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Volta da confiança derruba juros, diz PSDB
A redução da inflação nos anos
FHC tem relação com os aumentos
dos juros e da dívida pública?
A inflação baixou graças ao Plano
Real, que a partir de 1994 desmontou todos os mecanismos de
indexação de preços e fortaleceu
nossa moeda. Outras razões foram a credibilidade do governo
federal e a confiança das pessoas
no mais importante e bem-sucedido plano de estabilização econômica já realizado no Brasil. O
governo federal conquistou apoio
dos cidadãos, das empresas e dos
governos estrangeiros às medidas
adotadas. A taxa de juros foi empregada como instrumento de
política financeira, a fim de controlar movimentos especulativos
cujas origens não estavam no Brasil, mas nas fortes crises do sistema financeiro internacional. Foram raras as situações nas quais as
taxas de juros foram aumentadas
para conter a demanda interna e
os preços.
O crescimento da dívida pública
brasileira decorreu, em grande
medida, da explicitação de passivos financeiros camuflados nas
contas públicas federais, nas empresas estatais e na contabilidade
de Estados e municípios. O governo aumentou a dívida mobiliária
federal para assumir as dívidas
dos Estados e livrá-los de elevadíssimos custos financeiros. Em
troca, os Estados perderam suas
máquinas de fabricar dinheiro (os
bancos estaduais) e assumiram
compromissos de gestão responsável a longo prazo.
O que garantiu a manutenção
da baixa inflação foram o equilíbrio nas contas públicas, a modernização e a abertura da economia, mais os ganhos de produtividade das empresas brasileiras.
A fim de conter o crescimento da
inflação, é preciso que o governo se
aproxime ainda mais do equilíbrio
entre suas despesas e receitas? É
preciso cortar gastos em que setor
do governo?
O equilíbrio entre receitas e despesas do governo é essencial, mas
não o suficiente para manter a inflação baixa. Ao lado da estabilidade fiscal, é crucial manter as
conquistas da política de flutuação do câmbio e o regime de metas inflacionárias.
O equilíbrio das contas públicas
pode ser obtido por aumento de
receitas, corte de despesas e da
combinação desses dois fatores.
Os cortes de despesas do governo
devem ser evitados. Primeiro, pela dificuldade técnica de fazê-los,
diante do grande número de despesas vinculadas às receitas existentes, vinculação determinada
pela Constituição. Em segundo
lugar, porque o Brasil precisa de
investimentos em infra-estrutura,
moradias, educação, saúde e assistência social.
A saída está no crescimento da
economia e no aumento da produção, de forma a ampliar a base
de tributação e elevar a receita
sem aumentar os impostos. Isso é
o que propõe nosso plano de governo.
É possível cumprir a meta de inflação de 2003 e baixar os juros ainda no primeiro semestre de 2003?
O diagnóstico é que, mesmo com
a crise mundial, estaríamos numa
situação muito melhor se as expectativas dos agentes econômicos e das pessoas normais não estivessem tão influenciadas por
um processo eleitoral no qual
aventureiros usaram falsas teses
sobre a economia como palavras
de ordem em seus palanques.
Temos uma sólida posição fiscal, um sistema financeiro saneado, um setor produtivo altamente
dinâmico e, nos últimos meses,
estamos construindo a inversão
de nosso déficit em transações
correntes.
A primeira tarefa do novo governo será restabelecer a confiança da sociedade, que ficou abalada
devido ao risco eleitoral e à falta
de clareza das propostas do PT.
Restaurada a confiança, o dólar
cairá rapidamente, a ameaça de
explosão inflacionária será desfeita e a taxa de juros poderá ser reduzida.
Como conciliar a retomada do
crescimento ainda em 2003, o controle da inflação, o aumento dos
gastos públicos devido à alta recente dos juros e do dólar e o cenário provável de crédito ainda restrito para o país, que deve impedir
uma valorização do real?
A primeira tarefa do novo governo seria consolidar a tendência de
redução do déficit em transações
correntes. José Serra fará isso por
meio de uma política ativa na busca de novos mercados para os
produtos brasileiros e por meio
da obsessão pelo crescimento das
exportações. A consolidação da
inversão do déficit em transações
correntes reduzirá a tensão no
mercado cambial e abrirá espaço
para uma maior estabilidade da
cotação do dólar e a redução da
taxa de juros interna.
Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV)-Eaesp, consultor da Tendências, ex-presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e um dos coordenadores do programa de governo de José Serra e respondeu às perguntas pelo candidato de seu
partido.
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