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JANIO DE FREITAS
Benefício e prejuízo
"A imprensa", quer dizer,
jornais, revistas, rádios e TVs,
foi acusada de mau comportamento pela oposição e pelo
governo. Ambos com e sem razão.
O tratamento discriminatório de que Luiz Inácio Lula da
Silva se sente vítima nem precisa, por tão óbvio e grosseiro,
ser discutido sob qualquer
ponto de vista. Vale, sozinho,
por uma condenação de máximo grau a todos os meios de
comunicação.
Faltasse ainda uma última
demonstração do comportamento de facção política adotado pela mídia na disputa
(re)eleitoral, estaria ela no
evento mesmo em que Lula
fez o seu sentido discurso sobre a discriminação. Foi a instalação, com um almoço na
quarta-feira, do Conselho Político que, se eleito, incorporaria ao seu governo. Uma centena de figuras de grande
proeminência nacional,
abrangendo todos os ramos
importantes de atividade.
Nos meios de comunicação,
os que não minimizaram o
evento, expressivo sob vários
aspectos, simplesmente o omitiram. Tal como, três dias antes, foi feito com a numerosa
relação de intelectuais e artistas que apóiam Lula.
É claro que o comportamento maciço da mídia causa prejuízo imenso à candidatura
de Lula. E nem é outra a sua
intenção. Mas não é a essa
forma de imoralização da democracia eleitoral à brasileira
que se deva atribuir o insucesso da campanha de Lula.
A campanha não achou o
tom, o teor e o sentido. Não
compreendeu o quanto há de
ilusionismo no apoio angariado por Fernando Henrique e o
quanto esse ilusionismo, como
qualquer outro, estaria vulnerável à dissecação didática
dos capacitados, por sua reconhecida autoridade, a fazê-lo
para o grande público.
Agora, a acusação governista. Ministro das Comunicações por força da ingravidade
do governo, o economista
Luiz Carlos Mendonça de
Barros acusou "a imprensa"
de deturpar os acontecimentos financeiros atuais. Em luta com os cachimbos típicos
de novo-rico, que não sabe escolher e não aprendeu a fumar, Mendonça de Barros dirige a ira para o caráter de
crise dado aos acontecimentos, como se houvesse "um
quase fim de mundo".
Tem razão. Mas o "quase"
já atrapalha um pouco a sua
frase. Pois o próprio Mendonça de Barros considera, pelo
que diz ler em uma revista
não ressalvada em sua crítica
à "imprensa do mundo todo", estar havendo apenas
"um fim de ciclo de dez anos
de crescimento numa parte
importante do mundo, que é
(sic) os Estados Unidos e parte
da Europa". Como as outras
partes nem tiveram o necessário crescimento nos dez anos,
então seria mesmo o fim, que
o mau cachimbo do mau fumante não deixa ver.
Já no que respeita à "imprensa" da casa, Mendonça,
outra vez, tem razão e não
tem. O esforço de minimizar,
ainda que só pelo linguajar
cabalístico, os fatos que ferem
o Brasil deturpa, sim, a exposição da realidade. Mas o resultado disso é em benefício
do presidente-candidato que
fez de Mendonça ministro e
do candidato-presidente que
dará a Mendonça um ministério mais importante, no previsto segundo mandato. Logo,
Mendonça é também beneficiário da "imprensa" deformante.
Não só os maus cachimbos,
mas também a ingratidão faz
a boca torta.
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