São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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DATAFOLHA

Pesquisa mostra que brasileiros vêem eleição disputada agora entre o candidato que representa a "mudança" e o que significa a "continuidade"

As razões do voto no primeiro turno

RENATO FRANZINI
DA REDAÇÃO

O Brasil terá no segundo turno da eleição presidencial um candidato "da mudança" contra outro "da continuidade". Isso parece, mas não é discurso de marqueteiro. Está na cabeça do eleitor.
Segundo mostra a última pesquisa Datafolha, feita na sexta-feira passada, os eleitores que dizem ter votado em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 6 de outubro citam principalmente, para justificar a sua decisão, razões que demonstram expectativas futuras.
Em contraste, os eleitores de primeiro turno de José Serra (PSDB) falam de realizações ligadas à administração de Fernando Henrique Cardoso.
Na pesquisa, os entrevistados podiam citar espontaneamente um ou mais motivos -não havia uma lista prévia com alternativas para escolha.
Dos que dizem ter votado em Lula, os cinco motivos mais mencionados foram: propostas de geração de empregos (por 30% dos eleitores do petista); para mudar/ ter um governo diferente (29%); voto de confiança (15%); propostas na área social (12%); e simpatia ideológica (11%).
Dos que dizem ter votado em Serra, o resultado foi: desempenho no Ministério da Saúde (27%); bom desempenho no governo (sem explicitar se na pasta da Saúde ou na do Planejamento, 15%); propostas de geração de empregos (13%); dará continuidade ao governo FHC (12%); e propostas para a saúde (10%).
Alguns desses resultados são agrupamentos de diversas respostas parecidas.
Por exemplo, dos 27% de eleitores de Serra que citaram o desempenho do tucano na Saúde, quase um terço (8%) fala especificamente no programa de medicamentos genéricos implementado pelo ex-ministro.
Dos 15% que dizem ter dado um voto de confiança em Lula, 4% dizem fazer isso pelo fato de o candidato do PT ter tentado várias vezes ser eleito.

Garotinho e Ciro
Se a imagem que o eleitor de Lula faz dele é claramente de oposição -e, no caso de Serra, de situação-, os candidatos que ficaram em terceiro e em quarto lugares no primeiro turno receberam votos por razões diferentes.
O terceiro, Anthony Garotinho (PSB), teve como principal motor de votos a religião. De seus eleitores, 27% dizem ter feito uma escolha religiosa -24% afirmam ter votado no candidato do PSB por ele ser evangélico, e 3%, por ele ser temente a Deus.
Suas propostas de elevação do salário mínimo e criação de restaurantes populares também surtiram efeito: 21% dos eleitores de Garotinho dizem tê-lo escolhido porque ele aumentou ou prometia aumentar salários, e 6% especificamente pelos restaurantes que vendem refeições a R$ 1.
No caso de Ciro Gomes (PPS), que ficou em quarto, a principal razão única para votar nele foi seu plano de governo, citado por 17% de seus eleitores.
Mas quando o Datafolha agrupa respostas que dizem respeito à imagem pessoal do candidato, elas somam 38% dos entrevistados que dizem ter escolhido Ciro.
Nesses 38%, estão incluídos os 12% que consideram Ciro competente/eficiente, os 10% que viram nele um homem bem-informado/culto/inteligente, e os 8% que acham ele honesto/verdadeiro.
Mas nem Garotinho nem Ciro são colocados explicitamente como oposição ou situação.
Apenas 3% dos eleitores de Garotinho e 5% dos de Ciro dizem ter votado neles por representar mudança (no caso de Lula, essa taxa atinge 29%).
Ciro ainda foi visto como continuação do governo FHC por 1% de seus eleitores.
Talvez isso explique o fato de que os votos de ambos foram divididos de modo uniforme entre Lula e Serra no segundo turno.
Nessa pesquisa feita no dia 11, dos eleitores declarados em Garotinho, 41% disseram que pretendem votar em Lula, e 42%, em Serra.
No caso dos que dizem ter votado em Ciro, 42% escolheram Lula, e outros 42%, Serra.
Na pesquisa, Lula obteve 58% do total de intenções de voto no segundo turno, contra 32% de Serra.


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