São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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Lançado em julho de 94, o Real foi fundamental para levar FHC ao Planalto; mecanismo da âncora cambial foi mantido até o final de 98 para levar o presidente ao segundo mandato, mas foi substituído pelo câmbio flutuante em janeiro de 99

Anos FHC registram a menor inflação da história do Brasil

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A inflação registrada no Brasil durante o governo Fernando Henrique Cardoso foi a mais baixa já medida pelos índices de preços brasileiros. Criado em 1994, o Plano Real pôs fim à hiperinflação que assolava o país desde o final dos anos 80 e foi fundamental para levar o ex-ministro da Fazenda FHC à Presidência da República.
Dos índices de preços mais conhecidos, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) medido pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) é o mais antigo, tendo começado a ser calculado em fevereiro de 1939. Desde então, nunca houve período de oito anos com inflação tão baixa quanto a registrada nos anos FHC.
Em 1993, a inflação medida pela Fipe na cidade de São Paulo havia ficado em 2.491%. Vários fatores explicavam essa alta, como o desequilíbrio das contas públicas e a indexação da economia a índices de preços, que acabava realimentando a inflação.
Implantado em julho de 1994, o Plano Real teve como base a chamada âncora cambial. Esse mecanismo atrelava o valor da nova moeda -o real- ao dólar.
"Quando se tem uma moeda que perde seu poder de compra rapidamente, o jeito mais seguro de resolver o problema é ancorá-la numa moeda forte", diz o economista Juarez Rizzieri, da Fipe.
A inflação em São Paulo, que em junho de 1994 havia sido de 50,8%, em agosto já havia caído para 1,95%. A manutenção dessa âncora cambial -que deixava a cotação do dólar próxima de R$ 1- foi favorecida pela abundância do capital que circulava na economia mundial.
Na época, os Estados Unidos davam início a um forte ciclo de crescimento que durou quase dez anos. O vigor da economia americana contagiou os mercados internacionais: investidores, com dinheiro de sobra, buscavam países onde aplicar seus recursos.
Grande parte desse dinheiro veio parar no Brasil. O forte ingresso de dólares, principalmente na forma de investimentos diretos, ajudou a manter a cotação do dólar -e, consequentemente, a inflação- sob controle.
A situação mudou com a sucessão de crises que ocorreram no mercado internacional. Elas começaram no México (94/95) e se agravaram depois, quando foi a vez dos países do Sudeste Asiático (97) e da Rússia (98) assustarem o mercado. As crises geraram uma desconfiança do mercado internacional em relação aos países emergentes, o que reduziu o fluxo de dólares para o Brasil.
Isso obrigou o governo a elevar os juros para níveis astronômicos -superiores a 40% ao ano. O objetivo era continuar a atrair capital externo para que a âncora cambial fosse mantida. Foi aí que começaram a aparecer os custos que a estabilidade dos preços trouxe para o restante da economia. Os juros elevados fizeram com que a dívida pública mais do que dobrasse: o endividamento da União, Estados, municípios e estatais passou de R$ 153 bilhões para R$ 386 bilhões entre 94 e 98.
"É um fato que a dívida aumentou para que fosse mantida a estabilidade", diz José Carlos Jacob de Carvalho, coordenador de finanças públicas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Para o economista, FHC adiou, por motivos políticos, reformas fundamentais, como a previdenciária e a tributária, para o equilíbrio das contas públicas.
Embora tenha sofrido também com o reconhecimento dos chamados "esqueletos" (dívidas antigas contraídas por governos anteriores), grande parte da explosão da dívida se explica pelas altas taxas de juros nos últimos anos.
No final de 1998, quando a moratória decretada pela Rússia provocava a fuga de capitais do país, a equipe econômica manteve o câmbio controlado, à custa de fortes vendas de dólares saídos das reservas do país, e promoveu, às pressas, um ajuste fiscal baseado no aumento da carga tributária.
Mesmo assim, a âncora cambial não resistiu muito tempo. Diante da pressão do mercado, o governo foi obrigado a adotar o câmbio flutuante em janeiro de 99, duas semanas depois de FHC iniciar seu segundo mandato.
Desde então, o controle da inflação é feito por meio das taxas de juros -hoje em 21% ao ano-, apoiado por resultados fiscais primários (receitas menos despesas do governo, com exceção dos gastos com juros) positivos.



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