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MINISTRA NO FOGO
Lula afirma que se reunirá com ela nesta segunda-feira em Brasília para resolver crise no ministério
Benedita anuncia devolução de dinheiro
GABRIELA ATHIAS
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ministra Benedita da Silva
(Assistência e Promoção Social)
anunciou ontem à noite que vai
depositar em juízo a quantia equivalente ao que gastou na viagem
que fez no dia 24 de setembro a
Buenos Aires.
"Eu provarei que essa viagem
oficial que fiz à Argentina tem
fundamento. Quero pôr um ponto final nessa questão, porque não
deixarei que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva sofra constrangimento e manipulações de
ordem política", afirmou a ministra, em rápido pronunciamento,
na saída do seu ministério.
O anúncio foi feito depois que o
vice-presidente da República, José Alencar, disse a Benedita que
arcaria com os gastos da viagem,
caso a ministra quisesse (leia texto
ao lado).
Benedita disse também que já
orientou seu advogado a defendê-la perante a Comissão de Ética
Pública, órgão vinculado à Presidência da República que recomendou a devolução do dinheiro
aos cofres públicos.
A mesma sugestão vinha sido
feita pelo presidente do PT, José
Genoino, e pelo controlador-geral
da União, Waldir Pires, mas Benedita não queria devolver o dinheiro por achar que isso equivaleria a uma confissão de culpa.
Nem a ministra nem sua assessoria informaram o valor do depósito nem quando será feito.
A ministra argumenta que realizou uma viagem de trabalho e
classifica de "erro administrativo"
o fato de a autorização, publicada
no "Diário Oficial" da União, ter
mencionado apenas um encontro
religioso.
Só com as passagens aéreas, Benedita e uma assessora teriam
gastado cerca de R$ 4.500; a diária
no exterior é de US$ 300.
Reunião com Lula
Em viagem à Argentina, Lula
afirmou que resolverá a situação
da ministra num encontro com
ela nesta segunda-feira.
"Eu pretendo conversar com a
Benedita sobre isso na segunda-feira para tomar uma decisão.
Não posso, a tantos quilômetros
de distância, numa sexta-feira e
diante de uma visão extraordinária como essa, resolver um problema assim pelo telefone", disse
Lula ontem, em visita à geleira Perito Morena, na Patagônia.
Questionado se Benedita deveria deixar o cargo por causa do
episódio, o presidente respondeu:
"Vamos resolver isso conversando com a ministra. E ela própria
saberá qual posição tomar".
Benedita, no entanto, espera se
encontrar com Lula ainda neste
fim de semana. A chegada do presidente estava prevista para as
23h45 de ontem. O próprio Lula
pediu a ela que esperasse sua chegada antes de tomar qualquer decisão. A ministra telefonou para
Lula na Argentina quando recebeu o ofício em que a Comissão
de Ética recomendava a devolução do dinheiro.
No telefonema, Benedita considerou injusto que a comissão tivesse se posicionado antes de ouvi-la e disse que faria questão de se
defender.
Mas a insatisfação de Benedita
não se resume à Comissão de Ética. Anteontem, em meio à crise
provocada pela sugestão de devolução do dinheiro, Benedita foi informada de que um emissário do
ministro José Dirceu (Casa Civil)
havia procurado a coordenadora-técnica da Unesco, Marlova Noleto, para convidá-la para ocupar o
segundo cargo na hierarquia do
seu ministério, o cargo de secretário-executivo.
O convite, feito à revelia de Benedita da Silva, foi interpretado
como uma preparação para sua
saída do cargo.
A ministra enfrenta também
problemas com o Ministério Público Federal, que agora quer informações sobre todas as viagens
que ela realizou desde o início do
governo.
Até agora, o Palácio do Planalto
vem orientando a ministra a permanecer no cargo até dezembro,
quando está prevista a reforma
ministerial. A ministra vem seguindo essa orientação, mas seus
assessores não descartam a possibilidade de ela não suportar o desgaste a que vem sendo submetida
e entregar o cargo.
Um assessor do Planalto afirmou que Benedita, se deixar o
cargo agora, vai deixar o presidente Lula "com uma batata
quente na mão", porque não há
neste momento o que fazer com
sua pasta.
O Ministério da Assistência e
Promoção Social não tem dinheiro e, portanto, nenhum peso político. A principal atribuição do ministério, que seria a coordenação
da unificação dos programas de
transferência de renda, foi transferida para uma secretaria vinculada diretamente à Presidência da
República.
Nesta segunda-feira, Lula vai
oficializar a unificação -o programa Bolsa-Família- em cerimônia no Palácio do Planalto.
Uma eventual demissão de Benedita da Silva, além de ofuscar um
evento que vem sendo preparado
há meses, deixa acéfalo um ministério que está no centro do programa social do governo, embora
sem função clara.
Colaborou ELAINE COTTA, enviada especial a Calafate (Argentina)
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