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AGENDA DA TRANSIÇÃO/INFLAÇÃO E DÍVIDA PÚBLICA
Em dezembro de 1994, pouco antes de FHC assumir o
governo, a dívida pública estava em R$ 153,16 bilhões, ou 30,4% do
PIB; em agosto deste ano, o endividamento
chegou a R$ 784,61 bilhões, equivalentes a 58,3% do PIB
Inflação contida por juros leva a explosão da dívida pública
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os elevados juros praticados
desde a implantação do Plano
Real, em julho de 1994, foram os
principais responsáveis pelo comportamento explosivo registrado
pela dívida pública durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
Juntos, União, Estados, municípios e empresas estatais acumularam o endividamento mais elevado de que se tem notícia nos dias
de hoje.
Além dos juros, a alta do dólar e
o reconhecimento de "esqueletos" também colaboraram para
elevar o endividamento. O dinheiro arrecadado com as privatizações ocorridas durante o governo FHC não foi suficiente para
impedir o aumento da dívida.
Em dezembro de 1994, antes de
FHC assumir seu primeiro mandato, a dívida líquida do setor público era de R$ 153,16 bilhões, o
equivalente a 30,4% do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de
riquezas produzidas por um
país). Em agosto deste ano, o endividamento chegou a R$ 784,61
bilhões -ou 58,3% do PIB.
Juros
Após a implantação do Real, o
controle da inflação foi feito com
base na chamada âncora cambial.
O governo controlava a cotação
do dólar, que era mantida próxima de R$ 1. Essa estratégia foi
adotada durante todo o primeiro
mandato de FHC (95/98).
Os problemas surgiram quando
as crises financeiras trouxeram
pânico aos mercados internacionais. Turbulências como as que se
abateram sobre o Sudeste Asiático, em 1997, e sobre a Rússia, em
1998, despertaram a desconfiança
dos bancos em relação aos países
emergentes.
Para evitar que investidores estrangeiros retirassem os dólares
aplicados no Brasil -o que desmontaria o sistema de câmbio
controlado-, o governo elevou
os juros a níveis estratosféricos.
A taxa chegou a ficar acima de 40% ao
ano no auge
das crises. O
resultado disso
é que, ao pagar
juros elevados,
a dívida do governo crescia
cada dia mais.
O economista Sérgio Werlang, ex-diretor do Banco
Central e atual
diretor do banco Itaú, diz que
esse problema poderia ter sido
evitado se o regime de câmbio flutuante tivesse sido adotado com
mais rapidez. "Em meados de
1995 já dava para fazer isso", afirma.
A situação foi agravada pelo desequilíbrio fiscal observado no
período. O superávit primário
(economia para o pagamento de
juros), hoje enaltecido pela equipe econômica, não existiu no primeiro mandato de Fernando
Henrique Cardoso. O governo
gastava mais do que arrecadava e
acabou acumulando déficit primário de R$ 7 bilhões entre 1995 e
1998.
Resultado: incapaz de arrecadar
dinheiro suficiente para pagar os juros
que incidiam
sobre sua dívida, o governo
recorria a novos empréstimos para conseguir pagar
esses juros. Os
novos empréstimos, por sua
vez, geravam a
necessidade de
mais gastos
com juros,
criando um
círculo vicioso
que elevava a
dívida sempre
mais e exigia mais dinheiro para
pagá-la. Como obter recursos para rolar essa dívida? Mantendo os
juros altos.
Ajuste
Porém, depois que a moratória
da Rússia, em 1998, trouxe pânico
aos mercados financeiros, o Brasil
passou a enfrentar dificuldades
para conseguir empréstimos para
financiar o déficit público. Foi então que o governo decidiu fazer
um ajuste fiscal emergencial, baseado principalmente no aumento de impostos.
O objetivo era obter resultados
fiscais primários positivos -da
ordem de 3% do PIB- para que a
relação entre dívida e PIB se estabilizasse em 46,5% até o final de
2001.
Na ocasião, também foi fechado
o primeiro acordo do governo
FHC com o FMI (Fundo Monetário Internacional), que pôs US$
41,5 bilhões à disposição do país.
O acordo iria se encerrar três anos
depois, quando a dívida já deveria
estar sob controle, mas continua a
vigorar até hoje.
O objetivo de estabilizar a dívida nunca foi alcançado, em grande parte por causa da desvalorização do real ocorrida nos anos seguintes. Logo nas primeiras semanas do segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso, o
governo se viu obrigado, pelo
mercado, a adotar o regime de
câmbio flutuante.
Desde então, a alta do dólar tem
ajudado a levar o endividamento
do governo a níveis recordes.
Atualmente, cerca de 50% da dívida líquida do setor público é corrigida pela variação do câmbio.
Entre janeiro de 1995 e agosto de
2002, a desvalorização do real
causou aumento de R$ 207,74 bilhões na dívida.
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