das PPPs
estimularia a corrupção. "Se for
aprovado como está, deixo o Senado e vou para a iniciativa privada. Quero entrar nesta também, e
estou convidando o Eduardo
(Eduardo Eugênio Gouveia Vieira, presidente da Firjan) para ser
meu sócio". afirmou.
Segundo o senador, o projeto
das PPPs não segue a lei de licitações públicas e, por isso, estimularia a corrupção e a promiscuidade
entre governos e empreiteiras. "É
a volta ao paraíso perdido", declarou, após afirmar que os governantes tinham mecanismos para
direcionar os resultados das concorrências antes da aprovação da
Lei de Licitações Públicas, em
1993. "A clássica corrupção, a
promiscuidade entre governo e
empreiteiras, era feita por meio
das grandes concorrências. Os governantes tinham maneiras de escolher, a seu bel prazer, quem iria
ganhar", afirmou.
Incomodado com a referência
negativa às empreiteiras, o vice-presidente da Firjan, João Lagoeiro Barbará, da construtora Concórdia, rebateu as afirmações do
senador.
Disse que a corrupção no setor
só existe quando os governos não
cumprem os contratos assumidos, pagam com atraso e quando
cobram das empresas para efetuar o pagamento.
"Não temos alternativas. Somos
obrigados a praticar o suborno
sob pena de não poder executar as
obras. Qualquer legislação que
venha a corrigir o problema é
bem-vinda'", afirmou Barbará.
Diante da reação do empresário, Jereissati recuou e disse que a
acusação de corrupção não se
aplica só às empreiteiras e que a
maioria delas não é corrupta.
Esqueletos
No mesmo seminário, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim
Levy, disse que o governo avança
"com cuidado" com o projeto para evitar criar "esqueletos".
"Pode tomar um pouco mais de
tempo, mas o processo democrático é bom. (...) Não vejo problema de a discussão ser politizada",
afirmou. Joaquim Levy disse que
não é intenção do governo burlar
a lei de responsabilidade fiscal,
como acusa a oposição.
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