São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 2006

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Mauro Paulino

2º turno: a missão

SETE MILHÕES de votos. É o que a oposição precisa tomar de Lula, nos próximos 13 dias, para sonhar com o segundo turno. Isto se os sem-candidato permanecerem próximos dos 10% como em 2002. Se crescerem, favorecem Lula.
Por diferentes métodos os institutos chegam a um mesmo resultado em suas últimas pesquisas: metade dos brasileiros pretende reeleger Lula já no primeiro turno. Retratam as opiniões até o meio da semana passada e não contemplam, portanto, o horário eleitoral de quinta e sábado nem as notícias do final de semana. A convergência em um mesmo número reforça a certeza estatística dessa proporção.
Como as pesquisas não apuram os votos concretizados e sim as intenções dos eleitores antes de votar e não podem prever quantos se ausentarão das urnas, alguns fatores têm sido lembrados para elevar a esperança de segundo turno. O alerta mais repetido lembra que a abstenção é mais concentrada no Nordeste e está relacionada à baixa renda e escolaridade dos eleitores.
Coincide com o perfil do eleitor de Lula e, por isso, ele perderia cerca de sete pontos nas urnas. É um exagero partidário.
A estatística Renata Nunes, do Datafolha, apurou a média das abstenções e dos votos brancos e nulos em cada Estado nas duas últimas eleições presidenciais e, como exercício, recalculou os percentuais da última pesquisa a partir da média histórica de votos válidos. Constatou que Lula perderia apenas um ponto, insuficiente para viabilizar o segundo turno.
Lembra também que grande parte das abstenções refere-se a eleitores que mudaram de cidade, não transferiram o título e preferem justificar o voto a viajar para votar.
Mais provável, e pouco lembrada, é a possibilidade de parte dos eleitores não conseguir traduzir sua intenção em voto. Em 98, estudo feito por Alessandro Janoni, diretor de pesquisas do Datafolha, mostrou que pelo menos 14% dos que votaram para presidente erraram ao digitar o número na urna eletrônica. A seqüência de votação não segue a ordem lógica de ir do cargo mais importante para o menos importante, começando pelos deputados. Assim, alguns eleitores se confundem e votam para deputado achando que estão votando para presidente.
Como 56% dos eleitores de Lula têm baixa escolaridade, esse é um fator a ser considerado. Por outro lado, conhecer o número do candidato é fundamental para concretizar o voto.
Até a semana passada, 53% dos eleitores de Lula acertavam seu número contra apenas 37% entre os de Alckmin.
Para não depender de fatores extra-campo os tucanos devem concentrar-se em mudar opiniões dos 83% de brasileiros cuja soma das rendas no domicílio fica abaixo de R$ 1.750. Sem o apoio deles, ninguém se elege presidente.


MAURO PAULINO é diretor-geral do instituto Datafolha


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