|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PT prevê juro menor e PIB maior já em 2003
A redução da inflação nos anos
FHC tem relação com os aumentos
dos juros e da dívida pública?
A inflação caiu logo no início do
primeiro governo Cardoso devido à eliminação dos indexadores
e à introdução de uma nova moeda, o real, na qual a sociedade depositava confiança. Assim foi eliminada a inércia que transmitia a
inflação de um mês para o outro,
através dos índices de correção.
Nos primeiros meses do Real foi
necessário manter juros elevados,
para moderar o consumo, que
costuma se elevar quando ocorre
uma redução brusca da inflação.
Porém, uma vez desmontada essa
pressão inicial, teria sido possível
moderar as taxas de juros. Mas
eles foram mantidos elevados para atrair capitais externos e cobrir
os déficits das contas externas, gerados por uma abertura indiscriminada e uma sobrevalorização
prolongada do real.
A fim de conter o crescimento da
inflação, é preciso que o governo se
aproxime ainda mais do equilíbrio
entre suas despesas e receitas? É
preciso cortar gastos em que setor
do governo?
O crescimento da inflação no segundo mandato do presidente
Cardoso não tem nada a ver com
a relação entre receita e despesa
do governo, mesmo porque foi
nesse período que o Orçamento
alcançou os maiores superávits
primários. Na verdade, os preços
subiram principalmente nos momentos de alta do dólar e de desvalorização do real, em 99, depois
em 2001 e agora no final de 2002.
Trata-se, portanto, de uma
pressão inflacionária causada pelos preços de energia, telecomunicações, gás e demais setores de
serviços públicos, com preços administrados. Essas tarifas, por
descuido do governo, são corrigidas pelo IGP-M, que tem forte indexação ao dólar. Deve-se também à alta da gasolina, assim como das chamadas commodities,
como trigo, soja, milho e outras
mercadorias comercializadas em
dólares no mercado internacional, que são matéria-prima para o
pão, farinha, massas e outros produtos de alto consumo.
Para reduzir a inflação é preciso
criar as condições para que o dólar caia, o que pode ser conseguido mediante a geração de maiores
saldos comerciais e a diminuição
da vulnerabilidade da economia.
Independentemente da questão
inflacionária, é possível reduzir
despesas, de modo a aumentar os
recursos disponíveis para investimentos e projetos sociais.
Uma das despesas que mais
oneram os cofres púbicos é a conta de juros -ou o serviço da dívida pública-, que pode cair com a
redução gradativa da taxa básica
de juros. A conta de juros a ser paga apenas pela União em 2003 é
da ordem de quase R$ 70 bilhões,
o que corresponde a duas vezes o
orçamento da Saúde e mais duas
vezes os gastos da Educação, tudo
somado. A racionalização dos
gastos com obras, aquisição de
material de consumo e contratação de serviços do governo, mediante o aperfeiçoamento das licitações, compras via internet e sobretudo com a erradicação de
desvios e da corrupção, podem
render mais recursos.
É possível cumprir a meta de inflação de 2003 e baixar os juros ainda no primeiro semestre de 2003?
A meta de inflação para 2003, estabelecida em 4%, já é dada como
superada pela maioria dos analistas, que trabalham com a previsão
de 5,5% do IPCA. Como de costume, o Banco Central trabalha com
metas irrealistas, excessivamente
baixas pelas condições da economia brasileira, que são ultrapassadas sistematicamente, o que leva
o Copom a praticar juros acima
do necessário.
A economia continua funcionando com taxas de juros exageradamente elevadas, mais do que
suficientes para manter a inflação
sobre controle. A rigor, não há
pressão de demanda na economia, porque o mercado consumidor está deprimido pela compressão da renda dos brasileiros.
Como conciliar a retomada do
crescimento ainda em 2003, o controle da inflação, o aumento dos
gastos públicos devido à alta recente dos juros e do dólar e o cenário provável de crédito ainda restrito para o país, que deve impedir
uma valorização do real?
Essa pressão inflacionária que
vem do câmbio vai ceder quando
o novo governo restaurar a credibilidade perdida da economia
brasileira, reduzir a vulnerabilidade e diminuir a nossa dependência de capitais externos. Com uma
política mais eficiente de comércio exterior e fortes estímulos à
produção brasileira, é possível, já
no próximo ano, alcançar superávits comerciais acima de US$ 15
bilhões e inverter a trajetória ascendente do dólar. Nessas condições, a inflação perderá seu combustível principal e deverá se acomodar num patamar menor que a
de 2002, possibilitando crescimento de 3% a 3,5% em 2003.
Guido Mantega é assessor econômico
de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), professor da Fundação Getúlio Vargas e respondeu às questões da Folha pelo candidato de seu partido.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Datafolha: As razões do voto no primeiro turno Índice
|