São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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Volta da confiança derruba juros, diz PSDB

A redução da inflação nos anos FHC tem relação com os aumentos dos juros e da dívida pública?
A inflação baixou graças ao Plano Real, que a partir de 1994 desmontou todos os mecanismos de indexação de preços e fortaleceu nossa moeda. Outras razões foram a credibilidade do governo federal e a confiança das pessoas no mais importante e bem-sucedido plano de estabilização econômica já realizado no Brasil. O governo federal conquistou apoio dos cidadãos, das empresas e dos governos estrangeiros às medidas adotadas. A taxa de juros foi empregada como instrumento de política financeira, a fim de controlar movimentos especulativos cujas origens não estavam no Brasil, mas nas fortes crises do sistema financeiro internacional. Foram raras as situações nas quais as taxas de juros foram aumentadas para conter a demanda interna e os preços.
O crescimento da dívida pública brasileira decorreu, em grande medida, da explicitação de passivos financeiros camuflados nas contas públicas federais, nas empresas estatais e na contabilidade de Estados e municípios. O governo aumentou a dívida mobiliária federal para assumir as dívidas dos Estados e livrá-los de elevadíssimos custos financeiros. Em troca, os Estados perderam suas máquinas de fabricar dinheiro (os bancos estaduais) e assumiram compromissos de gestão responsável a longo prazo.
O que garantiu a manutenção da baixa inflação foram o equilíbrio nas contas públicas, a modernização e a abertura da economia, mais os ganhos de produtividade das empresas brasileiras.

A fim de conter o crescimento da inflação, é preciso que o governo se aproxime ainda mais do equilíbrio entre suas despesas e receitas? É preciso cortar gastos em que setor do governo?
O equilíbrio entre receitas e despesas do governo é essencial, mas não o suficiente para manter a inflação baixa. Ao lado da estabilidade fiscal, é crucial manter as conquistas da política de flutuação do câmbio e o regime de metas inflacionárias.
O equilíbrio das contas públicas pode ser obtido por aumento de receitas, corte de despesas e da combinação desses dois fatores. Os cortes de despesas do governo devem ser evitados. Primeiro, pela dificuldade técnica de fazê-los, diante do grande número de despesas vinculadas às receitas existentes, vinculação determinada pela Constituição. Em segundo lugar, porque o Brasil precisa de investimentos em infra-estrutura, moradias, educação, saúde e assistência social.
A saída está no crescimento da economia e no aumento da produção, de forma a ampliar a base de tributação e elevar a receita sem aumentar os impostos. Isso é o que propõe nosso plano de governo.

É possível cumprir a meta de inflação de 2003 e baixar os juros ainda no primeiro semestre de 2003?
O diagnóstico é que, mesmo com a crise mundial, estaríamos numa situação muito melhor se as expectativas dos agentes econômicos e das pessoas normais não estivessem tão influenciadas por um processo eleitoral no qual aventureiros usaram falsas teses sobre a economia como palavras de ordem em seus palanques.
Temos uma sólida posição fiscal, um sistema financeiro saneado, um setor produtivo altamente dinâmico e, nos últimos meses, estamos construindo a inversão de nosso déficit em transações correntes.
A primeira tarefa do novo governo será restabelecer a confiança da sociedade, que ficou abalada devido ao risco eleitoral e à falta de clareza das propostas do PT. Restaurada a confiança, o dólar cairá rapidamente, a ameaça de explosão inflacionária será desfeita e a taxa de juros poderá ser reduzida.

Como conciliar a retomada do crescimento ainda em 2003, o controle da inflação, o aumento dos gastos públicos devido à alta recente dos juros e do dólar e o cenário provável de crédito ainda restrito para o país, que deve impedir uma valorização do real?
A primeira tarefa do novo governo seria consolidar a tendência de redução do déficit em transações correntes. José Serra fará isso por meio de uma política ativa na busca de novos mercados para os produtos brasileiros e por meio da obsessão pelo crescimento das exportações. A consolidação da inversão do déficit em transações correntes reduzirá a tensão no mercado cambial e abrirá espaço para uma maior estabilidade da cotação do dólar e a redução da taxa de juros interna.


Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV)-Eaesp, consultor da Tendências, ex-presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e um dos coordenadores do programa de governo de José Serra e respondeu às perguntas pelo candidato de seu partido.



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