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Inflação pode voltar por erro no plano
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quando foi lançado, em julho
de 1994, o Plano Real não obedeceu a um dos slogans da sua estratégia de marketing: ser o primeiro
plano de estabilização econômica
a se preocupar, desde o início,
com a austeridade fiscal. Oito
anos depois, essa lacuna ameaça
levar a inflação a uma nova escalada.
O dólar acima de R$ 3,80 -a
cotação chegou a ser de apenas R$
0,83 nos primeiros meses do Plano Real- leva hoje a dívida pública para perto do impagável. No
mercado e na política, afrouxar o
controle da inflação voltou a ser
uma alternativa para evitar uma
recessão econômica e fechar as
contas públicas no próximo ano.
As origens da crise estão em um
erro de cálculo cometido em 94.
Na época, a equipe do então ministro da Fazenda, Fernando
Henrique Cardoso, já sabia que
nos anos seguintes o governo,
sem poder contar mais com o expediente de emitir moeda para financiar gastos, ainda teria de conviver com juros altos e buscar empréstimos externos.
Para enfrentar esse quadro, o
plano considerava ser suficiente a
criação do FSE (Fundo Social de
Emergência), um mecanismo que
permitiu ao Poder Executivo ficar
livre de alguns gastos fixados pela
Constituição Federal -a regra vigora até hoje, com o nome mais
apropriado de DRU (Desvinculação das Receitas da União).
O Fundo Monetário Internacional, do qual Fernando Henrique
Cardoso buscava o aval externo
para o lançamento do Real, achou
pouco. Ainda assim, o governo
decidiu levar adiante seu programa.
Evitar colapso
Quando, no final de seu primeiro mandato, o presidente voltou a
procurar o FMI, o objetivo já era
pedir dinheiro para evitar o colapso do país. Naqueles quatro
anos, o déficit externo do país superou as expectativas, não houve
tanto capital estrangeiro quanto
se apostava, os juros foram muito
mais altos do que o esperado -e
a dívida pública acabou explodindo.
Como sempre é mais fácil prever o passado, um estudo recente
do Banco Central aponta que, se a
política de arrocho fiscal imposta
pelo FMI no segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso tivesse sido seguida desde 95, a dívida pública estaria hoje abaixo de
28% do PIB.
Hoje, a dívida no patamar de
60% do PIB faz um círculo vicioso
com o câmbio. Quando o dólar
sobe, eleva o valor da dívida pública -cerca de metade dela é
atrelada à moeda norte-americana ou corrigida pela variação
cambial. O crescimento da dívida
assusta os investidores, que buscam refúgio no dólar, elevando
ainda mais as cotações da moeda
norte-americana.
Diante desse cenário ruim, a inflação surge como uma resposta
natural: ela seria capaz de elevar o
valor nominal da receita do governo e, ao mesmo tempo, reduzir o valor real dos gastos. E, a menos que haja medidas recessivas, a
própria alta da moeda norte-americana se encarregará de elevar os
preços.
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