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São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2003

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CAMPO MINADO

Em dossiê entregue a Nilmário Miranda, ONG denuncia ameaças de morte a integrantes do MST no Estado

Panfleto prega "caça aos sem-terra" no Paraná

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

A organização não-governamental Terra de Direitos entregou ontem, em Curitiba (PR), ao secretário Especial de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, um dossiê em que denuncia ameaças de morte a integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Ortigueira (região central do Paraná).
No dossiê, a entidade anexou cópia de um panfleto que tem assinatura falsa e anuncia a "abertura da temporada de caça aos sem-terra" no interior do Paraná.
O panfleto, distribuído nas últimas semanas em Ortigueira, é assinado por uma entidade inexistente, a USPR (União dos Sindicatos do Paraná), e declara "aberta a temporada de caça ao sem-terra". Abaixo de uma ilustração -em que aparece um homem disparando contra outro com camiseta do MST e boné do PT-, informa que a recompensa será a paz no campo.
Leandro Franklin Gorsdorfo, da Terra de Direitos, disse que à distribuição dos panfletos se seguiram ameaças "veladas e diretas" a três coordenadores do MST na região de Ortigueira, Valdecir Bordignon, Cláudio Antônio e Ademilson Rizzo.

Ameaças
As ameaças contra os três foram transmitidas por comerciantes e moradores da cidade que mantêm contatos com os militantes do MST. Na semana passada, o filho de Rizzo, Alisson Rizzo, 13, foi interceptado por um carro com três homens, que seriam seguranças de fazendeiros com uma "ameaça direta de morte ao pai", disse Gorsdorfo.
O ministro Nilmário Miranda se comprometeu a encaminhar o dossiê ao Ministério da Justiça e à Polícia Federal para as "devidas providências", segundo Gorsdorfo. A organização Terra de Direitos encaminhou cópias das denúncias também para o Ministério Público Federal, para o Ministério Público do Paraná e para a Superintendência da Polícia Federal no Paraná.
Ontem, a promotora de Justiça Daniele Cristine Cavalli e a delegada da Polícia Civil do município, Gisele Mara Dorigan, estavam fora de Ortigueira. Na Polícia Civil, a informação era que Dorigan só retornaria na noite de ontem à cidade.
Na cidade, não existe ainda inquérito aberto para apurar a origem do panfleto e das ameaças contra os sem-terra.

Foco de tensão
Com 435 famílias (cerca de 1.700 pessoas) assentadas em três acampamentos -Estrela, Libertação Camponesa e Padre Josimo- e com um acampamento com outras 200 famílias (cerca de 800 pessoas), o município de Ortigueira se tornou, nos últimos meses, o mais novo foco de tensão agrária no Paraná.
Na última terça-feira, na mesma região, mas no município de Palmital, uma operação da Polícia Federal apreendeu 66 armas, parte delas de uso restrito das Forças Armadas, e prendeu oito pessoas por porte ilegal de arma e formação de quadrilha.
A ação contou com 180 homens, um helicóptero e apoio de policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais) da PM do Paraná. Entre os presos estavam fundadores do Primeiro Comando Rural, organização criada por fazendeiros para combater o MST na região central do Paraná.

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