São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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Inflação pode voltar por erro no plano

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quando foi lançado, em julho de 1994, o Plano Real não obedeceu a um dos slogans da sua estratégia de marketing: ser o primeiro plano de estabilização econômica a se preocupar, desde o início, com a austeridade fiscal. Oito anos depois, essa lacuna ameaça levar a inflação a uma nova escalada.
O dólar acima de R$ 3,80 -a cotação chegou a ser de apenas R$ 0,83 nos primeiros meses do Plano Real- leva hoje a dívida pública para perto do impagável. No mercado e na política, afrouxar o controle da inflação voltou a ser uma alternativa para evitar uma recessão econômica e fechar as contas públicas no próximo ano.
As origens da crise estão em um erro de cálculo cometido em 94. Na época, a equipe do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, já sabia que nos anos seguintes o governo, sem poder contar mais com o expediente de emitir moeda para financiar gastos, ainda teria de conviver com juros altos e buscar empréstimos externos.
Para enfrentar esse quadro, o plano considerava ser suficiente a criação do FSE (Fundo Social de Emergência), um mecanismo que permitiu ao Poder Executivo ficar livre de alguns gastos fixados pela Constituição Federal -a regra vigora até hoje, com o nome mais apropriado de DRU (Desvinculação das Receitas da União).
O Fundo Monetário Internacional, do qual Fernando Henrique Cardoso buscava o aval externo para o lançamento do Real, achou pouco. Ainda assim, o governo decidiu levar adiante seu programa.

Evitar colapso
Quando, no final de seu primeiro mandato, o presidente voltou a procurar o FMI, o objetivo já era pedir dinheiro para evitar o colapso do país. Naqueles quatro anos, o déficit externo do país superou as expectativas, não houve tanto capital estrangeiro quanto se apostava, os juros foram muito mais altos do que o esperado -e a dívida pública acabou explodindo.
Como sempre é mais fácil prever o passado, um estudo recente do Banco Central aponta que, se a política de arrocho fiscal imposta pelo FMI no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso tivesse sido seguida desde 95, a dívida pública estaria hoje abaixo de 28% do PIB.
Hoje, a dívida no patamar de 60% do PIB faz um círculo vicioso com o câmbio. Quando o dólar sobe, eleva o valor da dívida pública -cerca de metade dela é atrelada à moeda norte-americana ou corrigida pela variação cambial. O crescimento da dívida assusta os investidores, que buscam refúgio no dólar, elevando ainda mais as cotações da moeda norte-americana.
Diante desse cenário ruim, a inflação surge como uma resposta natural: ela seria capaz de elevar o valor nominal da receita do governo e, ao mesmo tempo, reduzir o valor real dos gastos. E, a menos que haja medidas recessivas, a própria alta da moeda norte-americana se encarregará de elevar os preços.



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