São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ELEIÇÕES NO PT

Representante do Campo Majoritário diz que há candidatos aproveitando a crise para tentar obter mais espaço dentro do partido

Eleição não é acerto de contas, diz Berzoini

DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP) emergiu como candidato do Campo Majoritário à presidência do PT, após a desistência de Tarso Genro (atual presidente do partido) em manter a própria candidatura.
Ex-ministro do governo Lula, por duas pastas (Trabalho e Previdência), Berzoini tece críticas a aspectos da política econômica.

Folha - Está difícil ser petista?
Ricardo Berzoini -
De jeito nenhum, estou andando com a estrela na lapela do paletó, sem constrangimento. Quando as pessoas param para conversar, discuto a situação, falo dos problemas que tivemos, dos métodos do PT e da importância do partido para o Brasil. Não tenho recebido hostilidade. Muitas pessoas me param para dizer que não podemos deixar o PT se submeter a um processo de cerco político que o imobilize, que o PT é muito importante para o país e que o governo do presidente Lula também.

Folha - O sr. acha justo que o Campo Majoritário seja o único responsabilizado pela crise?
Berzoini -
Claro que não. O controle social se exerce não apenas por aquilo que é concedido, mas por aquilo que você conquista. Não dá nem para responsabilizar aqueles que compunham o Campo Majoritário, que não tinham noção do que ocorria, e também não dá para excluir a responsabilidade dos demais membros da direção, que deveriam ter cobrado mais informações.
A pior coisa para o partido nesse momento é transformar as eleições internas num acerto de contas, numa tentativa de aproveitar uma crise para melhorar seu percentual na direção do partido.

Folha - O sr. acha que esse acerto de contas está acontecendo?
Berzoini -
Temos dois tipos de divergência dentro das candidaturas que fazem oposição à minha. Uma legítima e muito mais sutil, que estabelece posições à dinâmica política do PT no período recente. E outras que chegam, inclusive, a quase um discurso de oposição ao governo Lula. Tem gente que faz um discurso tão forte em relação ao nosso governo que se assemelha à oposição.

Folha - O sr. fala do Plínio de Arruda Sampaio?
Berzoini -
Não quero nominar. Mas temos que ter noção do que é estratégia política. Existem críticas que quase são incompatíveis com a posição de situação.

Folha - O sr. acredita no argumento dos rebeldes do Campo Majoritário de São Paulo, que não apóiam sua candidatura?
Berzoini -
Não quero estabelecer um tipo de relação com eles que inviabilize um apoio no segundo turno. O que eu posso dizer é que a posição mais construtiva é ajudar nossa candidatura a vencer no primeiro, para assumirmos os desafios que temos pela frente.

Folha - As restrições que o sr. fez à política econômica provocaram dano à campanha. O sr. as mantém?
Berzoini -
Sempre fiz debate sobre política econômica, quando estava na oposição, como ministro de governo e, agora, como deputado e dirigente partidário. Sempre ressaltei que os fundamentos estão corretos. Precisamos fortalecê-los, mas, ao mesmo tempo, trabalhar com a execução orçamentária mais veloz, tratar os investimentos na área social de maneira mais centralizada. Isso não me coloca em oposição à política econômica. São observações que são típicas de um partido democrático que, apesar de apoiar firmemente o governo Lula, se sente no direito de fazer colocações respeitosas e leais.

Folha - O sr. também ventilou a hipótese de que o Lula não seja o candidato à reeleição em 2006. Na sua opinião, ele deve concorrer?
Berzoini -
Esta é uma decisão para 2006. Se tivesse que resolver hoje, defenderia a reeleição. Depende muito da vontade dele e da avaliação política que fizermos, mas tenho certeza de que, entre os candidatos que o PT pode apresentar, o mais competitivo, de maior legitimidade e popularidade é o presidente Lula.

Folha - O sr. se sente confortável com a presença do José Dirceu e os demais deputados envolvidos na escândalo na chapa?
Berzoini -
Já disse que o ideal seria que eles tivessem se afastado da chapa apenas para evitar o aproveitamento por parte de pessoas que querem debater eleição sem argumentos mais profundos. Mas, a partir do momento em que a reunião do Campo decidiu que eles poderiam ficar e que eles se ofereceram para não permanecer na direção, como um gesto de boa vontade e de humildade, me senti totalmente confortável.

Folha - Agora que o sr. está na administração do partido, que erros o sr. enxerga no PT?
Berzoini -
A clandestinidade das informações econômico-orçamentárias. Vários membros da direção desconheciam totalmente a situação financeira do partido.


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