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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ELEIÇÕES NO PT
Candidato da Articulação de Esquerda diz ser fundamental para a sobrevivência do partido que o Campo Majoritário seja derrotado
Para Pomar, vitória de Berzoini seria "desastre"
DA REPORTAGEM LOCAL
Valter Pomar, terceiro-vice-presidente e candidato à presidente do PT analisa a eleição da
legenda como um "sinal para a
sociedade" e que, conseqüentemente, uma possível vitória de Ricardo Berzoini, candidato da
principal tendência do partido, o
Campo Majoritário, seria um "desastre para o PT". Leia a seguir a
entrevista concedida por Pomar.
Folha - Está difícil ser petista neste momento?
Valter Pomar - Olha, nunca foi
fácil ser petista. Neste momento
está sendo muito desafiante. Mas,
pelo menos, está permitindo separar os petistas de verdade daqueles que se aproveitaram do PT
para fazer o que não deviam.
Folha - Quem causou essa crise
pela qual o partido passa hoje?
Pomar - Essa crise que o PT vive
tem três origens: uma imediata,
que é o fato de terem adotado um
esquema de financiamento paralelo, tem uma causa mediata que é
a política adotada pelo chamado
Campo Majoritário do PT, que
colocou uma crise, e tem uma
causa mais de fundo que é o descompasso entre o que a sociedade
esperava do governo petista e
aquilo que, efetivamente, o governo está conseguindo fazer.
Folha - O sr. concorda que o governo Lula, mantido o cenário de
hoje, representa um retrocesso para a esquerda?
Pomar - Não concordo. Se compararmos o governo Lula com o
de FHC e os que o antecederam, o
de Lula é muito melhor. Agora, se
compararmos o governo Lula
com as aspirações daqueles que,
durante 25 anos, foram depositando a sua energia na condução
de um projeto alternativo para o
país, o governo Lula ainda está
aquém do necessário e do possível. Por isso acho que o governo
Lula pode e deve ser repetido.
Folha - Para o sr., a atuação do PT
prejudicou o governo ou o governo
debilitou o partido?
Pomar - Eu acho mais prejudicial a estratégia política adotada
nos últimos anos, que se materializou tanto na forma do partido
como na ação política de importantes setores do governo. Há
uma estratégia, baseada numa
premissa equivocada, de que seria
possível fazer mudanças profundas no Brasil sem impor perdas às
elites. Essa concepção, de impor
mudanças sem conflito, se traduziu tanto na ação do partido como
na ação do governo.
Folha - Como membro da Executiva o sr. faz um mea culpa?
Pomar - Venho combatendo essa política chamada Campo Majoritário desde 1995. Essa política
fracassou na política de alianças,
que gerou Roberto Jefferson. Fracassou na maneira de financiar a
atividade partidária, que gerou
Marcos Valério. Fracassou na maneira de fazer campanha eleitoral,
que gerou Duda Mendonça. Nós
consideramos que se alguém deve
fazer mea culpa são aqueles que
implementaram essa política. É
evidente que todo o PT tem algum grau de responsabilidade.
Agora, é preciso diferenciar a responsabilidade da minoria que
combateu a política majoritária e
o que é responsabilidade da maioria que implementou a política.
Folha - O que o sr. acha dos que
apontam a corrente Articulação de
Esquerda como um braço do Campo Majoritário dentro do partido?
Pomar - A Articulação de Esquerda, desde que surgiu, em
1993, sempre esteve na linha de
frente no combate às posições do
hoje Campo Majoritário. O que
acontece é que fazemos uma defesa firme do PT e do governo. Para
nós, a melhor maneira de defender o governo e o PT é ficar e lutar
por uma mudança de rumos.
Folha - O Berzoini é um adversário mais difícil do que o Tarso?
Pomar - Não é nem mais difícil
nem mais fácil. Ele não pode ser
presidente do PT, porque a vitória
do Berzoini seria o continuísmo.
Seria um sinal para a sociedade
que o Campo Majoritário, apesar
de todos os reveses políticos, apesar de ter várias de suas lideranças
envolvidas em denúncias, ainda
assim consegue conquistar a presidência do partido. Isso seria um
desastre para o PT. É fundamental, para a sobrevivência do PT,
que o Campo seja derrotado.
Folha - O que o sr. tem a dizer para os deputados que ameaçam sair
em caso de derrota para o Campo?
Pomar - Primeiro, eu não vou
sair do PT. A imensa maioria dos
petistas continuará no PT qualquer que seja o resultado. Portanto, eu trabalho, primeiro, para
que a esquerda vença o PED. Segundo, para que, independentemente do resultado, toda a esquerda do PT permaneça no PT.
Folha - O sr. tem algum argumento para defender o PT?
Pomar - Tenho 25 anos de argumentos. O PT tem uma história de
25 anos de luta pela democracia,
de igualdade social, pelo socialismo. O PT tem uma trajetória nos
movimentos sociais. Tem ações à
frente do governo federal e mais:
o PT, no governo federal, é um
ponto de apoio para aqueles que,
no mundo inteiro, lutam contra o
hegemonismo norte-americano.
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