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Lançado em julho de 94, o Real foi fundamental para levar FHC ao Planalto; mecanismo da âncora cambial foi mantido até o final de 98 para levar o presidente ao segundo mandato, mas foi substituído pelo câmbio flutuante em janeiro de 99
Anos FHC registram a menor inflação da história do Brasil
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A inflação registrada no Brasil
durante o governo Fernando
Henrique Cardoso foi a mais baixa já medida pelos índices de preços brasileiros. Criado em 1994, o
Plano Real pôs fim à hiperinflação
que assolava o país desde o final
dos anos 80 e foi fundamental para levar o ex-ministro da Fazenda
FHC à Presidência da República.
Dos índices de preços mais conhecidos, o IPC (Índice de Preços
ao Consumidor) medido pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) é o mais antigo,
tendo começado a ser calculado
em fevereiro de 1939. Desde então, nunca houve período de oito
anos com inflação tão baixa quanto a registrada nos anos FHC.
Em 1993, a inflação medida pela
Fipe na cidade de São Paulo havia
ficado em 2.491%. Vários fatores
explicavam essa alta, como o desequilíbrio das contas públicas e a
indexação da economia a índices
de preços, que acabava realimentando a inflação.
Implantado em julho de 1994, o
Plano Real teve como base a chamada âncora cambial. Esse mecanismo atrelava o valor da nova
moeda -o real- ao dólar.
"Quando se tem uma moeda
que perde seu poder de compra
rapidamente, o jeito mais seguro
de resolver o problema é ancorá-la numa moeda forte", diz o economista Juarez Rizzieri, da Fipe.
A inflação em São Paulo, que
em junho de 1994 havia sido de
50,8%, em agosto já havia caído
para 1,95%. A manutenção dessa
âncora cambial -que deixava a
cotação do dólar próxima de R$
1- foi favorecida pela abundância do capital que circulava na
economia mundial.
Na época, os Estados Unidos
davam início a um forte ciclo de
crescimento que durou quase dez
anos. O vigor da economia americana contagiou
os mercados internacionais: investidores,
com dinheiro de sobra, buscavam países
onde aplicar seus recursos.
Grande parte
desse dinheiro
veio parar no
Brasil. O forte
ingresso de dólares, principalmente na
forma de investimentos
diretos, ajudou
a manter a cotação do dólar
-e, consequentemente, a inflação- sob controle.
A situação mudou com a sucessão de crises que ocorreram no
mercado internacional. Elas começaram no México (94/95) e se
agravaram depois, quando foi a
vez dos países do Sudeste Asiático
(97) e da Rússia (98) assustarem o
mercado. As crises geraram uma
desconfiança do mercado internacional em relação aos países
emergentes, o que reduziu o fluxo
de dólares para o Brasil.
Isso obrigou o governo a elevar
os juros para níveis astronômicos
-superiores a
40% ao ano. O
objetivo era
continuar a
atrair capital
externo para
que a âncora
cambial fosse
mantida. Foi aí
que começaram a aparecer
os custos que a
estabilidade
dos preços
trouxe para o
restante da
economia. Os
juros elevados
fizeram com
que a dívida
pública mais
do que dobrasse: o endividamento da União, Estados, municípios
e estatais passou de R$ 153 bilhões
para R$ 386 bilhões entre 94 e 98.
"É um fato que a dívida aumentou para que fosse mantida a estabilidade", diz José Carlos Jacob de
Carvalho, coordenador de finanças públicas do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
Para o economista, FHC adiou,
por motivos políticos, reformas
fundamentais, como a previdenciária e a tributária, para o equilíbrio das contas públicas.
Embora tenha sofrido também
com o reconhecimento dos chamados "esqueletos" (dívidas antigas contraídas por governos anteriores), grande parte da explosão
da dívida se explica pelas altas taxas de juros nos últimos anos.
No final de 1998, quando a moratória decretada pela Rússia provocava a fuga de capitais do país, a
equipe econômica manteve o
câmbio controlado, à custa de fortes vendas de dólares saídos das
reservas do país, e promoveu, às
pressas, um ajuste fiscal baseado
no aumento da carga tributária.
Mesmo assim, a âncora cambial
não resistiu muito tempo. Diante
da pressão do mercado, o governo foi obrigado a adotar o câmbio
flutuante em janeiro de 99, duas
semanas depois de FHC iniciar
seu segundo mandato.
Desde então, o controle da inflação é feito por meio das taxas de
juros -hoje em 21% ao ano-,
apoiado por resultados fiscais primários (receitas menos despesas
do governo, com exceção dos gastos com juros) positivos.
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