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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ELEIÇÕES NO PT
Representante do Campo Majoritário diz que há candidatos aproveitando a crise para tentar obter mais espaço dentro do partido
Eleição não é acerto de contas, diz Berzoini
DA REPORTAGEM LOCAL
O deputado federal Ricardo
Berzoini (PT-SP) emergiu como
candidato do Campo Majoritário
à presidência do PT, após a desistência de Tarso Genro (atual presidente do partido) em manter a
própria candidatura.
Ex-ministro do governo Lula,
por duas pastas (Trabalho e Previdência), Berzoini tece críticas a
aspectos da política econômica.
Folha - Está difícil ser petista?
Ricardo Berzoini - De jeito nenhum, estou andando com a estrela na lapela do paletó, sem
constrangimento. Quando as pessoas param para conversar, discuto a situação, falo dos problemas
que tivemos, dos métodos do PT e
da importância do partido para o
Brasil. Não tenho recebido hostilidade. Muitas pessoas me param
para dizer que não podemos deixar o PT se submeter a um processo de cerco político que o imobilize, que o PT é muito importante para o país e que o governo
do presidente Lula também.
Folha - O sr. acha justo que o Campo Majoritário seja o único responsabilizado pela crise?
Berzoini - Claro que não. O controle social se exerce não apenas
por aquilo que é concedido, mas
por aquilo que você conquista.
Não dá nem para responsabilizar
aqueles que compunham o Campo Majoritário, que não tinham
noção do que ocorria, e também
não dá para excluir a responsabilidade dos demais membros da
direção, que deveriam ter cobrado mais informações.
A pior coisa para o partido nesse momento é transformar as eleições internas num acerto de contas, numa tentativa de aproveitar
uma crise para melhorar seu percentual na direção do partido.
Folha - O sr. acha que esse acerto
de contas está acontecendo?
Berzoini - Temos dois tipos de
divergência dentro das candidaturas que fazem oposição à minha. Uma legítima e muito mais
sutil, que estabelece posições à dinâmica política do PT no período
recente. E outras que chegam, inclusive, a quase um discurso de
oposição ao governo Lula. Tem
gente que faz um discurso tão forte em relação ao nosso governo
que se assemelha à oposição.
Folha - O sr. fala do Plínio de Arruda Sampaio?
Berzoini - Não quero nominar.
Mas temos que ter noção do que é
estratégia política. Existem críticas que quase são incompatíveis
com a posição de situação.
Folha - O sr. acredita no argumento dos rebeldes do Campo Majoritário de São Paulo, que não
apóiam sua candidatura?
Berzoini - Não quero estabelecer
um tipo de relação com eles que
inviabilize um apoio no segundo
turno. O que eu posso dizer é que
a posição mais construtiva é ajudar nossa candidatura a vencer no
primeiro, para assumirmos os desafios que temos pela frente.
Folha - As restrições que o sr. fez à
política econômica provocaram dano à campanha. O sr. as mantém?
Berzoini - Sempre fiz debate sobre política econômica, quando
estava na oposição, como ministro de governo e, agora, como deputado e dirigente partidário.
Sempre ressaltei que os fundamentos estão corretos. Precisamos fortalecê-los, mas, ao mesmo
tempo, trabalhar com a execução
orçamentária mais veloz, tratar os
investimentos na área social de
maneira mais centralizada. Isso
não me coloca em oposição à política econômica. São observações
que são típicas de um partido democrático que, apesar de apoiar
firmemente o governo Lula, se
sente no direito de fazer colocações respeitosas e leais.
Folha - O sr. também ventilou a
hipótese de que o Lula não seja o
candidato à reeleição em 2006. Na
sua opinião, ele deve concorrer?
Berzoini - Esta é uma decisão para 2006. Se tivesse que resolver
hoje, defenderia a reeleição. Depende muito da vontade dele e da
avaliação política que fizermos,
mas tenho certeza de que, entre os
candidatos que o PT pode apresentar, o mais competitivo, de
maior legitimidade e popularidade é o presidente Lula.
Folha - O sr. se sente confortável
com a presença do José Dirceu e os
demais deputados envolvidos na
escândalo na chapa?
Berzoini - Já disse que o ideal seria que eles tivessem se afastado
da chapa apenas para evitar o
aproveitamento por parte de pessoas que querem debater eleição
sem argumentos mais profundos.
Mas, a partir do momento em que
a reunião do Campo decidiu que
eles poderiam ficar e que eles se
ofereceram para não permanecer
na direção, como um gesto de boa
vontade e de humildade, me senti
totalmente confortável.
Folha - Agora que o sr. está na administração do partido, que erros o
sr. enxerga no PT?
Berzoini - A clandestinidade das
informações econômico-orçamentárias. Vários membros da
direção desconheciam totalmente
a situação financeira do partido.
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