São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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ÍNDIOS

Indígenas estariam sendo usados como "mulas" pelo tráfico e pagos com tóxicos

Consumo de drogas preocupa Funai

TIAGO AGUIAR
DA REDAÇÃO

A Funai fez um alerta sobre a incidência de consumo de drogas que está sendo observada nas comunidades indígenas do país. Os índios, principalmente os jovens, estão usando mais drogas do que a fundação tinha idéia, com base em observações anteriores.
Os dados estão sendo levantados para um projeto, preparado pela Funai (Fundação Nacional do Índio), sobre a situação das crianças e dos adolescentes indígenas para ser apresentado ao Conselho Nacional da Criança e do Adolescente.
O consumo de álcool já era uma prática detectada pelos indianistas, mesmo sendo proibida por lei a venda de bebidas alcoólicas para índios. O que impressionou os técnicos foi a incidência do uso de maconha e mesmo de cocaína.
O consumo se dá em maior escala em aldeias que estão próximas a cidades ou a áreas de garimpo e extração de madeira.
Suspeita-se que sejam duas as formas pelas quais os índios estejam entrando em contato com as drogas. Uma delas seriam através dos jovens estudantes.
Nessas localidades, os jovens índios frequentam escolas convencionais e ficam propensos ao contato com as drogas como qualquer outro jovem.
A outra forma é pelo trabalho que alguns índios prestariam para o próprio tráfico.
Em locais como as comunidades localizadas no Mato Grosso, por onde passam diversas rotas de tráfico, foi confirmada uma maior incidência de casos pelas administrações regionais.
Suspeitasse que alguns índios possam estar sendo utilizados pelo tráfico como "mulas" -transportadores de tóxicos para além da fronteira brasileira-, que recebem as drogas como pagamento pelo trabalho.
Isso explicaria o consumo de drogas mais caras, como a cocaína, por um população com poucos recursos econômicos e com poucas possibilidades de adquirir esses entorpecentes.
"Esse levantamento é qualitativo e levanta uma primeira amostra da incidência de drogas. Vamos começar um trabalho quantitativo para saber exatamente a extensão do problema", disse Helena Stilene de Biase, gerente de projetos do Departamento de Educação da Funai.
"Alguns casos relatados são bastante graves. Com algumas administrações regionais chegando a procurar atendimento médico para os índios", conta Helena.
A Funai trabalha com 50 administrações regionais espalhadas pelo país que cuidam das comunidades indígenas.
Dessas, 14 já relataram problemas sérios com o consumo de drogas entre os indígenas. "Pensamos que fosse um coisa mais setorizada. Mas percebemos que é um problema bem espalhado", avalia Helena.
O processo que urbanização que as comunidades indígenas vêm enfrentando de alguns anos para cá é apontado pela Funai como um dos agravantes do problema do uso de drogas pelos índios.
Muitas famílias indígenas deixam as aldeias e vão morar nas cidades. Isso as coloca em contato com uma realidade urbana para a qual muitas vezes não estão preparadas. Essa mudança também impossibilita que a fundação mantenha um acompanhamento dos índios usuários de drogas.

Prostituição
O relatório também aponta para um crescimento nos casos de gravidez indesejada e de prostituição entre os índios. Há anos as comunidades indígenas já são alvo dos aliciadores de menores.
Uma prática comum já observada pela Funai é a das índias que produzem e vendem artesanato nas cidades passarem a se prostituir devido ao maior retorno econômico que isso lhes possibilita.


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