UOL

São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MINISTRA NO FOGO

Lula afirma que se reunirá com ela nesta segunda-feira em Brasília para resolver crise no ministério

Benedita anuncia devolução de dinheiro

GABRIELA ATHIAS
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ministra Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social) anunciou ontem à noite que vai depositar em juízo a quantia equivalente ao que gastou na viagem que fez no dia 24 de setembro a Buenos Aires.
"Eu provarei que essa viagem oficial que fiz à Argentina tem fundamento. Quero pôr um ponto final nessa questão, porque não deixarei que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofra constrangimento e manipulações de ordem política", afirmou a ministra, em rápido pronunciamento, na saída do seu ministério.
O anúncio foi feito depois que o vice-presidente da República, José Alencar, disse a Benedita que arcaria com os gastos da viagem, caso a ministra quisesse (leia texto ao lado).
Benedita disse também que já orientou seu advogado a defendê-la perante a Comissão de Ética Pública, órgão vinculado à Presidência da República que recomendou a devolução do dinheiro aos cofres públicos.
A mesma sugestão vinha sido feita pelo presidente do PT, José Genoino, e pelo controlador-geral da União, Waldir Pires, mas Benedita não queria devolver o dinheiro por achar que isso equivaleria a uma confissão de culpa.
Nem a ministra nem sua assessoria informaram o valor do depósito nem quando será feito.
A ministra argumenta que realizou uma viagem de trabalho e classifica de "erro administrativo" o fato de a autorização, publicada no "Diário Oficial" da União, ter mencionado apenas um encontro religioso.
Só com as passagens aéreas, Benedita e uma assessora teriam gastado cerca de R$ 4.500; a diária no exterior é de US$ 300.

Reunião com Lula
Em viagem à Argentina, Lula afirmou que resolverá a situação da ministra num encontro com ela nesta segunda-feira.
"Eu pretendo conversar com a Benedita sobre isso na segunda-feira para tomar uma decisão. Não posso, a tantos quilômetros de distância, numa sexta-feira e diante de uma visão extraordinária como essa, resolver um problema assim pelo telefone", disse Lula ontem, em visita à geleira Perito Morena, na Patagônia.
Questionado se Benedita deveria deixar o cargo por causa do episódio, o presidente respondeu: "Vamos resolver isso conversando com a ministra. E ela própria saberá qual posição tomar".
Benedita, no entanto, espera se encontrar com Lula ainda neste fim de semana. A chegada do presidente estava prevista para as 23h45 de ontem. O próprio Lula pediu a ela que esperasse sua chegada antes de tomar qualquer decisão. A ministra telefonou para Lula na Argentina quando recebeu o ofício em que a Comissão de Ética recomendava a devolução do dinheiro.
No telefonema, Benedita considerou injusto que a comissão tivesse se posicionado antes de ouvi-la e disse que faria questão de se defender.
Mas a insatisfação de Benedita não se resume à Comissão de Ética. Anteontem, em meio à crise provocada pela sugestão de devolução do dinheiro, Benedita foi informada de que um emissário do ministro José Dirceu (Casa Civil) havia procurado a coordenadora-técnica da Unesco, Marlova Noleto, para convidá-la para ocupar o segundo cargo na hierarquia do seu ministério, o cargo de secretário-executivo.
O convite, feito à revelia de Benedita da Silva, foi interpretado como uma preparação para sua saída do cargo.
A ministra enfrenta também problemas com o Ministério Público Federal, que agora quer informações sobre todas as viagens que ela realizou desde o início do governo.
Até agora, o Palácio do Planalto vem orientando a ministra a permanecer no cargo até dezembro, quando está prevista a reforma ministerial. A ministra vem seguindo essa orientação, mas seus assessores não descartam a possibilidade de ela não suportar o desgaste a que vem sendo submetida e entregar o cargo.
Um assessor do Planalto afirmou que Benedita, se deixar o cargo agora, vai deixar o presidente Lula "com uma batata quente na mão", porque não há neste momento o que fazer com sua pasta.
O Ministério da Assistência e Promoção Social não tem dinheiro e, portanto, nenhum peso político. A principal atribuição do ministério, que seria a coordenação da unificação dos programas de transferência de renda, foi transferida para uma secretaria vinculada diretamente à Presidência da República.
Nesta segunda-feira, Lula vai oficializar a unificação -o programa Bolsa-Família- em cerimônia no Palácio do Planalto. Uma eventual demissão de Benedita da Silva, além de ofuscar um evento que vem sendo preparado há meses, deixa acéfalo um ministério que está no centro do programa social do governo, embora sem função clara.


Colaborou ELAINE COTTA, enviada especial a Calafate (Argentina)

Texto Anterior: Choque entre os poderes: Reforma deve elevar carga fiscal, diz Corrêa
Próximo Texto: Lula diz que vai resolver caso Benedita na 2ª
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.