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Na Inglaterra, estudiosos criticam impunidade em mortes no campo
EDUARDO SCOLESE
DA AGENCIA FOLHA,
EM OXFORD (REINO UNIDO)
Dois focos dominaram as discussões da conferência realizada
ontem no Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, no Reino Unido: a impunidade de que gozam os responsáveis pelos assassinatos de trabalhadores rurais no Brasil e o processo de favelização dos assentamentos da reforma agrária.
O encontro reuniu professores
de diversos países com estudos
sobre a reforma agrária brasileira
e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Além de acadêmicos do Brasil e
do Reino Unido, havia representantes dos EUA, do México, da
França e da Bélgica.
A prova de fogo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem
hoje em relação ao lançamento ou
não de um novo PNRA (Plano
Nacional de Reforma Agrária), os
limites governamentais em torno
da desapropriação de terras devido ao acordo com o FMI e o histórico do MST dominaram as perguntas de cerca de 50 pessoas, a
maioria estudantes, que acompanharam a conferência.
"É um governo limitado tanto
pelos interesses nacionais e internacionais, pois a sua política econômica está definida sem possibilidade de variação. O acordo com
o FMI é um caso. As lutas vão ser
iguais ao governo Cardoso [Fernando Henrique, 1995-2002]",
disse o professor de ciências políticas Joe Foweraker, da Universidade de Essex.
Miguel Carter, coordenador do
evento e doutor em ciência política pela Universidade de Columbia (EUA), a respeito da origem
do MST, disse que Lula tem no
PNRA uma prova aguardada pelos movimentos sociais. "A aprovação desse plano é a chave para
definir o perfil do governo. O Brasil tem uma dívida histórica para
fazer a reforma agrária e tem uma
desigualdade imensa."
Do Brasil, participaram do
evento o geógrafo Bernardo Mançano Fernandes (Unesp), o engenheiro agrônomo Horácio Martins de Carvalho, Hamilton Pereira (Fundação Perseu Abramo),
Guilherme Delgado (Ipea) e o advogado Carlos Guedes Amaral, da
Assembléia Legislativa do Rio
Grande do Sul.
Wendy Wolford, do departamento de geografia da Universidade da Carolina do Norte (EUA),
apresentou um trabalho que realizou durante visita a assentamentos da Zona da Mata, no Nordeste,
principalmente em Pernambuco:
"Em contato com os assentados
percebe-se que a primeira intenção deles, quando conseguiram a
terra, era uma espécie de estabilidade social", declarou ela.
Segundo Wolford, as questões
da terra e da produção agrícola estão em segundo plano. "A conquista da terra é uma vitória social
para eles. Trata-se de uma resistência política. Depois, passam a
uma vida que consideram melhor, mas em condições muito
precárias, com problemas de água
e energia elétrica."
Sobre favelização dos assentamentos rurais falou a antropóloga
espanhola Elena Calvo González,
da Universidade de Edinburgh.
"Quando há os problemas de
falta de infra-estrutura, a dificuldade de produzir, entre outros,
acontece o seguinte: o assentado
culpa o líder do assentamento,
que culpa o representante do
MST. Todos juntos, porém, culpam o governo pelo fracasso do
assentamento", disse.
Impunidade
O sociólogo George Meszaros,
da Universidade de Warwick, disse que a impunidade no país em
relação aos crimes no campo chega ao Reino Unido como "escandaloso". Para ele, a falta de punição "é absolutamente intolerável
e repercute negativamente".
Sobre o futuro da reforma agrária brasileira, as respostas dos
pesquisadores do país foram, em
geral, pessimistas. Para Bernardo
Mançano Fernandes, professor
de geografia da Unesp, os indicadores não são positivos.
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