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JANIO DE FREITAS
O método
A dupla condenação, por improbidade e enriquecimento
ilícito, do ex-integrante da cúpula do governo do PSDB em
São Paulo e ex-secretário-geral
do partido no Estado, Goro Hama, traz uma contribuição tão
útil quanto involuntária para
evidenciar os perigos da tática
hoje chamada, eufemisticamente, de "desconstruir o adversário".
Se a propaganda de Luiz Inácio da Lula da Silva explorasse a
condenação para mostrar "o
que é a administração" do
PSDB, "a diferença entre o que
eles dizem e o que eles fazem",
estaria adotando, até com as
mesmas palavras, o método legitimado pelo programa de José
Serra e pelo próprio, ao invocar
alegadas deficiências no governo gaúcho e em prefeituras petistas para atacar Lula.
A propaganda petista estaria
com a vantagem de utilizar um
caso a um só tempo verdadeiro e
grave administrativa e moralmente, com o qual não se podem
equiparar as acusações peessedebistas -aliás, nem sempre
verdadeiras. Este foi o caso, por
exemplo, da pergunta-acusação
de Serra a Lula sobre o preço
"mais alto no país" das passagens de ônibus fixadas pela prefeitura petista de São Paulo: Serra citou um valor inverdadeiro,
e os preços mais altos são dos
ônibus de Vitória, cidade administrada pelo PSDB, cujo prefeito é o coordenador do programa
econômico de Serra, Luiz Paulo
Velloso Lucas. (O preço errado e
o preço em Vitória foram constatados pelo "Globo", no dia seguinte ao debate.)
Apesar disso tudo, a propaganda de Lula faria mais do que
adotar determinado método,
em melhores condições. José Serra é do PSDB, apoiado pelo anterior e pelo atual governadores
do PSDB, diretivamente responsável pelo PSDB nacional e pelo
PSDB paulista, mas nada tem a
ver, que se saiba, com as circunstâncias administrativas e políticas da presença e das ações de
Goro Hama no governo paulista. Ou seja, tem tanto a ver
quanto o tem Lula com as decisões e alegadas deficiências do
governo gaúcho e de prefeituras
petistas.
Usar de tal método com o intuito de comprometer e desqualificar Serra seria uma violência
antiética e uma injustiça. E para
comprometer e desqualificar
Lula, o que é?
Resposta depois da eleição final.
A questão
A cobrança persistente de debates, na propaganda de José
Serra, suscita curiosidade.
Nos dois debates havidos, e
mesmo na entrevista individual
de TV, Serra ficou aquém do que
desejava. Ao fim da entrevista
na Globo, foi explícito até demais, quanto à sua insatisfação,
quando delicadamente indagado pelo jornalista William Bonner.
Em seguida ao debate na Globo, a repercussão colhida pelo
Datafolha obteve as seguintes
respostas para a pergunta "Qual
candidato se saiu melhor?": Lula, 38%; Ciro, 18%; Garotinho,
17%; Serra, 11%.
O mau desempenho de Serra
recebeu a explicação de que
eram três a fazer-lhe questionamentos pressionantes. Em parte
foi isso mesmo, ressalvada a moderação de Lula. Mas, a rigor,
não faz diferença, sobretudo para um candidato preparado como Serra, que uma mesma
quantidade de questionamentos
seja apresentada por um, dois,
três ou mais candidatos e entrevistadores.
E, mesmo que houvesse alguma diferença, talvez pelo clima,
pela incisividade variável, era
um teste também nesse sentido,
e a diferença não justificaria os
índices colhidos entre os telespectadores.
Desde fevereiro, são quase nove meses em que Serra e Lula já
disseram tudo o que poderiam
dizer como candidatos. Por que
Serra passou a considerar debates agora tão fundamentais é
uma questão cuja resposta segura estaria só no próprio debate.
Mas que a questão é curiosa, é.
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